Os preços do boi gordo seguem em alta em todo o Brasil, em período que tradicionalmente era de safra, ou seja, oferta abundante. Os preços de reposição também seguem em alta, há mais de um ano com altas diárias. O único motivo para altas tão significativas é que a oferta está menor que a procura, pelos dois motivos possíveis: baixa oferta e alta demanda. Analisando-se a situação atual é possível que a maior rentabilidade do setor se concentre no mercado interno em detrimento do mercado externo.
Os preços do boi gordo seguem em alta em todo o Brasil, em período que tradicionalmente era de safra, ou seja, oferta abundante. Os preços de reposição também seguem em alta, há mais de um ano com altas diárias. O único motivo para altas tão significativas é que a oferta está menor que a procura, pelos dois motivos possíveis: baixa oferta e alta demanda. Os abates oficiais, levantados pelo SIF, estão em baixa. O ano de 2008 está começando com abates muito menores que em 2007. Comparando-se janeiro e fevereiro de 2008 com o mesmo período de 2007, os abates estão 21,8% menores.
No gráfico abaixo é possível observar que em 2007, os cinco primeiros meses do ano foram melhores que 2006, mas de junho em diante a situação se inverteu. Em 2008, o volume de abate estão menores que 2006.
Gráfico 1. Abates mensais no Brasil
O crescimento de 6,5% no consumo das famílias brasileiras em 2007 superou a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2007, que foi de 5,4%. Ou seja, o aumento do consumo da população foi o principal impulsionador da economia brasileira. Agora em março temos o novo salário mínimo, R$ 415,00, proporcionando maior consumo nas populações de mais baixa renda.
Com isso, a demanda segue em alta. No mercado interno, os preços seguem firmes, com a carne no varejo alcançando preço médio em fevereiro/08 de R$ 10,76/kg, segundo o Dieese, bem próximo do valor máximo desde 2002 (R$ 11,04/kg de novembro passado). No atacado, o equivalente físico valeu em fevereiro R$ 66,06/@, próximo do valor máximo desde 2002, R$ 67,26, obtido em novembro passado.
As indicações são de que o consumo no mercado interno está muito aquecido, para todos os nichos de mercado. Frigoríficos reportam venda de cortes de picanha “premium” a preços acima de R$50,00/kg no varejo, com forte demanda por esse produto, ou seja, se tivessem mais no mesmo padrão, haveria mercado.
Exportações
No mercado externo, o preço da carne exportada segue em alta, pois a demanda mundial está aquecida, graças ao aumento da renda nos países em desenvolvimento e recordes nos preços do petróleo que já ultrapassa dos US$ 100/barril. A Abiec tem como foco, em 2008, os países produtores de petróleo como Rússia, Emirados Árabes, Argélia e mais recentemente Venezuela.
No entanto, a rentabilidade das exportações vem sendo reduzida pelo aumento dos preços do boi gordo e valorização do real. Mesmo com o aumento do preço médio da carne exportada. A valorização da arroba do boi gordo causou recuo na relação de troca arrobas por tonelada de carne in natura exportada. Em fevereiro foi possível adquirir 76,69 arrobas de boi gordo com o valor de uma tonelada de carne exportada, valor abaixo da média dos últimos 12 meses (86,10@/ton). A média 2002-08 está acima bem acima do valor atual, cerca de 100@/ton.
Além disso, o Brasil não conseguiu se adequar ou negociar as exigências da União Européia em relação a rastreabilidade, impedindo exportação de carne para o bloco em fevereiro e março. Os primeiros animais oriundos das cerca de 100 fazendas habilitadas começam a ser abatidos essa semana, ainda em volume muito pequeno.
Em relação a UE, dois pontos interessantes são a exportação de mais quilos de carne por animal abatido e grande diferencial de preço obtido pelos pecuaristas. Como o preço da carne bovina na UE subiu muito, mesmo com as altas taxas de importação parece estar valendo a pena exportar outros cortes in natura (não apenas contra-filé, filé-mignom e alcatra). Como estimado no artigo anterior, o sobre-preço nas primeiras negociações de gado de fazendas ERAS auditadas e habilitadas ficou R$ 10-12 acima do preço de mercado. Um diferencial acima de 10%, ainda não encontrado em outras negociações.
