Por Rodrigo Fontenelle de A. Miranda1
O ano novo se aproxima e além da preocupação com presentes de Natal, Ceia, Reveillon e férias, as pessoas freqüentemente se questionam também sobre as perspectivas do nosso País para o ano vindouro. Inflação, crescimento econômico, dólar, desemprego. Estes são apenas alguns indicadores macroeconômicos que são amplamente divulgados pela mídia e que chamam a atenção não só de economistas, mas de toda a população.
A julgarmos pelas últimas notícias sobre a economia brasileira, poderíamos esperar um ano de 2005 fantástico. Recentemente o País vem apresentando indicadores econômicos bastante favoráveis. O dólar, abaixo de R$ 2,80, não pressiona os preços e alivia os indicadores de inflação. Esta, ao que tudo indica, ficará pouco acima de 7% no ano, dentro da margem de tolerância admitida pelo Banco Central. O risco Brasil vem se estabilizando em torno de 400 pontos-base, o que embora ainda seja alto, é um feito extraordinário se compararmos com os níveis que atingimos nos últimos anos. A balança comercial não pára de quebrar recordes e deve apresentar superávit superior a US$ 30 bilhões e até o saldo em transações correntes será superavitário este ano. Por fim, ao que tudo indica cresceremos acima de 5% este ano, o que seria o maior crescimento desde a implantação do Plano Real.
Entretanto, é bom não se esquecer de que no final do ano 2000, após apresentarmos crescimento superior a 4%, bons indicadores macroeconômicos e desvalorizarmos nossa moeda no ano anterior, acreditávamos que estávamos iniciando o tão sonhado crescimento sustentado. Infelizmente, o que se viu em 2001 foi um crescimento pouco superior a 1% e uma deterioração de praticamente todos os índices de nossa economia.
Alguns fatores hoje são bem diferentes dos daquela época. Não apresentamos mais os chamados déficits gêmeos (na balança comercial e em transações correntes) e ao que tudo indica não seremos “pegos de surpresa” por outro apagão. As condições são favoráveis ao Brasil, mas não podemos deixar que o otimismo nos impeça de analisarmos de forma mais realista o que ainda deve ser feito.
Os últimos dois anos foram extremamente propícios aos países emergentes. Ao que tudo indica, esta fase internacional de “vacas gordas” está acabando. A turbulência no Oriente médio – que afeta o preço do Petróleo – e principalmente os altos déficits apresentados pelos EUA podem fazer com que toda a economia tenha que se adaptar a este novo cenário, de dólar desvalorizado. As conseqüências disso ainda não sabemos, mas devemos estar preparados para cenários adversos. Precisamos inverter essa tendência de alta da taxa de juros para que o ânimo dos empresários em investir não seja afetado. Além disso, é imprescindível que investimentos sejam feitos na área de infra-estrutura, seja através de PPPs ou mesmo com recursos do governo. Do contrário, podemos novamente ter “surpresas” como em 2001, atrapalhando assim tudo o que já foi feito no sentido de produzirmos mais, exportarmos mais, e conseqüentemente crescermos mais.
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1Rodrigo Fontenelle de A. Miranda, economista formado pela UFMG, CBA pelo IBMEC. Sócio – Diretor da Agrotec Inseminação Artificial LTDA