Quais as principais tendências para a pecuária de corte brasileira? Acredito que a grande mudança é a valorização do mercado interno, que cresce em volume e em demanda por qualidade. No passado, a melhor carne era a exportada, hoje, por uma série de fatores, a melhor demanda por carne bovina está aqui mesmo, no Brasil. Precisamos aproveitar essa oportunidade e esse será um dos temas mais relevantes para 2012.
Quais as principais tendências para a pecuária de corte brasileira? Acredito que a grande mudança é a valorização do mercado interno, que cresce em volume e em demanda por qualidade. No passado, a melhor carne era a exportada, hoje, por uma série de fatores, a melhor demanda por carne bovina está aqui mesmo, no Brasil. Precisamos aproveitar essa oportunidade e esse será um dos temas mais relevantes para 2012.
A renda do brasileiro cresceu, e muito. A carne bovina é a preferência do brasileiro, é o centro do prato. O consumidor não compra porque ela está mais barata, ele compra porque ele prefere a carne bovina. A classe média brasileira (classe C) atualmente é maior do que as classes DE, o que fortalece o crescimento do consumo de carne bovina.
Nos últimos 5 anos, aumentou muito a renda do brasileiro. Há menos gente pobre, e mais gente na classe média e alta. Isso gera maior consumo de carne e maior demanda por carnes especiais. Veja o gráfico abaixo, com a população brasileira, em milhões de pessoas, por classe social, em 2005 e 2010.
A mudança é incrível. Estamos com um perfil de distribuição de renda cada vez mais parecido com países ricos (onde a classe média é maior que a classe pobre). Essa grande migração das classes DE para C, e também da C para AB, significa mais consumo (de tudo, inclusive carne) e consumo de produtos melhores, mais nobres e refinados (de tudo, inclusive carne bovina). É por isso que já temos mais de uma dezena de marcas de carnes atacando esses nichos de mercado. E isso é só o começo.
Produzir carne bovina é caro, difícil e demorado. No Brasil, como somos muito eficientes, falamos pouco sobre isso. No entanto, no mundo todo isso é um assunto cada vez mais importante, porque os principais países produtores terão dificuldades em aumentar a oferta. E a demanda mundial não pára de crescer.
O Brasil será cada vez mais importante como país produtor de carne bovina. Por dois motivos: podemos crescer nossa produção, e também porque nossos concorrentes estão com problemas de oferta. EUA, Europa, Argentina e Austrália são exemplos de grandes produtores que não conseguem crescer a produção. Aqui na América do Sul, além dos problemas políticos na Argentina, o Uruguai passa por uma redução de rebanho (e exportação de gado em pé) e o Paraguai, que ia muito bem, agora está as voltas com a luta contra a aftosa e reconquista da confiança e acesso no mercado internacional.
O fator negativo desse ano, para o Brasil, foi o câmbio, mas que nesse mês de setembro e início de outubro tem ajudado bastante. As exportações em setembro voltaram a crescer, mesmo com os preços recordes.
O consumo mundial de carne bovina crescerá 14,5% de 2010 a 2019, um incremento de 9,3 milhões de toneladas. Como aumentar a produção? Será necessário aumentar a produtividade para atender essa demanda, pois a área ocupada pela bovinocultura no Brasil não irá crescer. Pelo contrário, vai diminuir, com o avanço da agricultura em áreas de pastagens e pela enorme dificuldade em se abrir novas áreas. Vamos produzir mais com menos. E esse é um dos sinônimos de sustentabilidade. Isso é bom para o produtor, pois menor oferta significa preços melhores, ou pelo menos mais firmes. Com esse aumento de produtividade, temos mais uma oportunidade para aumentar a qualidade.
O aumento de demanda mundial por carne bovina virá de países em desenvolvimento, onde o Brasil é um ótimo exemplo. Hoje temos carne de altíssima qualidade, produzida no Brasil, e vendida no Brasil pelo mesmo preço que a carne mais cara, do local mais fino dos EUA. O produto de luxo está globalizado e o Brasil tem nichos e segmentos de mercado que pagam tão bem quanto os melhores dos EUA e Europa.
O cenário é muito positivo para a pecuária de corte. Para o produtor surfar essa onda de oportunidades, será preciso atenção e foco em duas áreas: gestão eficiente para manter margens num cenário de preços altos, mas com custos altos.