Outra tendência que pode ajudar o Brasil nas exportações é a maior demanda por alimentos na China. O país tem demanda crescente por alimento e dois fatores podem acelerar e muito as exportações brasileiras de carne bovina. O primeiro é a proximidade dos jogos olímpicos. Muitos turistas e muita demanda por alimentos padronizados, seguros e com qualidade, devem ser uma “ajuda extra” para acelerar e facilitar a entrada de carne brasileira no grande país asiático. Outro fator é a restrição por água que a China enfrenta, dia após dia. Cidades crescem e problemas de fornecimento como: escassez, poluição e contaminação também aumentam. É muito provável que a agro-pecuária sofra restrições, abrindo espaço para mais importações.
Produção
Os preços recordes do bezerro indicam que a reposição continua restrita e difícil, dificultando o rápido aumento da oferta de gado gordo. Com isso não é de se esperar grandes recuos no preço do boi nos próximos meses. É bastante provável que até maio a oferta de gado gordo aumente, diminuindo a pressão por novas altas. No momento em que escrevo esse artigo, mais de 50% dos leitores do BeefPoint que participam de nossa enquete acreditam que o preço do boi gordo em maio/2008 em SP ficará acima de R$ 77,00/@.
Ao se analisar o comportamento do preço do contrato futuro para abril/2008 desde novembro do ano passado, percebe-se que a expectativa de preço aumentou desde então, enquanto que o preço do boi, mesmo com flutuações, se manteve mais estável. Ou seja, no final do ano passado não se esperava que o preço do boi iria subir tanto.
Gráfico 2. Indicador Esalq/BM&F boi gordo à vista x contratos futuros para abril/08
Analisando-se a situação atual de produção (abate) muito abaixo dos valores de 2007, grande demanda por carne bovina e real valorizado é possível que a maior rentabilidade do setor se concentre no mercado interno em detrimento do mercado externo. Ao se comparar os indicadores de margem bruta no mercado interno (spread entre equivalente físico e preço do boi gordo) e externo (relação de troca @/tonelada exportada), percebe-se que o primeiro está mais favorável para os frigoríficos que o segundo.
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Realmente parece que a tendência este ano é o mercado interno, mas ainda tem “muita água pra rolar” até o final do ano, talvez consigamos abocanhar um pouco outros mercados como o asiático, na verdade a demanda do mercado interno é muito grande e agora com aumento do mínimo vai dar uma aquecida neste seguimento, porém com preço da arroba em alta alguns consumidores terão cautela na hora da compra no supermercado ou opinarão por outros produtos, como o frango, peixe,etc.Mas mesmo assim temos que resgatar o mercado externo, pois é ele que impulsiona a nossa economia, ocasionando aumento na produtividade e qualidade de nossos produtos.
Miguel, muchas felicitaciones! excelente artículo.
Me llamó la atención el precio que se verifica al consumo actualmente. Si me preguntaran donde ubicaría ese precio, diría que el actual era el mayor desde 1999, pero parecería que en 2002 hubieron precios mayores?
Un abrazo y nuevamente felicitaciones
Bom Dia!
Pergunto aos senhores:
Existe algum controle,fiscalização,inspeção de algum orgão na fonte,ou seja,nos
frigoríficos de mercado interno ou externo para garantir que a informação que
está no rótulo corresponda ao seu conteúdo?
Os frigoríficos de mercado interno se abastecem basicamente de fêmeas e nas minhas andanças pela minha região onde estes frigoríficos de mercado interno atuam forte, até hoje não encontrei um produto que diz no rótulo fêmea, são muitos pontos de vendas todos os rótulos informam macho.
Então, pergunto o que eles fazem com as fêmeas?
Hoje o boi gordo que custa R$ 76,00 arroba e a arroba da vaca R$ 67,00.
Obrigado pelo espaço, parabéns pelo trabalho competente.
O mercado interno, sem sombra de dúvidas, sempre foi o maior cliente da pecuária nacional, longe do segundo, tanto que consome 80% de toda a produção do maior plantel comercial do mundo pagando por um kilo de carne R$10,76, que é uma @ de R$161.40, sem reclamar e sabendo que o produtor está vendendo, todos os jornais publicam diariamente,a R$ 72.00/@ o boi, e ser fôr vaca a R$62.00.
