Os grãos e oleaginosas deverão ter preços maiores nos próximos meses, à medida que a seca mais devastadora dos últimos 56 anos nos Estados Unidos está influenciando em sua produção. As condições das colheitas agrícolas dos Estados Unidos se deterioraram significantemente nos últimos meses devido ao calor extremo e às condições de seca nas principais regiões produtoras de milho e soja. A atual previsão climática indica uma continuidade da maioria das condições de seca e calor que provavelmente levarão a mais reduções nas revisões de produções nos próximos meses nos Estados Unidos. A modelagem do Rabobank indica que existe uma considerável queda com relação às previsões de produção oficiais, o que reflete as tendências de que os preços provavelmente não alcançarão o pico nesse estágio.
As severas perdas agrícolas nos Estados Unidos que levaram a níveis historicamente baixos de milho e soja significam que um racionamento significante na demanda será necessário nos Estados Unidos e no mundo nessa safra. Embora a severidade da situação possa ser comparável à de 1988, o impacto na demanda e nos preços dos alimentos podem ser mais significantes dessa vez. Em 1988, os estoques de milho dos Estados Unidos eram 4,8 vezes o que o esperado para o início de 2012/13, embora a queda nos estoques finais globais de soja em 2011/12 devam ser maiores ainda.
O Rabobank espera que os preços precisarão se manter em/ou próximos aos níveis historicamente altos em 2012/13 para racionar suficientemente a demanda para produção de alimentos animais, biocombustíveis e exportações. Isso provavelmente colocará uma pressão significante no setor de proteína animal e poderá desencadear outro debate sobre alimentos versus combustíveis nos Estados Unidos. Em outros locais, provavelmente haverá intervenção mais ativa do Governo – como visto em 2008 – para garantir ofertas suficientes de alimentos em um esforço para conter a inflação dos alimentos domésticos.
Avaliando um cenário de longo prazo, esse é o terceiro aumento significante de preços para os mercados de grãos dos últimos cinco anos e, apesar dos aumentos periódicos, a oferta não tem sido capaz de responder ao rápido crescimento da demanda. A seca dessa safra e o aumento de preços para níveis recordes deve garantir uma resposta de oferta para a próxima estação para ajudar a reconstruir os estoques globais, considerando um clima favorável.
Trigo
Os preços do trigo na CBOT (bolsa de valores de Chicago) deverão se manter acima de US$ 8/bushel para a maioria do ano comercial de 2012/13, principalmente direcionados pela seca devastadora dos Estados Unidos e as preocupações sobre os desenvolvimentos das colheitas no Sul da Rússia e em Cazaquistão. O Rabobank aumentou sua previsão de preços do trigo no terceiro trimestre de 2012 para US$ 8,90 por bushel, com mais aumentos nos preços spot esperados devido à probabilidade de continuidade na deterioração nas colheitas dos Estados Unidos. Os futuros mensais do trigo na CBOT aumentaram 47% desde 15 de junho, alcançando um pico de US$ 9,21 por bushel no meio de julho e excedendo a maioria dos recentes aumentos de fevereiro de 2011, mas ainda não alcançando o pico de 2008.
A expectativa do Rabobank é que o spread entre o trigo e o milho cairá durante o terceiro e o quarto trimestres de 2012, permitindo uma previsão de 450 milhões de bushels de trigo no usados para alimentação animal ano comercial de 2012/13. Uma destruição significante na demanda é esperada no complexo pecuário dos Estados Unidos à medida que os custos dos insumos aumentam e as circunstâncias difíceis criarão empecilhos significantes para qualquer aumento nos preços das proteínas. A expectativa é que o milho para alimentação animal seja de 600 milhões de bushels abaixo do que o USDA está esperando atualmente.
Esse declínio não poderá ser totalmente compensado pelo trigo e, como resultado, o trigo para alimentação animal aumentará somente 250 milhões de bushels acima das estimativas do USDA. Os atuais spreads entre trigo e milho ainda estão em níveis que desestimulam a inclusão do trigo em rações animais, e a história sugere que o spread precisa se estreitar significantemente para encorajar o do trigo na alimentação animal.
