A estiagem que dura quase um mês em várias regiões do Paraná já reflete no mercado do gado de corte, que apresenta tendência de alta, principalmente no Noroeste do Estado, que detém em torno de 2,5 milhões de cabeças – a maior concentração do plantel do Estado, que é estimado em 9,5 milhões. José Jorge dos Santos Abrahão, pesquisador do Iapar em Paranavaí, diz que a situação preocupa porque os animais, mesmo recebendo, em alguns casos, alimentação complementar, estão perdendo peso, e é quase certo o atraso, de pelo menos 30 dias, na formação de nova pastagem para o início da safra.
“Em fevereiro e março de 2002, quando estariam saindo boi gordo do pasto, os produtores ainda estarão tentando dar maior ganho de peso,” A influência disso tende a repercutir diretamente no preço, que se mantém firme nos últimos dois meses. Ontem a arroba estava em R$ 43, para pagamento em 30 dias. Sem chuva, explica ele, o ciclo natural é retardado, exigindo tratos especiais e manejos que elevam os custos de produção e dão margem a novos aumentos.
Abrahão comenta que o pecuarista, mesmo aquele que cria a campo, se vê obrigado a complementar a alimentação, geralmente por meio de sal proteinado. Enquanto isso, é a hora de quem adota o confinamento ou mesmo a suplementação a pasto aproveitar, alegando custos de produção mais altos, para vender a preços maiores. Porém, segundo o pesquisador, a oferta desses animais não é grande, representando 30% do rebanho da região de Paranavaí. Isto abrirá espaço para os demais fazerem o descarte no final do ano. É uma situação, salienta Abrahão, que não deve se alterar, por causa do atraso no ciclo.
Adélio Ribeiro Borges, técnico do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), explica que a pastagem demora, no mínimo entre 40 e 45 dias para se formar novamente. E devido à falta de chuvas, a rebrota já está atrasada A orientação ao produtor é no sentido de efetuar a suplementação a pasto, mesmo que seja mediante o sal mineralizado – um dos componentes mais baratos no mercado. Borges observa que a média da arroba no Paraná, situada ontem em R$ 41,54, era a melhor do ano, 5,54% a mais que o preço de julho, de R$ 39,03.
Segundo Gustavo Fanaya, economista do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Paraná (Sindicarne), está havendo um desequilíbrio em função das exportações, que passaram a funcionar como termômetro para o mercado interno. Segundo ele, apenas 8% da carne bovina produzida no Brasil está indo para outros países. Os 92% ficam no mercado interno. “O pecuarista tem que pensar duas vezes antes de investir em complementação alimentar e depois querer repassar este custo à indústria, porque simplesmente não existirá este mercado.” Segundo o economista, o setor industrial já chegou ao limite e não tem condições de bancar valores superiores.
Por causa do preço, Fanaya afirma que os 25 frigoríficos paranaenses, autorizados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), estão reduzindo a cada ano o abate, quando não fecham as portas. No primeiro semestre deste ano foram abatidas 660 mil cabeças, 22% menos que o volume de 98, por exemplo, que era de 845 mil. Para o problema não se tornar mais grave ainda, acentuando o descompasso entre campo e indústria, o economista espera que a estiagem não reflita no preço. Porém, seguindo o entendimento do campo, a escassez de chuva só vai agravar a situação.
Fonte: Gazeta Mercantil (por José Marinho, de Curitiba), adaptado por Equipe BeefPoint