APPS: pecuária e conservação da natureza
5 de março de 2012
Atacado – 05/03/2012
5 de março de 2012

A importância do consumo de matéria seca na pecuária de corte

Equipe de Nutricionistas Agroceres Multimix: Carlos Giovani Pancoti; Anna Paula de Toledo Piza Roth; Lucas Silveira Ferreira; Rodrigo Lemos Meirelles

Acreditamos que todos os tipos de produção são viáveis no Brasil, seja a pasto, seja em semiconfinamento ou confinamento total. A viabilidade vai depender de cada propriedade e de seus recursos, mas para todas elas, a quantidade de matéria seca disponível é o fator mais importante para o ganho de peso.

Há vários fatores que influenciam a ingestão de matéria seca, e precisamos estar atentos a todos eles. Esses fatores são a dieta, o animal e as condições de alimentação e clima, além das relações entre eles.

No sistema de confinamento a preferencia deve ser por animais que apresentam melhor eficiência na conversão alimentar, com maiores taxas de crescimento e ganho de peso. Mas para isso é essencial que haja quantidade adequada de matéria seca pois o consumo desses animais tem que ser elevado para que apresentem o ganho de peso diário desejado. Fatores como falta de espaço no cocho e bebedouro, ou a presença de excesso de barro nas baias de confinamento, são alguns dos fatores que afetam negativamente o consumo.

 

Fatores de extrema importância que afetam em muito o consumo:

1. Correto dimensionamento do confinamento (15 – 50m2/animal)

2. Acesso ao cocho de alimentação (0,35 – 0,70m de linha de cocho/animal)

3. Adequada declividade da área entre 3 – 5%, para evitar formação de barro

4. Para o bebedouro, disponibilizar área linear de pelo menos 1 – 3 cm/cabeça, levando em consideração a vazão pelos horários críticos de consumo de água

O espaço para os animais no confinamento é estratégico, animais que passam por longos períodos em pé acabam tendo tempo de ruminação insuficiente. O longo período em pé ainda pode aumentar o desconforto, ruminação deficiente e levar à laminite, as quais prejudicam o consumo de matéria seca, ganho de peso e a conversão alimentar.

O número de vezes em que a dieta é distribuída também influencia diretamente nos resultados de desempenho. A distribuição da dieta no confinamento deve ser feita no mínimo em 3 refeições diárias, aumentando o estímulo dos animais em permanecer no cocho, elevando o consumo e reduzindo distúrbios digestivos como por exemplo a acidose. O cocho deve ficar com escore de sobras entre 0,5 e 1, ou seja, nunca vazios, garantindo assim oferta de alimento e ausência de desperdício. Também devem ser evitados excessos de sobras pois a dieta fermentada reduz a ingestão, devendo os cochos serem limpos diariamente antes da primeira refeição do dia.

Ainda visando a alta ingestão de matéria seca, é importante fornecer aos animais fibras de boa degradabilidade no rúmen. Se as fibras não forem de alta degradabilidade, ela vai se acumular por mais tempo e limitar o consumo dos animais por repleção ruminal. Alta concentração de lignina está relacionada com a baixa digestibilidade, na qual dificulta a ação dos microrganismos ruminais.

Logo, a importância de uma fonte volumosa de qualidade e as características do suplemento ofertado, sendo este último de também fundamental importância pois oferece substrato para maior crescimento microbiano no rumen, de modo a garantir melhor aproveitamento da dieta total.

O tamanho da partícula também interfere diretamente em ingestão de matéria seca e ganho de peso. A moagem faz com que a absorção dos nutrientes seja aumentada e o desempenho animal melhorado. Esse manejo é especialmente importante no caso de forragens de baixa qualidade. Deve-se ficar atento para que sempre haja na dieta fibra efetiva, de modo a propiciar a ruminação e manutenção de um ambiente ruminal adequado.

Concluindo, o melhor sistema de alimentação é aquele que favoreça o máximo de ingestão de matéria seca. Há várias equações para estimar o consumo disponíveis na literatura (NRC; Cornell; AFRC, etc) que devem ser usadas como guia, mas com cuidado porque não são perfeitas. Devido à características de ambiente tropical e ao sistema de produção brasileiro onde predominam animais zebuínos, é de suma importância a utilização de equações desenvolvidas sob as nossas condições (VALADARES FILHO et al., 2010), uma vez que fatores como genética e ambiente influenciam na variável ingestão de matéria seca.

Devemos estar atentos sobre o consumo de matéria seca dos animais, pois como foi visto, dezenas de fatores são responsáveis pela sua variação e todos eles irão influenciar sobre o consumo final. Embora seja um parâmetro simples, ele é de extrema importância pois a partir dele obtemos dados de conversão alimentar e podemos avaliar a eficiência do programa de alimentação, na qual o animal supri suas necessidades pelo o que ele ingere.

Figura 1: Animais em confinamento no município de Carlos Chagas – MG, recebendo dieta à base de cana-de-açúcar e concentrado.

Figura 2: Animais em sistema de pastejo suplementados com proteinado, de modo a fornecer nutrientes para maior crescimento microbiano no rúmen, consequentemente maior digestibilidade e consumo.

 Referências

ARRIGONI, M.B. Efeito da restrição alimentar sobre o desempenho, área e tipo de fibras musculares, em bovinos jovens confinados. Tese (Doutorado em Zootecnia). Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal. 73 p.1995.

FORBES, J.M. Voluntary food intake and diet selection in farms animals. Guildford, UK: Cab International, 1995. 532p.

MERTENS, D. R. Análise da fibra e sua utilização na avaliação e formulação de rações. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL EM RUMINANTES, REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 29; 1992, Lavras. Anais… Lavras: SBZ, 1992. p.188- 218.

NUTRIENT requirements of beef cattle. 7.ed. Washington, D.C.: National Academy, 1996, 242p.

VALADARES FILHO, S.C.; MARCONDES, M.I.; CHIZZOTTI, M.L.; PAULINO, P.V.R. Exigências Nutricionais de Zebuínos Puros e Cruzados: BR-Corte. 2.ed. Viçosa, MG. Editora UFV, 2010. 193p.

VAN SOEST, P. J. Nutricional ecology of the ruminant. 2. ed. Ithaca: Cornell University Press, 1994. 476p.

 

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