Por André Melo*
Neste início de 2013 tenho conversando com muitos técnicos e confinadores. O sentimento geral é de cautela e não poderia ser diferente haja visto as incertezas de preços dos insumos que compõem as dietas e do preço de venda do boi gordo.
Como produtores de commodities enfrentamos o dilema dos tomadores de preços e o impacto da oferta e demanda. A cada ano que passa confinar bois exige um esforço de estratégia comercial de insumos, acertar a mão na hora de hedgiar não só o boi mas agora também o milho e a soja, melhorar a estrutura de armazenagem de insumos, investir em instalações mais adequadas à chuva, fidelizar a mão-de-obra ou seja, a coisa tá ficando mais apertada. Os anos vão passando a inflação vai depreciando o valor do boi, o custo financeiro do capital de giro aumenta, o salário da turma do manejo aumenta, o antigo ágio do boi gordo sobre o boi magro vai virando deságio e os confinadores passam a depender da eficiência produtiva para ganhar dinheiro.
Em um cenário de tomada de decisão no qual a @ do boi magro está custando o mesmo preço ou está mais cara do que o boi gordo, a única alternativa e a mais discutida forma de ganhar dinheiro no confinamento é produzir @s à custo mais baixo do que o preço de venda.
Antes de falarmos dos cenários de custos de confinamento para 2013 é necessário padronizarmos a conversa sobre eficiência produtiva.
E como se mede a eficiência produtiva em um confinamento. Nestas conversas vejo que muita gente avalia o negócio de confinamento de forma diferente. Gostaria de propor uma linha de raciocínio: avaliar a produtividade do confinamento pela Eficiência Biológica e pelo Custo Operacional. Nada de novo nesta linha de raciocínio, o ponto aqui é facilitar o nosso diálogo sobre o custo de produção.
E o que é a Eficiência Biológica? Porque propor esta metodologia para avaliar o custo Alimentar da @ Produzida? A eficiência Biológica é a relação entre a quantidade de comida (dieta) usada para produzir uma @ de carcaça. Qual a diferença entre Eficiência Biológica e Conversão Alimentar? A Conversão Alimentar mensura a quantidade de dieta para cada kg de peso vivo.
A Conversão Alimentar é uma medida muito interessante e muito usada, porém ela explica uma parte do processo produtivo e é influenciada pela a forma que avaliamos o ganho de peso diário. Se perguntarmos qual o ganho de peso de cada confinador encontraremos muita divergência entre os valores observados. Parte desta variação é explicada pela diferença do escore de entrada dos bois magros, pelo efeito da recria, pela diferença de horário que foi feita a pesagem inicial e final, pela idade dos animais, pelo tipo de jejum, pelo período de viagem dos animais, pelo período de engorda etc. O ponto mais limitante que vejo sobre o uso da Conversão Alimentar como medida única de produtividade é o fato de recebemos pela venda de carcaça e não pelo ganho de peso vivo. A Conversão Alimentar avalia a produtividade até o embarque da boiada e a Eficiência Biológica avalia até o peso no gancho.
A Eficiência Biológica explica um pouco mais sobre a produtividade do confinamento, pois avalia o custo da carcaça produzida. A Eficiência Biológica é obtida pela divisão da quantidade de dieta pelo número de @s de carcaça vendida ao frigorífico. Isto não quer dizer que devemos esquecer o ganho de peso e a Conversão Alimentar como medidas complementares da análise.
Um ponto comum entre a Conversão Alimentar e a Eficiência Biológica é a necessidade do confinamento controlar a oferta de dieta através de balanças na fabricação e distribuição dos tratos. Esta informação é muito útil para evitar erros de oferta e minimizar desperdícios. A literatura científica e a prática do dia a dia mostram que a oferta de dieta à vontade superestima o consumo dos animais. Consequentemente, há uma oferta de dieta acima da necessidade diária para o mesmo ganho de peso. Para afinar a oferta e acompanhar a curva de consumo dos lotes é necessário o controle das informações de leitura de cocho, comportamento animal e sobras. Existem softwares disponíveis no mercado que auxiliam a realização destas tarefas. Exercite o cálculo da quantidade ofertada acima da necessidade animal e veja o impacto no Custo Alimentar da @ Produzida. Para os confinamentos que não possuem balanças ou softwares, uma alternativa é controlar o número de vagões dia a dia ou ao término do confinamento contabilizar todas as notas fiscais e subtrair de estoques remanescentes de alimentos e dividir pelo total de @s Produzidas. Esta com certeza não será uma informação tão precisa quanto as balanças e softwares, mas facilitará sua tomada de decisão quanto ao investimento destas tecnologias para o próximo giro.