Apesar da colheita de trigo dos Estados Unidos ter aumentado significantemente com relação ao ano anterior, o mercado continua focando no milho, com a produção de trigo sendo de apenas 19% da de milho. As condições de produção de trigo dos Estados Unidos na primavera continuam declinando, apesar de a um ritmo mais lento do que o de outras colheitas.
O Rabobank previu que a produção na Austrália será de 25 milhões de toneladas em 2012/13, o que permitiria exportações de 20 milhões de toneladas – apenas 3 milhões de toneladas a menos que o recorde de 23 milhões de toneladas exportados em 2011/12 – apesar da queda prevista na produção de 4,5 milhões de toneladas com relação ao ano anterior.
Milho
O Rabobank espera que os preços do milho permaneçam acima de US$ 7 por bushel durante o primeiro trimestre de 2013, à medida que a produção dos Estados Unidos deverá cair – sustentando o mercado em alta no complexo de grãos. O Rabobank estima que a produção mundial de milho cairá para 856 milhões de toneladas em 2012/13 – 50 milhões de toneladas a menos que a estimativa substancialmente reduzida do USDA de julho. A redução na demanda deverá definir o ano comercial de 2012/13 com a previsão do Rabobank sendo de que os altos preços sustentados limitarão o consumo mundial em 861 milhões de toneladas. Essa previsão é 37 milhões de toneladas abaixo das atuais previsões do USDA, embora ainda represente um aumento de 3 milhões de toneladas com relação ao ano anterior.
Manter o uso baixo durante 2012/13 será uma questão para os mercados e, para alcancar o nível de consumo estimado, os preços terão que se manter em níveis não lucrativos para os confinamentos e produtores de etanol nos Estados Unidos. Se os preços não se mantiverem em US$ 7 por bushel ou maior durante 2012/13, o Rabobank espera que a demanda seja significantemente maior do que a previsão atual. As evidências iniciais sugerem que o aumento de 55% nos preços do milho começaram a reduzir a demanda, com a produção de etanol e as exportações desacelerando antes do começo do ano comercial de 2012/13.
Os especuladores não aumentaram suas apostas de altas para níveis vistos nos últimos anos, o que sugere que essas posições poderiam aumentar – ajudando os futuros do milho na CBOT a continuar registrando novos recordes.
As condições de colheita de milho nos Estados Unidos caíram para 31% boa/excelente em 15 de julho, o segundo menor registrado após o ano comercial de 1988/89, quando somente 18% da colheita era classificada como boa/excelente nessa epoca do ano. O Rabobank espera que as condições declinarão mais nas próximas semanas, se aproximando do desastroso ano de 1988/89, à medida que as previsões do clima permanecem em quente e seco para um futuro próximo.
O banco reduziu sua previsão de produção de milho em 2012/13 para 131 bushel/acre – 25 bushel/acre a menos que a previsão inicial em dezembro e 15 bushel/acre a menos que as estimativas do USDA. Também foi previsto um abandono de 10% dos 96,4 milhões de acres plantados – deixando a área ciltivada em 2,1 milhões de acres a menos que as atuais estimativas do USDA. Como resultado dessas mudanças, a previsão de produção de milho do Rabobank para 2012/13 é de queda para 11.331 milhões de bushels – a menor desde 2006/07 e 8,3% a menos que no ano anterior. Isso implica que o USDA terá que reduzir sua previsão final de produção de milho em cerca de 1,638 milhões de bushels nos próximos relatórios.
O Rabobank acredita que a redução na demanda por milho será distribuída, e não um fator específico isolado. A redução na demanda versus as atuais expectativas deverá ser maior no uso do milho na alimentação animal (-600 milhões de bushels), seguida pelo uso para produção de etanol (-400 milhões de bushels) e demanda de exportação (-300 milhões de bushels). Qual setor terá maior declínio no uso do milho dependerá de uma variedade de fatores.
O Rabobank previu que a demanda global por milho permanecerá relativamente resistente, com a demanda de importação – liderada pela China – sendo menos influenciada pelos preços recordes do que seria esperado. Em curto prazo, o Rabobank acredita que a demanda de exportação continuará sendo contida por causa dos preços quase recordes após o aumento de 55% desde 15 de junho.
