Estão querendo prender o boizinho gaúcho e ele não poderá mais sair do RS. Tipo cerveja Polar: ″NO EXPORT″. Parece brincadeira, mas esta é uma bandeira levantada pelos frigoríficos para frear a saída de bovinos para fora do RS, seja para o exterior ou para outros estados.
Estão querendo prender o boizinho gaúcho e ele não poderá mais sair do RS. Tipo cerveja Polar: ″NO EXPORT″. Parece brincadeira, mas esta é uma bandeira levantada pelos frigoríficos para frear a saída de bovinos para fora do RS, seja para o exterior ou para outros estados. Em 2012 mais de 85 mil bovinos vivos saíram do estado para exportação (navio) e para outros estados, especialmente SP. Nos últimos 5 anos este movimento cresceu mais 3 vezes e agora vem gerando desconforto aos nossos frigoríficos. Estes alegam que esta é uma grande causa da ociosidade das plantas frigoríficas.
O volume de animais exportados contribui para formar preço do gado no RS (bom para o produtor), mas representa somente pouco mais de 4% do abate anual (aprox. 2,05 milhões de cabeças). O produtor vende para este mercado porque é um cliente que normalmente lhe paga mais por gado diferenciado, com preços para animais de raças definidas, jovens, etc. É natural que isto ocorra, pois a meta de qualquer pecuarista é vender o melhor possível o seu produto. Da mesma forma, que é lógico entender o esforço da indústria em comprar o boi pelo menor preço possível, pois este é o principal custo de sua operação. Ninguém está errado e a conversa de que as margens devem ser mais bem divididas e os ganhos melhor repassados entre os setores de pecuária é discurso de quem não é do comércio.
Para conter este processo o SICADERGS está propondo uma taxação de R$50 para animais que saem do estado. Observe-se que o trânsito interestadual já prevê pagamento de ICMS e assim quer se taxar mais o que já é taxado. Este mesmo tipo de proposta já foi encaminhado pela ABIEC para taxar a exportação de boi em pé do Brasil, produto que é isento como qualquer outro de exportação. A proposta da ABIEC não colou, mas o RS volta a esta discussão.
Acredito no livre comércio. A nossa vizinha Argentina nos mostrou nos últimos anos como os intervencionismos realizados foram danosos para aquele país que era liderança e referência em carne de qualidade: reduziu rebanho, reduziu renda no campo e perdeu espaço para outros exportadores de carne. Do outro lado do mundo, a Austrália é o maior exportador naval de gado do mundo e está sempre entre os maiores exportadores de carne também. Logo, dizer que uma atividade canibaliza a outra é super simplificação.
Dizem que temos pouca memória, mas pergunto se alguém lembra se em 2008 houve alguma revolução contra a importação de gado do Uruguai para o RS. Naquele ano os nossos frigoríficos importaram aproximadamente 50 mil cabeças e esta ação foi defendida pelo mesmo SICADERGS. Bom, talvez 5 anos atrás o entendimento deles fosse diferente do que é bom para a pecuária gaúcha e do que não é. Que fase!
Publicado em 25 de abril de 2013 no Jornal Folha do Sul (Bagé, RS)
7 Comments
É isso aí Velloso, faço minhas as tuas palavras.
Grande abraço
Perfeito, Velloso. Como diz o ditado popular, pimenta nos olhos do outro e refresco.
Abraços,
Situação muito bem explanada pelo Sr. Velloso.
Os frigoríficos sempre com dois pesos e duas medidas:
Quando convém defendem a intervenção seja ela do estado ou de qualquer outro. Quando não convém defendem a livre concorrência, sem intervenção alguma. Com isto esperamos que nossos sindicatos, FARSUL, CNA, nos defendam com todos os dispositivos possíveis contra esse absurdo.
Vamos nos mobilizar e não aceitar essa possibilidade.
Grande abraço a todos.
Concordo 100%! Também acredito no livre comércio e que intervencionismos acabam desequilibrando o mercado podendo causar muitos danos à cadeia, como no exemplo argentino. No entanto, por mais que seja legítima a defesa do seu lado da negociação, as entidades precisam ter coerência, não ser favorável ao livre comércio em uma situação que convém aos seus representados e contra em situação desfavorável aos mesmos. Essa coerência necessita ser ainda maior quando tratamos de entidades que representam setores muito fortes da cadeia, pois em caso contrário a parte mais fraca, o produtor, acaba ficando “maneado” aos interesses do lado mais forte. Dessa forma, espera-se que o governo defina de forma justa, zelando para que as “regras do jogo” sejam as mesmas para todas as partes.
Então Velloso, te parabenizo pelo teu artigo em defesa da nossa pecuária!
Abraços,
Seria o mesmo que taxar fortemente a carne de ser vendida fora do estado, pois se há demanda forte dos “outros” brasileiros pela melhor carne gaúcha, significa que atualmente o gaudério paga mais pela carne do que pagaria na vigência desta minha proposta kirchneriana. Eu mesmo compro carne do Frigorífico Silva em Jussara (GO) a preços bem convidativos, que ninguém nos ouça. Com o novo imposto, os preços ficariam inviáveis — mais caros que o Swift Black.
Digo mais: a arrecadação desta outra taxa seria muito maior e os benefícios da queda no preço da carne atingiriam um arco ainda mais amplo de cidadãos. Empregos perdidos na indústria seriam recuperados nos açougues e nas atividades econômicas beneficiadas pela súbita irrigação monetária promovida pelo dinheiro economizado na compra da carne.
E por aí vai… (risos)
Excelente comentário Humberto.
Outra relação e lembrete, é olhar para a Argentina. O que os frigoríficos querem no RS é muito parecido com o que o governo da Argentina fez.
E olhem o resultado…
Abs, Miguel
há muitos anos no brasil imperou a velha maxima de “privatizar o lucro e socializar o prejuizo”, os donos de frigorificos, saudosos dessa época, sempre diziam que o baixo preço de cotaçao do boi “era uma questao de mercado”, mas quando a gangorra inverte apelam para o protecionismo. Eta profissionais de mercado! talvez por ai se explique a permanente intranquila situação financeira da cadeia frigorifica brasileira. edison iunes ferreira