Para ilustrar o raciocínio segue uma situação muito corriqueira na análise de 2 lotes: Os dois lotes possuem o mesmo peso de entrada, consumiram a mesma quantidade de dieta e ficaram o mesmo período de cocho. O Lote 1 apresentou uma conversão alimentar de 6,4 kg de matéria seca por kg engordado e o Lote 2 apresentou uma conversão alimentar inferior em 9% ou seja, precisou comer 7,0 kg de dieta para cada kg produzido. Qual o Lote mais produtivo? Sem analisarmos a Eficiência Biológica optaremos pelo Lote 1 que apresentou melhor conversão alimentar.
Após recebermos o romaneio de peso do frigorífico, calcularmos o rendimento e o peso da carcaça dos lotes. A avaliação fica mais favorável ao Lote 2 pois apresenta uma Eficiência Biológica de 4% inferior ao Lote 1. O Lote 2 demandou 153 kg de matéria seca para cada @ de carcaça produzida enquanto o Lote 1 demandou 159 kg de MS/@ produzida.
Após esta revisão observamos que o Custo Alimentar da @ Produzida no confinamento é feito pela multiplicação da Eficiência Biológica pelo Custo da Tonelada da Matéria Seca da Dieta. Usando o exemplo anterior, vamos considerar que a Tonelada da Matéria Seca da dieta dos dois lotes seja de R$ 480,00.
Lote 1- O Custo Alimentar ou a @ Produzida Alimentar é dado pela multiplicação de 159 kg de MS x R$ 0,48 = R$ 76,32/@ Produzida.
Lote 2- 153 kg de MS x R$ 0,48 = R$ 73,44/@ Produzida. Uma diferença de -4%.
Uma sugestão para evitar as distorções de rendimento de carcaça é usar um rendimento médio padrão. Exemplo, se a média dos lotes do confinamento está com rendimento de 54,8% ajuste o rendimento de todos os lotes para este valor. Desta forma padroniza-se o rendimento e facilita o cálculo da Eficiência Biológica.
Um ponto que deve ser explicado é a Tonelada da Matéria Seca da Dieta. O que é a MS? Como calcular a MS da minha dieta? Como calcular o custo da MS da minha dieta? Qual a importância desta informação?
Quando o nutricionista está formulando a dieta do confinamento ele considera que os alimentos possuem uma porção úmida que é composta basicamente por água e uma porção seca. Esta porção seca é chamada de Matéria Seca (MS). Nesta porção estão todos os nutrientes necessários para os bois (proteína, energia, minerais, vitaminas etc) e todo o custo do alimento é feito sobre a MS.
Como exemplo uma silagem com 32% de Matéria Seca e 68% de umidade. O custo da tonelada desta silagem é de R$ 100, logo a tonelada da matéria seca desta silagem custa R$ 312,50 (R$ 100 / 0,32 ton). A matéria seca da dieta é calculada a partir da soma da MS de todos os ingredientes. Lembrando que o custo da tonelada do insumo deve levar em conta o frete, a armazenagem, as perdas, descarga, comissões etc. Segue um exemplo de cálculo do custo da tonelada da MS.
Qual a melhor dieta? Qual dieta me oferece um melhor custo benefício? Devo focar no Valor da Diária ou no Custo Alimentar da @ Produzida? A próxima tabela traz diferentes cenários de Custo de MS de diferentes dietas. Observe o impacto da Eficiência Biológica e o Custo da Tonelada da MS no Custo Alimentar da @ Produzida.
Bom agora que fizemos o cálculo do Custo Alimentar da @ Produzida falta o outro componente do Custo Total da @ Produzida: o Custo Operacional. O que compõe o Custo Operacional da @ Produzida? Da mesma forma que há diferentes pontos de vista sobre o que deve ser incluído no cálculo do Custo Operacional consideraremos as despesas inerentes à produção do confinamento:
• Combustíveis;
• Salários e Encargos;
• Prestadores de Serviços;
• Energia Elétrica;
• Telefonia;
• Aluguel de Veículos, Equipamentos e Instalações;
• Manutenção de Equipamentos e Instalações;
• Produtos Veterinários;
• Rastreabilidade;
• Softwares de Gestão;
• Consultorias;
• Mortalidade;
• Controle de Pragas;
• Manutenção de Tropa;
• Impressos e Material Expediente;
• Despesas com Hospedagem e Alimentação de Colaboradores;
• Taxas, Impostos, Licenças;
• Análises Laboratoriais;
• Ferramentas de Trabalho;
• Outros.