E o foco na qualidade. A demanda por carne de qualidade e cara será maior do que a demanda por carne de baixa qualidade e barata. Ou não é assim que você escolhe quando vai comprar a picanha ou o contra-filé do seu churrasco?
0 Comments
Miguel;
O cenário que você desenha parece-me corretíssimo… Carne de qualidade será cada vez mais demandada e temos hoje massa crítica de consumidores no Brasil dispostos a pagar mais caro por ela, desde que comprovadamente melhor e com repetibilidade… O consumidor só não está disposto a pagar mais caro por uma carne "supostamente" de melhor qualidade e que, quando ele vai saboreá-la, tem uma enorme decepção em grande parte das vezes… Ou tem uma decepção quando ele compra uma carne excepcional, divulga para os amigos e quando volta ao mesmo supermercado/açougue para comprar novamente, paga o mesmo preço e leva um produto já totalmente diferente. Na minha opinião, temos muito a evoluir na cadeia da carne no Brasil, começando com o consumidor e indo até a indústria e o governo.
O consumidor precisa mudar forma de perceber a qualidade da carne no momento da compra. Passar a comprar de forma mais técnica e menos subjetiva. Está na hora da dona de casa sair do subjetivismo da "carne bonita" da gôndola, "vermelhinha", (que decepciona na mesa em grande parte das vezes) para buscar a compra de uma carne certificada, padronizada, orinda de um processo de tipificação acompanhado pelo governo, onde: O pecuarista recebe mais por oferecer à indústria um animal melhor, o frigorífico ganha mais por disponibilizar ao mercado cortes melhores, o supermercado/açougue ganha mais por deixar o seu cliente mais satisfeito e o consumidor ganha por consumir mais carne com a certeza de sempre saber o que está comprando… Precisamos mobilizar no Brasil o governo, entidades ligadas aos pecuaristas, a indústria de carnes, o comércio e representantes da sociedade e dos consumidores para melhorarmos a cadeia como um todo. Tem espaço aí, seguramente, para todos ganharem com isso, sem excessão. Abraço. Ademir Pereira – M.Cassab Nutrição Animal.
Hola Miguel , nos conocimos en un evento aqui en Uruguay , soy DR. Gabriel Costas de Mercado interno del INAC, Muy bueno tu articulo y lo veo reflejado en Uruguay , carne bovina como primera elección , poblacion con aumento de renta, aumento de demanda mundial ,competencia de la agricultura por las tierras, y producción que no aumenta ,como va arepercutir todo esto en el precio de la carne en el mercado domestico y hasta que precio la población esta dispuesta a pagarla antes de cambiar al pollo o al cerdo son las grandes interrogantes que debemos plantear para acomodar la industri carnica domestica y planificar su futuro
Saludos desde Uruguay
Miguel, respeito as suas opiniões e avaliações sobre mercado, muito principalmente, porque você é uma das únicas pessoas que conheço, que usa argumentos conscistentes, quando fala sobre o marketing da carne bovina em nosso país. Sou sincero ao fazer esta afirmação, portanto, não a tome como lisonja.
Estretanto, as ansiedades resultantes do domínio profissional, muitas vezes nos levam a atingir certos exageros em nossas avaliações.
Concordo plenamente com você quando você demonstra os efeitos do aumento da renda real do país sobre o consumo de carne bovina, no mercado interno. Tal fato pode ser perfeitamente previsível, sob o ponto de vista econômico.
Isto porque, se imaginarmos uma curva de demanda tradicional para a carne bovina no Brasil, em um processo de escassez desse produto, os preços tenderãoa subir e a quantidade demandada de carne deverá cair, em busca de um novo patamar de equilíbrio. Caso ocorra um processo de superoferta ou "surplus", os preços deverão cair e a quantidade demandada deverá aumentar.
Veja que falamos de uma curva de demanda estabilizada, cujos efeitos na quantidade demandada de carne são resultantes única e exclusivamente das decisões tomadas com relação à variável preço.
No caso apresentado, com preço e quantidade demandada crescendo concomitantemente, demonstra, de forma inquestionável, o efeito da renda na movimentação da curva de demanda como um todo. O que ocorreu foi que com o aumento da renda real no país, a curva de demanda, em equilíbrio, promoveu um movimento para a direita, no gráfico de abscissa e ordenada (aumentando a quantidade demandada de carne no mercado interno) e para cima (resultando, ao mesmo tempo, num aumento dos preços dessa mesma carne). Visto de outra forma, numa situação como esta que experimentamos nestes últimos anos, a curva de demanda sobe como um "balão", para cima e para a direita, levando, como uma balança em equilíbrio, as variáveis preço e quantidade demandada para cima.
