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Conheça o Programa de Qualidade Nelore Natural e suas relações com certificação e rastreabilidade

Após dez anos do início do PQNN, foi tomada a decisão de mudança de contextualização do progorama, devido à busca por frigoríficos parceiros. Ao apresentar o programa para a indústria, esta argumentou que suas marcas próprias seriam prejudicadas, pois a marca Nelore Natural seria uma concorrente, de propriedade da associação.

O Programa de Qualidade Nelore Natural (PQNN) e a ACNB (Associação dos Criadores de Nelore do Brasil) tem objetivo de promover e fomentar a raça Nelore, divulgando a qualidade da carne Nelore e os resultados alcançados com a genética da raça. A associação trabalha com divisões próprias (associações estaduais e regionais)  e diversas outras iniciativas, como a Expoinel, a Universidade da Carne e também o próprio PQNN.

Este programa visa promover a qualidade da carne Nelore, por meio de abates técnicos para oferecer um produto de origem conhecida e qualidade controlada. O programa tem um selo de identificação e teve início em ago/2001, no estado de Rondônia, formado por um grupo de produtores, com o frigorífico Frigovira e o Supermercado Andorinha. A relação entre os três elos da cadeia produtiva é interessante, mostrando os benefícios para a boa condução de um processo de rastreabilidade e garantia de origem.

O sistema de produção padrão do PQNN é a alimentação dos animais a base de forragens, permitindo-se  terminação em confinamento ou semi-confinamento, com produtos de origem vegetal por período limitado. O padrão dos animais permitido é de até 25% de grau de sangue de outras raças zebuínas e machos castrados ou castrados, dependendo da idade e cobertura de gordura.

O programa teve início pelo desejo de se criar uma marca de carne Nelore, devido à representatividade da raça no Brasil. Desta forma, a associação nacional planejou seus investimentos em marketing, divulgando a alimentação a pasto somente com sal mineral e mostrando imagens dos biomas brasileiros. Também foi explorado o conceito de saúde relacionada ao consumo de carne bovina, com dados mostrando a importância da carne vermelha, valorizando o consumo, envolvendo ambientes familiares e esportistas, como o nadador olímpico brasileiro Xuxa, construindo e consolidando a marca “Nelore Natural”. Além desta divulgação conceitual, foram implementadas ações nos pontos de venda, com identificação visual do programa, degustação e palestras aos varejistas e consumidores.

Após dez anos do início do PQNN, foi tomada a decisão de mudança de contextualização do progorama, devido à busca por frigoríficos parceiros. Ao apresentar o programa para a indústria, esta argumentou que suas marcas próprias seriam prejudicadas, pois a marca Nelore Natural seria uma concorrente, de propriedade da associação. Por isso, a mudança foi transformar a marca em um Selo de Origem, proporcionando benefício aos produtores e à indústria. Atualmente o Marfrig é o único parceiro do programa, conduzido em quatro estados (GO, MT, MS e RO) em seis undades frigoríficas.

Os produtores participantes recebem prêmios conforme características de seus animais abatidos. A premiação seleciona os animais já existentes no campo, por meio de avaliação de técnicos, que vão às fazendas verificar o cumprimento das normas do programa. São coletadas também informações do sistema de produção, que irão servir de base para formulação de  nova fase do programa para o futuro, como a implantação de uma certificação. Recentemente, foi lançada a nova marca de carne Seara Natural (Marfrig), fruto do trabalho da ACNB e do relacionamento entre os elos da cadeia produtiva.

No período de out/10 a jul/12 form visitadas 568 fazendas do programa, 130 mil animais e 370 produtores foram premiados. O valor médio da premiação foi de R$33,30 por animal, R$2,25 por arroba, R$6.800 por pecuarista e é crescente ano a ano. A premiação máxima alcançada foi de R$3,80 por arroba em animais fêmeas e um valor de R$143.200 para um pecuarista que teve 3.300 animais premiados. Neste mesmo período, o crescimento dos sócios produtores foi de 42%.

Para a manutenção e crescimento do PQNN, a coleta de dados dentro da fazenda deve ser a maior possível, para melhorar cada vez mais as informações publicadas do programa ao consumidor, que devem ser além do que já é demandado, buscando um crescente volume de vendas. Como toda construção de marcas, são necessários tempo e investimento, perseguindo-se a situação ideal sem desprezar o bom ou razoável: valorizando o bom e melhorando o razoável. Nesta construção, o comprometimento com a causa é fundamental, o entendimento é primordial, e de forma interessante, a recompensa financeira acelera este comprometimento. Um dos principais ganhos após a consolidação de uma marca/selo pode ser considerada a durabilidade da condição comercial, na qual todos envolvidos tenham ganhos.