Um ponto que é bastante discutido sobre o cálculo do Custo Operacional é a inclusão ou não da Depreciação. A Depreciação é uma informação Contábil que visa a redução do pagamento de impostos. A Depreciação varia muito da vida útil do confinamento, do valor residual estimado após a vida útil, da quantidade de equipamentos, do tipo de instalações etc. A Depreciação é usada pelos contadores na elaboração do Balanço Patrimonial e geralmente não é usada pelos confinamentos para cálculo do Custo Operacional da @ Produzida. Fica à critério de cada gestor optar ou não pela inclusão da Depreciação no cálculo.
Os pontos que mais pesam sobre o Custo Operacional de um confinamento são a ociosidade deste confinamento, a relação de colaboradores por boi instalado e a relação de combustível por tonelada de matéria seca ofertada.
Ano após ano observamos o aumento do salário mínimo, combustíveis e consequentemente a locação de equipamentos e contratação de serviço de terceiros. A fim de reduzir o impacto destes aumentos muitos confinamentos buscam a redução de custos operacionais pela Economia de Escala e partem para projetos maiores. A consequência desta estratégia é o risco da ociosidade que acaba onerando os custos operacionais caso o ponto de equilíbrio entre as despesas, investimento e número de animais engordados não sejam observados.
Para reduzir a ociosidade os confinamentos têm buscado aumentar o período do ciclo do confinamento, avançando pelos períodos chuvosos. Esta estratégia demanda instalações preparadas para o desafio climático com melhor ambiência para os animais, que minimizem desperdícios de dieta e resistentes aos desgastes naturais.
Como parâmetro de eficiência do número de colaboradores e exposição à aumentos salariais os Americanos buscam o número de referência de 1 colaborador para cada 1.000 animais instalados (capacidade estática ou por turno de engorda) para alcançar este número trabalham com escalas muito grandes. No Brasil tenho observado que um bom número é de 1 colaborador para cada 600 animais instalados. Este número não é uma verdade absoluta mas serve como parâmetro. Continuando este raciocínio o segundo ponto de relevância no operacional é o dimensionamento de máquinas de mistura, distribuição e fabricação de dieta. O sub e o superdimensionamento são onerosos e impactam na necessidade de operadores e principalmente na quantidade de combustível por tonelada de MS distribuída. É muito comum encontrarmos confinamentos com baixa capacidade de armazenagem, baixa fabricação de toneladas de dieta por hora e pouca metragem cúbica de distribuição disponível por cabeça. A minha opinião sobre esta situação não é a falta de conhecimento dos confinadores destas variáveis, mas sim pelo elevado investimento e baixa oferta de linhas de financiamento com taxas e prazos atrativos. A falta de concorrência de fornecedores de equipamentos e as altas taxas de impostos e juros elevam os valores dos equipamentos de fábrica de ração. O ponto em questão é analisar o custo benefício gerado pela redução das despesas operacionais e melhorias na Eficiência Biológica gerado pelo dimensionamento acertado das tecnologias. Cabe a cada um encontrar um modelo eficiente para cada realidade.
Qual o impacto do Custo Operacional no Custo Total da @ Produzida? A próxima tabela mostra diferentes cenários de Custos Operacionais. Cada confinador poderá encontrar qual o valor de Custo Operacional está mais próximo de sua realidade e visualizar o impacto no Custo da @ Produzida.
Observe na planilha que um confinamento com 90 dias de cocho com Custo Operacional Diário de R$ 1,00 por cabeça e com Desempenho de 6,8 @/cab, possui um Custo Operacional de R$ 13,20/@ Produzida.
Após o cálculo do Custo Alimentar e Operacional da @ Produzida obtemos o Custo Total da @ Produzida. Bastam somar os dois custos para chegar ao Custo Total.
O aumento do custo da energia e proteína das fontes nutricionais nos força a usar cada vez mais insumos que tenham uma ótima absorção ruminal e intestinal. Estratégias que aumentam a absorção do amido como Silagem de Grão Úmido, Milho Grão Reconstituído (Reidratado), Floculação e Milho Rolado (moinho de rolo) devem ser consideradas. A associação de fontes proteicas de boa absorção como o Farelo de Soja ou Farelo de Amendoim associadas aos subprodutos de Algodão (torta ou caroço) é uma alternativa bastante usada e viável. O uso correto de aditivos (monensina, virginamicina etc.) associados à boas fontes de minerais e vitaminas complementam o aporte nutritivo e melhoram o desempenho.
Em anos de custos operacionais elevados e altos preços de insumos nutricionais a alternativa para reduzir o Custo da @ Produzida é Maximizar a Eficiência Biológica.
*André Melo é Zootecnista, Mestre em Economia Aplicada ao Agronegócio e cursou MBA em Gestão de Negócios. Atua à dez anos no mercado de confinamento e pasto e atualmente é Consultor Técnico Comercial da Vaccinar Nutrição Animal.
14 Comments
excelente trabalho André!