Os intermediários, frigoricos, governo, atacado e varejo estão massacrando o produtor e o consumidor. Cuidado, estes preços podem chamar atenção e muitos produtores podem montar o seu próprio açougue, vários frigoríficos pequenos fazem abates terceirizados, em troca da barrigada branca, miúdos e limpeza em geral, e ainda pagam a metade do couro, sem contar que entregam a carcaça resfriada na porta do açougue com nota tirada sem cobrar nada por isto, aí sim vai ficar bom, e ainda vamos vender novilha e vaca a preço de boi, já que a tabela é uma só, à vista e não vamos mais ter medo de balança.
E viva o mercado interno.
Miguel parabéns pelo artigo !
O varejo vem sofrendo muito na ponta. Como o preços de custo estão elevados nossa margem está bem abaixo do que anos anteriores. As margens ficam apertadas para tentar não deixar que o volume diminua tanto.
Acho que o varejo é quem mais está sofrendo com o preço atual da carne.
Acho que um ponto importante que não foi comentado é a saida de animais vivos, principalmente no estado do Pará. Que é bom para o pecuarista, mas para cadeia como um todo não, pois os empregos da industria, o couro e mais agregados do abate vão embora junto com o navio .
Olá Miguel,
Parabéns pelo artigo. Estou de acordo com o meu conterraneo de Recife o Sr. Erwin, vejo que o maior problema ficou para o varejo, onde as margens praticadas estao em baixa e o comprador hoje fica sem saida nas negociações com os frigorificos.
A saida de animais vivos está aumentando e dificultando ainda mais a nossa negociação junto aos frigorificos.
Tenho Casa de Carne e Distribuicao aqui em Recife e observamos isso dia a dia, como esta dificil manter as margens, e principalmente agora que esperavamos tirar a diferença pelo aumento significativo no final do ano passado.
Obrigado,
Até Mais.
Parabéns Miguel pela análise em que você registra a redescoberta do mercado interno neste ano que começou cheio de problemas com as vendas para a União Européia. Foi muito importante você ter destacado a possibilidade de abastecer a UE com outros cortes cárneos além de filé, contrafilé e alcatra.
Agora, com relação à carne proveniente de fazendas habilitadas cuja exportação está sendo tão noticiada, em que cada frigorífico exportador com um pé em Minas Gerais deve ter feito um esforço gigantesco para conseguir algumas toneladas exportáveis, deveria ser feita uma avaliação objetiva do que isso representa de fato.
Me preocupa que essas minúsculas exportações sejam apenas uma jogada de marketing para mostrar que o canal de comercialização já está desobstruído, o que seria até justo se não criasse expectativas que não se viabilizem rapidamente.
O que todo mundo gostaria mesmo de saber é se a UE habilitará mais fazendas ERAS a curto prazo. Teríamos que ver algum documento, porque não dá para planejar a médio e longo prazo só em cima de palavras ditas por aqueles que, pela posição que ocupam, precisam ser otimistas.
Entretanto, com ou sem UE, é preciso que se mantenha o interesse pela rastreabilidade, para aumentar as possibilidades de vender a preços melhores no futuro.
Miguel, parabéns pela matéria.
Discordo totalmente das colocações feitas pelo Sr. Evandro dos Santos, de Guarulhos.
Sou criador de gado de corte no MT (Sorriso) e tenho 3 supermercados, sendo 2 em SC e 1 no PR. Os pequenos e médios supermercados que trabalham com carne com osso, hoje estão tendo prejuízo, ou na melhor das hipoteses, estão empatando.
As colocações feitas pelo Sr. Evandro de que os supermercados ditam o preço para comprar dos frigoríficos, é porque os frigoríficos não querem perder o cliente ou procurar outra alternativa. Suas colocações de que os supermercados exigem um agio de 15%, chama-se isto de rapel, é porque vocês estão concordando com isto.
Outro problema sério de alguns frigoríficos é que eles querem vender carga fechada. Procurem fracionar as cargas com mais supermercados e sair da mão das grandes redes. Quem está pagando esses agios e rapel para as grandes redes somos nós os criadores e pequenos supermercados, já que para estes vocês mandam tabela cheia ou ainda com preço acima.
Lembrete: Grandes redes são poucas, e quando uma rede deixar de comprar de um determinado frigorífico, esse frigorífico fica sem saída para realocar os produtos. Estes frigoríficos que só estão nas mãos das grandes redes de supermercados, vão ser cada vez mais apertados e, automaticamente, irão pagar um rapel cada vez maior. Avaliem isto e reposicionem suas estratégias de distribuição, e assim vocês pagaram melhores aos criadores.