Ontem o Mapa decidiu suspender temporariamente a emissão de certificado sanitário para 28 estabelecimentos que exportam carne bovina para os Estados Unidos. A medida, que entra em vigor a partir de agora, se justifica, segundo o Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), para que sejam promovidas adequações no serviço de inspeção sanitária e nas operações desses frigoríficos apontadas como necessárias, tanto pelo Mapa, quanto pela missão americana que esteve no Brasil no período de 9 de março a 14 de abril.
A decisão foi anunciada através de um ofício circular do Dipoa encaminhado às Superintendências Federais de Agricultura nos estados. Segundo o diretor do Dipoa, Nelmon Oliveira da Costa, a medida é temporária e deve ser brevemente suspensa, tão logo sejam corrigidas as não conformidades com as exigências previstas no acordo sanitário Brasil/EUA apontadas pela missão americana.
O presidente da Abiec, Marcus Vinícius Pratini de Moraes, não está preocupado com a suspensão. “É uma operação de rotina para permitir que os frigoríficos e o próprio Ministério da Agricultura tomem providências e ajustes para atender os requisitos internacionais”, afirmou.
Segundo ele, a medida não atrapalha o setor. “Isto não me assusta. O que me assusta é quando inventam aftosa na Amazônia”, disse, ao deixar o Palácio do Planalto, onde participou de reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial.
Já o presidente da Comissão da Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, Ronaldo Caiado (PFL-GO), afirmou que a decisão “vai piorar uma crise que já é avassaladora”. Segundo ele, os preços do boi poderão cair ainda mais no mercado interno, como resultado da pressão desse volume excedente.
É o que também acha o diretor do Friboi, Artêmio Listoni. Dez mil dianteiros de boi não tem mais mercado a partir de amanhã com essa suspensão. Segundo ele, estas 300 toneladas diárias de carne bovina com osso deverão ser desviadas para o mercado interno, o que deve provocar nova queda de preços tanto no atacado como no mercado físico.
Os preços do boi já se encontram em níveis historicamente baixos. Desde fevereiro, a arroba do boi a prazo no Estado de São Paulo está abaixo de R$ 60, média que, nos 11 anos de Plano Real, só foi vista na safra de 1996, considerando toda a série de preços deflacionada pelo IGP-DI de março/05, de acordo com informações do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada/Esalq/USP, divulgadas pela CNA.
Sérgio Penteado, da mesa de commodities da Fator Corretora, conta que os futuros de boi, que já estão caindo por conta da queda do dólar, despencaram no after hours da BM&F depois que a informação foi divulgada pela Agência Estado. “Os futuros devem abrir amanhã (hoje) em queda também”, estima. Segundo ele, apesar do volume exportado de carne industrializada para os Estados Unidos não ser significativo, a receita gerada por ela é significativa. “Sem ela, fica reduzido o valor agregado dos frigoríficos, que terão que rever os preços pagos pela arroba”, avaliou.
Listoni, do Friboi, disse que o frigorífico vai suspender as compras de boi temporariamente até que a carne já abatida que não poderá ser exportada for absorvida pelo mercado. “Temos que gerenciar nossa oferta e demanda porque não queremos que os preços caiam em demasia”, justificou.
Na semana de 16 a 20 deste mês, nova missão americana virá ao País para reavaliar a equivalência dos Serviços Oficiais de Inspeção dos dois países.
Fonte: Mapa e O Estado de São Paulo (por Fabíola Salvador e Eduardo Magossi), adaptado por Equipe BeefPoint
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É simplesmente apavorante essa situação.
Essa falta de vigilância sanitária envolve a falta de médicos veterinários qualificados para fazer o serviço? Ou são problemas políticos dentro do próprio frigorífico? Qual é o verdadeiro problema da suspensão das vendas?
É difícil falarmos do produto “carne” sem pensarmos na “cadeia produtiva da carne”.
Infelizmente, ainda temos muitos elos dessa cadeia que ainda não pensam e enxergam essa “linha de produção”, onde todos esses elos são importantes, para que, no final desse processo seja obtido com sucesso e garantindo segurança ao consumidor final.
Não comentando só sobre esse artigo, mas no assunto “carne” em geral, é preciso que a iniciativa de segurança alimentar venha desde dentro da porteira, onde o produtor comece a agir como “empresário rural”, investindo na qualidade do seu produto, para que no processo posterior o seu animal seja valorizado e recompensado pela qualidade.
Porém, para que o “empresário rural” tenha essa iniciativa, é preciso um estímulo dos frigoríficos para que esse produtor tenha a certeza de que vai investir em produção de alta qualidade e que quando entregar o seu animal, receba o que realmente vale a sua “mercadoria”, com bonificações “estimulantes” de acordo com a classificação do seu animal, seja por peso, acabamento ou por ser rastreado, etc.
Falando em rastreabilidade, porque que os produtores não viam a necessidade de ter um aumento no custo de produção rastreando os seus animais, sendo que não estavam vendo vantagem “no bolso” na hora de abate-los? Eles não tinham o que os incentivassem a aumentar o seu custo de produção e alguns até não acreditavam na eficiência do sistema de rastreabilidade.
Depois de tantas discussões sobre esse “processo de identificação animal”, porque se formos analisar bem, a nossa rastreabilidade, nada mais é do um sistema de identificação animal, não possuindo ainda uma veracidade da nossa sanidade animal, nem dos processos da nossa cadeia produtiva da carne.
Por fim, resumindo, há uma linha ordenada de interesses, onde a falha em qualquer segmento da cadeia acarretará uma queda de qualidade ou situações na nossa pecuária que venha a causar sérios prejuízos declinando o nosso mercado da carne bovina.
O governo brasileiro nunca tratou a Defesa Sanitária Animal nem a Inspeção de Produtos de Origem Animal com a devida seriedade. O número de Fiscais Federais Agropecuários esta completamente defasado. Há trinta anos não se faz concurso para Agentes de Inspeção Federal. A execução do serviço de Defesa Sanitária Animal foi delegada aos Estados que pagam salários aviltantes a seus profissionais.
Basta dizer que recentemente a IAGRO responsável por esses trabalhos no MS publicou um edital de concurso oferecendo salários de R$ 600,00 para médicos veterinários.
O Brasil tem compromisso com a UE de realizar nos frigoríficos habilitados para aquele mercado, duas auditorias por ano. Ocorre que os auditores responsáveis por este serviço recebem de diárias R$ 67,00 quando se deslocam para o interior dos Estados e R$ 123,00 nas capitais. Por esses valores é fácil deduzir que um auditor em serviço, ou come ou dorme.
Esses pequenos fatores constituem entraveis seríssimos ao bom andamento dos trabalhos. Por esses motivos e alguns outros vários acordos internacionais deixam de ser cumpridos ocasionando o recente fato da suspensão da certificação da carne brasileira par o mercado americano.