Tema bem abordado. Apenas friso que, na minha opinião, adquir arroba de boi magro por valor superior a do boi gordo é o padrão dominante. Em alguns momentos pode ocorrer o inverso, mas não é a regra. A arroba mais cara, via de regra, é a do bezerro, depois a segunda mais cara é a do garrote, a terçeira mais cara a do boi magro e por fim a mais barata é a do boi gordo. Este padrão pode ser alterado em fortes momentos de crise / ajuste da cadeia ou em pontos localizados com insuficiencia de pasto para mater em bom estado todos os animais existentes. Quem estruturar seu negócio contando comprar arroba de boi magro por menos que a arroba do boi gordo pode ter surpresa desagradável. O confinador tem que focar no seu custo de produção (ganho de peso + rendimento de carcaça), na obtençaõ de prêmio Europa e na oscilação de preços de safra / entresafra..
Gostei muito da matéria, vamos confinar 60000 bois esse ano em 2 giros de 30000 e temos 52000 bois a pasto em 18 arredamentos, uma fabrica de ração própria e 1000 ha de lavoura para produção de silagem, hoje contamos com 89 colaboradores, essa relação colaborador x boi e feita em cima de tudo ou apenas no confinamento quando recebemos o animais?
André,
Parabéns pela matéria. Muito objetiva e direta. É muito importante que o nosso setor produtivo entenda que o ganho em peso ou mesmo a conversão alimentar é apenas parte do assunto. Precisamos divulgar a importância de considerarmos a conta até a carcaça, no seu exemplo, a eficiência biológica, caso contrário os números só contam parte da história.
Parabéns novamente pelo texto e sucesso no novo desafio.
Abcs
Obrigado Jeronimo!
Abraços
André.
Bom dia José Ricardo,
Obrigado pelos comentários positivos e excelentes observações.
Abraços
André.
Bom dia Wagner,
Muito obrigado pelo seu feedback!
A relação de funcionários por boi é calculada levando em consideração os colaboradores diretos, ou seja, aqueles que ficam diretamente envolvidos na engorda dos bois. Os colaboradores que participam de recria, agricultura etc devem ser contabilizados e avaliados operacionalmente em seus respectivos centros de custos. De ante mão, digo que você é um gestor muito eficiente pelo número de colaboradores e o número de atividades. Um ponto muito positivo que suas atividades integradas permitem é aproveitar mão-de-obra ociosas em momentos de baixa demanda. Um ponto importante é lembrarmos que prestadores de serviço também devem ser lembrados na avaliação de eficiência operacional.
Abraços,
André.
Parabéns André, a matéria foi muito bem explorada e certamente vai ser decisiva para muitos confinadores acreditarem que é possível confinar e ter retorno financeiro, mesmo com os insumos em alta, e parece que vão ficar assim por um bom tempo. Gostaria de lembrar que alguns pecuaristas fazem o ciclo completo com cria de excelente qualidade e isto pode ser um grande diferencial, pois a quantidade de arroba produzida com menor custo é muito maior que quando se compra o boi magro em um mercado disputado. Em meu ver, com a forte demanda de consumo por carne de qualidade, e preços de insumos altos, esta estratégia aliada a tecnologia de suplementação em pasto e confinamento preservarão as margens do pecuarista.
Obrigado Fábio!
Realmente o ciclo completo oferece menores riscos pela diversificação, pela transferência de valor entre as fases produtivas e pela oportunidade de originar animais geneticamente mais eficientes e em melhor estado nutricional
Abraços,
André Melo.
Excelente artigo; essa diferença entre conversão alimentar e eficiência biológico é interessante!!
Sucessos!!
Muito obrigado Gustavo,
Você, o Flávio e toda a equipe do Apta de Colina são referência de pesquisa para nós. Os abates de referência e todo o acompanhamento até a carcaça que são feitos nas pesquisas de Colina quantificam o custo benefício de tecnologias e estratégias nutricionais.
Grande abraço
André.
Adm, Aurélio fagundes da silva
Parabéns pela matéria, esta por sinal mostrando passo a passo o custo de produção de um confinamento. O confinamento fecha a cadeia da carne, é o último requisito da pecuária, onde temos a cria, a recria e engorda, onde entra o confinamento como uma boa opção para engordar (terminação) dos bovinos. A matéria mostrando o custo de produção, onde muitos se esquecem desta ferramente importantíssima, Parabéns! excelente matéria do agronegócio Brasileiro.
Parabéns pelo artigo, muito bem colocado a importância de estarmos atentos aos custos da arroba produzida.
Abraço
Bom dia,
Ótimo artigo André.
Estou interessado em começar a confinar este ano, porém o ano de 2013 não está me animando.
Abraço.