Entretanto, em longo prazo, os destinos terão que comprar pouco, com os preços domésticos na China ainda sinalizando ofertas escassas. Em 2012/13, a produção de milho na China deverá cair em cerca de 10 milhões de toneladas devido à seca, ficando em 185 milhões de toneladas, contra 195 milhões previstos pelo USDA. No final das contas, o forte crescimento nos mercados emergentes, especialmente nos países cautelosos com a inflação de alimentos como China e Egito, suportará a demanda de importação e pressionará mais para cima os mercados de milho.
Soja
Os preços da soja continuarão aumentando nos próximos meses, a menos que ocorram chuvas no Meio-Oeste dos Estados Unidos para aliviar as atuais condições de seca. As condições da colheita de soja dos Estados Unidos continuaram caindo em junho e primeira metade de julho devido ao forte calor e à falta de chuvas. A participação da colheita atualmente classificada pelo USDA como ruim a muito ruim aumentou de 6% no começo de junho para 30% agora – equivalente aos níveis de 1988.
Há um pequeno alívio nas previsões das condições de seca, à medida que a colheita entra na fase crítica de produção no final de julho e começo de agosto. Um severo racionamento na demanda, que ainda não tem sido vista, será necessária, à medida que agora, as produções de soja na América do Sul e do Norte estão registrando declínios anuais significantes. O Rabobank espera que a rápida redução nas ofertas globais de soja, junto com a previsão de aumento nos preços do milho, sejam um direcionador dos maiores preços nesse mês.
Existe um severo risco de que a produção de soja dos Estados Unidos possa cair para o menor nível em nove anos, para menos de 3 bilhões de bushels. Diferentemente do milho, apesar de ainda haver oportunidades das melhores condições evitarem mais perdas, essas estão se fechando rapidamente devido ao desenvolvimento precoce da colheita. Com base em uma comparação histórica entre as condições de colheita e o rendimento final, o Rabobank estimou que as condições precisam aumentar para mais de 45% bom/excelente para conseguir um rendimento de 40 bushel por acre. Se as condições melhoraram até o final de agosto para 38% bom/excelente, a expectativa é que o rendimento seja de 37,9 bushels por acre; se não houver melhora nos atuais 34% bom/excelente, o rendimento cairá para 36 bushels/acre. Como há tempo para melhora nas condições, o Rabobank adotou uma previsão de 39 bushels/acre.
A queda na produção de soja nos Estados Unidos pode estimular um racionamento significante na demanda, tanto no país como de exportação. Uma colheita de menos de 3 bilhões de bushels pode enviar sinais de racionamento aos usuários finais através de preços maiores por pelo menos os próximos seis meses. O consumo de soja nos Estados Unidos em 2011/12 e 2012/13 tem persistido em um ritmo insustentável. Os compromissos de exportação para 2011/12 agora alcançaram 1,395 bilhão de bushels – 4% acima da previsão do USDA com oito semanas ainda faltando no ano comercial. Similarmente, as exportações para colheita de 2012/13 já alcançaram níveis recordes de 525 milhões de bushels – 38% da previsão do USDA para as exportações totais de 2012/13.
Existe pouco espaço para a demanda se propagar para outras origens de soja fora do Estados Unidos até o começo de 2013, quando a próxima colheita de soja da América do Sul começa. A demanda de importação de soja da China continua crescendo com relação ao ano anterior por cinco meses consecutivos, trazendo suas importações totais para 2011/12 para 44 milhões de toneladas – 15% maior que no ano anterior. Existe uma oferta limitada restante na América do Sul, como evidenciado no aumento dos níveis base e na desaceleração dos envios em junho do Brasil. Um recorde de 28 milhões de toneladas de exportações foram enviados do Brasil entre outubro e junho – 39% a mais que no ano anterior. Isso apesar da queda de 13% na produção e é insustentável nos próximos meses.
O Rabobank estimou que as exportações do Brasil de junho a setembro cairão para o menor nível em cinco anos, de 8 milhões de toneladas. O USDA previu que a produção de soja da América do Sul aumentará em 30 milhões de toneladas com relação ao ano anterior em 2012/13, o que o Rabobank concorda que acontecerá ou será até excedido. Entretanto, a colheita não será plantada até setembro e não deverá estar pronta para exportações até o primeiro trimestre de 2013. O mercado global de soja precisará de um clima ótimo e uma menor demanda até a próxima colheita.
Fonte: Rabobank, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.