Agora, daí a afirmar (e desculpe-me a discordância) que o futuro se abre inexoravelmente como uma oportunidade para a carne de qualidade, existe uma grande distância. Isto porque, carne de qualidade é um produto específico e produtos, geralmente, são lançados para satisfazer necessidades de consumidores. Quem lança produtos são empresas. Não qualquer empresas, mas aquelas que investigam mercados visando conhecer o que os consumidores necessitam para poder oferecer-lhes aquilo que almejam. Portanto, são empresas altamente profissionalizadas, que elaboram produtos de forma a atender todas as suas particularidades e nuâncias.
Quem são essas empresas no mundo da carne no Brasil? Os frigoríficos, claro, ninguém mais. E de tudo que conhecemos, existe em nosso país algum frigorífico capaz de atender a estas especificidades mercadológicas e com competência suficiente para estabelecer de forma lucrativa uma relação altamente profissional entre produtor, industria e consumidor de carne?
Honestamente, não creio.
caro miguel,
fico feliz pelo "despertar" para o mercado interno; irritante escutar alguns palestrantes-paraquedistas, indicando que devemos apostar todas as fichas no mercado internacional. por anos que escuto essa linha de raciocinio, que discordo por completo.
defendo que devemos "apontar nossos canhões" para o mercado interno, em detrimento parcial ao mercado externo.
parte do mundo esta quebrado, com menos dinheiro para pagar por carne de qualidade. numa visão de médio e longo prazo, talvez seja mais interessante redirecionar parte das nossas melhores porções nos mercados do luxo brasileiro, do que se desgastar pelas vias do mundo; não se trata de não exportar e sim de um realinhamento estratégico das exportações.
o Brasil de hoje tem gente em quantidade para consumir "volume" de carne e muito dinheiro para consumir o "top quality".
vamos tocando!!! grande abraço.
Olá Ademir Maciel.
Concordo com sua colocação e deixo um pensamento de John Ruskni que se encaixa bem para o momento que estamos vivendo no mercado, e o que a nossa empresa já vem praticando desde a sua fundação.
“Não há quase nada neste mundo que alguém não possa fazer pior para vender um pouco mais barato.
E as pessoas que só fixam no preço, formam o grupo de suas vítimas naturais.”
JOHN RUSKNI 1819 – 1900
Um grande abraço para todos e sucesso!
Miguel, parabens pelo artigo. A análise macro do mercado atual e as expectativas futuras levam as considerações desse artigo, concordo que o mercado de carne irá caminhar nesse sentido. Entidades de classe, produtores e a industria precisam mobilizar para explorararmos esse mercado com alta margem, vale novamente a lei do ++. Grande abraço.
Concordo com Miguel, e sugiro aos mais curiosos baixar no site do IBGE os dados de consumo do último CENSO, eu fiquei impressionado, pois mostra claramente a expansão do consumo de cortes mais valorizados em diversas regiões do país, não somente sudeste como poderia-se imaginar, vale a pena analizar, um abraço
Olá Miguel, me atrevo a dar minha opinião a este respeito, parece que nos últimos anos, pós exigência da lista Trace pela UE, a salvação do mercado da carne foi o mercado interno, tanto para a carne de maior valor ou seja "de primeira" como também para a carne de segunda, pois a demanda por dianteiro foi o que salvou o preço do boi, ao menos aqui no RS naquele período. Mas concordo contigo em todos os aspectos do teu artigo, a nossa expectativa como grande produtor de carne e carne de qualidade é mais do que pertinente.
Prezado Miguel Cavalcanti
Oportuno artigo.Parabéns pela análise.
É isso aí.Embora o mercado externo continue importante para o agronegócio brasileiro é relevante uma compreensão : o aqui produzido aqui será consumido.
A carne bovina cujo fator elasticidade renda é próximo de 1 tem um enorme mercado interno potencial. O nosso consumo atual permite um crescimento e um desenvolvimento desse mercado. Inovar será , no entanto, preciso.
O rumo de uma nova estrada para a boiada será marcado por essa melhoria da renda do povo brasileiro. Vamos continuar avançando.
Abraços
Que tal amigos!!!Segue os dados do IBGE para avaliação!Um abraço! http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2008_2009_aquisicao/pof20082009_aquisicao.pdf