O PQNN foi apresentado por André Locateli no Workshop BeefPoint – Certificação e Rastreabilidade, realizado nos dias 07 e 08 de ago/12 em São Paulo. Após todas as palestras, há uma seção de perguntas, e André também as respondeu:

Alexandre Raffi (presidente da Associação de Criadores de Novilho Precoce – MS) questionou se o preço base para a premiação dos pecuaristas é o de balcão ou é o Índice Cepea/BM&F, comentando também sobre o que os frigoríficos acham do crescimento exponencial destas novas marcas e selos de carne bovina no mercado brasileiro. André diz que o preço base é o de balcão, o negociado entre o produtor e seu frigorífico. Já em relação à visão da indústria, “o volume de animais abatidos de associados é crescente, temos uma força em mãos. Portanto, o frigorífico não tem porque ter receio, o trabalho é de todos, o programa melhora a matéria-prima para a indústria. E o incentivo ao produtor é essencial. A parceria hoje está satisfatória”.

Alexandre complementa dizendo que os próprios diretores de frigoríficos estão favoráveis a este crescimento. E depois questiona sobre a relação entre animais castrados e inteiros. André comenta que o animal inteiro “é mais vantajoso para produtor”, devido ao maior ganho de peso. Porém, para participar do programa Nelore Natural e receber a premiação, animal inteiro é aceito “somente com zero dente” (ou dente de leite, mais jovem do que dois anos de idade) diz André, devido às características da carne. Os machos castrados são aceitos com até seis dentes, por volta de até quatro anos de idade.

Paulo Loureiro (pecuarista e consultor) também participa do debate, dizendo “que é preciso reduzir a idade para 4 dentes dos castrados e eliminar o animal inteiro da premiação, pois a diferença em qualidade de carne é muito grande”. André responde que segundo o professor Pedro de Felício, “a cobertura de gordura é mais importante que a idade, por isso a aceitação de até 6 dentes”. E lembra: é preciso perseguir o ótimo, valorizar o bom e consider o razoável. Ainda, André deixa claro que a evolução do programa é sempre buscar pela redução de idade de abate.

Miguel Cavalcanti (BeefPoint) pergunta o que o PQNN quer melhorar a partir de hoje, como projetos para o futuro. André comenta que a redução da idade de abate é sempre uma busca, além de melhorar o padrão de carcaça dos animais abatidos pelo programa, e agregar e aumentar a ênfase que o programa dá às questões sociais e ambientais.

Ezequiel do Valle (Embrapa – MS) também questiona sobre o preço base para a premiação: porque preço balcão e não o Índice Esalq? E pergunta sobre o rendimento de carcaça dos animais premiados. André explica que o o Índice causou alguns conflitos por causa de certos desalinhamentos entre estes dois preços e por isso passaram a utilizar utilizar o preço de balcão como base para o programa. “Cada produtor negocia com o comprador”. Já sobre o rendimento, André diz que o acompanhamento pode causar conflitos, pois não há um padrão de como fazer e por isso não acompanham. “O padrão de pesagem é muito variável entre os produtores, impossibilitando uma avaliação padrão”, argumenta André.

Marcia Cardelli (Sustentabilidade JBS) deixa sua dúvida quanto à avaliação das fazendas, perguntando “quais são os critérios, e quais são os itens dos check-lists do programa?”. O programa aborda basicamente o sistema de produção, explica André. A espécie da forragem utilizada, quais insumos, se estão dentro da legislação brasileira, se há terminação em semi-confinamento ou confinamento, e também é feita a classificação das carcaças quentes. Sobre questões sociais e ambientais nas fazendas, “o programa tem recomendações aos produtores. As obrigações são requisitadas pelos frigoríficos por enquanto”, expõe André.

Miguel finaliza o debate abordando a introdução do beta-agonista no mercado brasileiro, e diz acreditar em que “a produção a pasto ficará mais interessante em relação à produção de carne para exportação para a UE”, pois mesmo o novo produto sendo atrativo aos pecuaristas, haverá aqueles que não adotarão seu uso, buscando atender o mercado europeu e aproveitar o maior preço médio de exportação. Ele também complementa que há pecuaristas capazes de segregar sua produção, e estes poderão aproveitar diferentes oportunidades, conforme os sistemas produtivos adotados.

Artigo escrito por Marcelo Whately, analista de mercado da Equipe BeefPoint.

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