Novo Código Florestal: governo tenta adiar votação do Código Florestal, diz líder
6 de março de 2012
Pedido Espúrio
6 de março de 2012

Luciano Vacari (Acrimat): Tempo de mudanças

As mudanças observadas na cadeia produtiva da pecuária foram moldadas com os acontecimentos que chegaram do campo e da cidade, do mercado interno e externo, por conta do clima e de leis. Em 2011 podemos pontuar algumas dessas interferências na atividade pecuária.

As mudanças observadas na cadeia produtiva da pecuária foram moldadas com os acontecimentos que chegaram do campo e da cidade, do mercado interno e externo, por conta do clima e de leis. Em 2011 podemos pontuar algumas dessas interferências na atividade pecuária. Por contar de uma safra com menos oferta e uma entressafra com maior número de animais prontos para o abate, tivemos um mês de outubro atípico.

Esse cenário ocorrido em 2011 pode ser constatado na comparação do preço da arroba do boi gordo nos último 9 anos, quando historicamente os preços da arroba no mês de outubro (entressafra) sempre foi superior ao de maio (safra), uma sequencia quebrada no ano passado. A arroba em outubro foi 0,6% menor que maio, por conta de uma maior oferta de boi gordo vindo de confinamento e semiconfinamento. Em 2003 o preço da arroba em outubro foi 18,1% superior a de maio, em 2006 foi registrada a maior diferença com 23,1%, e em 2010 foi de 18,4%. Esse novo cenário tornou o ano de 2011 muito estável.

O crescimento de animais confinados em Mato Grosso em 2011 foi de 29% com relação a 2010 e a evolução do rebanho confinado nos últimos seis anos chegou a 548%. Comparando o preço da arroba do boi gordo entre 2010 e 2011 a variação foi de 15,3%. O que podemos prever é que Mato Grosso vai tomar a dianteira no ranking de confinamento e semiconfinamento em pouco tempo.

Os produtores do maior rebanho bovino do Brasil, com mais de 29 milhões de cabeças, trabalharam em 2011 com 8,7% da área de pastagem totalmente comprometida com seca iniciada em 2010. Dos 26 milhões de hectares de pastagens, 2,2 milhões morreram com a seca. Esse cenário desencadeou uma série de mudanças no setor. Com a falta de pasto o pecuarista teve que buscar alternativas para engordar o gado e encontrou saídas no confinamento, suplementação alimentar e no semiconfinamento, sendo este último, o grande negócio de 2011. Estamos num estado onde temos bezerros e muita oferta de grãos.

Outro ponto positivo no tabuleiro das mudanças é que os pecuaristas estão produzindo mais em menos. Uma alusão clara de investimento pesado em tecnologia. O abate de bovinos com até 24 meses de idade cresceu 40%. O abate de animais de 24 a 36 meses cresceu 7,74% e acima de 36 meses 13,15%. Uma eficiência que esbarra na indústria e no mercado externo. Em Mato Grosso, apenas 52,68% da capacidade industrial instalada esta sendo utilizada e sem dúvida esse será um dos grandes desafios do setor.

O embargo da Rússia contra a carne brasileira é outro ponto que precisa ser resolvido e impactou sobremaneira nos números de Mato Grosso. As exportações para esse país representavam 26% da carne exportada por Mato Grosso em 2010 e no ano passado os russos compraram apenas 14% da carne mato-grossense até junho, quando o embargo começou. Esse é um problema que já passou da hora de o governo brasileiro resolver, pois a Rússia é um mercado importante não só para Mato Grosso, mas para o país.

O ano de 2012 pode ser bastante interessante para o setor. Mais cedo ou mais tarde o problema da Rússia será resolvido. Hoje nós dependemos da oferta de boi gordo para atender a demanda crescente, tanta externa quanto interna. O peso do confinamento nessa oferta vai depender dos preços dos grãos e coloco nesse processo, a necessidade de uma maior oferta de fêmeas para frear a pressão.

O que não vejo solução em curto prazo é para o preço final da carne ao consumidor. Ele vai continuar nas mãos do varejo e não do produtor. Nos últimos 6 anos o preço médio pago pela arroba do boi gordo no Estado de Mato Grosso acumulou uma valorização de 79,19% e no varejo o preço da carne vendida ao consumidor final teve um aumento de 186,75%. O peso das mãos do varejo é muito grande na carne vendida ao consumidor e só quem compra é que pode dar um basta nesse peso injusto e desrespeitoso, pois se dependesse do produtor, o povo estaria pagando pelo menos 30% a menos pelo quilo da carne.

————–

Luciano Vacari é Superintendente da Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso)

1 Comment

  1. Jogi Humberto Oshiai disse:

    Prezado Luciano,

    Acredito que mudanças inevitáveis ocorreram no setor a partir do nosso agradável almoço em Cuiabá em agosto de 2008. Procurei alertá-los sobre as transformações dos mercados em terceiros mercados em decorrência da nova exigência comunitária para importação de carne bovina in natura e dos preços da matéria prima que estava se nivelando a nível mundial. Infelizmente, o impacto destes e outros fatores, acabou não possibilitando ao estado de MT beneficiar da habilitação das áreas não habilitadas para a União Européia.
    Como havíamos discutido e como é de seu conhecimento temos ainda que continuar construindo a base técnica e institucional sólida no referido estado para monitorar devidamente não somente a produção, mas também os temas de considerável importância que Você e eu temos conhecimento com vistas a alavancar pro-ativamente o setor em apreço. Nunca é tarde demais para iniciar para inclusive possibilitar aos produtores merecidos ganhos por meio de traceabilidade, ainda que nosso novo sistema que o MAPA deve estar reinventando o SISBOV inclusive com eventual modificação da portaria em vigor e com inclusão de temas como boi verde, bem-estar animal, meio ambiente, etc para diferenciar o seu produto e exigir prêmio junto aos frigoríficos que com certeza terão mercado no exterior para repassar o custo da produção de qualidade ao oferecer um produto superior e não simplesmente commodity ao pé da letra.
    À titulo de curiosidade, leia o meu comentário sobre o Wagyu neste veículo de comunicação de referência do setor.
    Um abraço,

    Jogi Humberto Oshiai
    Director for Public Affairs
    FratiniVergano – European Lawyers
    Rue de Haerne 42 – B-1040 Bruxelles
    Tel: +32 2 648 21 61 – Fax: +32 2 646 02 70
    j.oshiai@fratinivergano.eu –www.fratinivergano.eu