O Workshop BeefPoint – Estudos de caso sobre pecuária de cria será realizado no dia 18 de junho, em São Paulo, SP. O BeefPoint preparou uma série de entrevistas com cada um dos palestrantes. Confira abaixo a entrevista com Leonardo Souza.
Leonardo Souza é médico veterinário graduado pela Universidade Federal de Goiás. É especialista em pecuária de corte pelo REHAGRO e sócio diretor da Qualitas Melhoramento Genético com 18 anos de experiência com consultoria em pecuária de corte.
A empresa é responsável pelo Nelore Qualitas, Programa de Melhoramento Genético com mais de 40 fazendas participantes. Em 2013 também foram lançados os programas Qualitas Bonsmara e Qualitas Senepol.
O tema da palestra de Leonardo será Agro Pontieri: aumentando 30% a produção de bezerros com a mesma quantidade de vacas.
BeefPoint: O que você considera mais importante em uma fazenda de pecuária de cria?
Leonardo Souza: O mais importante em uma fazenda de cria é a quantidade de bezerros desmamados por ano em relação ao número total de fêmeas existentes na fazenda. Essa seria a principal medida de eficiência na cria.
BeefPoint: Qual o exemplo de pecuária do futuro na cria, no Brasil hoje? Quem você admira por fazer um excelente trabalho?
Leonardo Souza: No Workshop 2013 apresentaremos o estudo de caso da AgroPontieri, que é a fazenda de cria mais eficiente que conheço. Além desta propriedade, tenho admiração por todas as fazendas que estão diminuindo a idade ao primeiro parto das matrizes para 2 anos de idade.
BeefPoint: Qual o maior desafio da pecuária de cria no Brasil hoje?
Leonardo Souza: Melhorar a genética, a nutrição e a sanidade da pecuária de cria são imprescindíveis para aumentar a sua eficiência. Na recria e engorda muito se evoluiu, mas a “vacada” ainda tem ficado com os piores pastos da fazenda e com o mínimo de investimento em genética e nutrição. Não dá para manter a pecuária de cria com um índice de desmama de 60%. Não tem negócio no mundo que aguente 40% de inadimplência.
BeefPoint: Em relação a pecuária de cria, qual inovação / novidade na pecuária de corte você mais gostou dos últimos anos? O que estamos precisando em inovação?
Leonardo Souza: A maior inovação da cria chama-se IATF (Inseminação em Tempo Fixo). Ela permitiu a introdução maciça de genética de qualidade nos rebanhos e viabilizou a redução da estação de monta para 70 dias. Isso provoca uma revolução na cria, pois só assim é possível produzir um bezerro por vaca por ano.
Além disso, otimiza a execução das atividades na fazenda, pois quando inicia-se a estação de monta, todas as vacas já pariram. Com isso os colaboradores se dedicam exclusivamente à inseminação das matrizes. Sem contar na padronização dos bezerros, que nascem também em um curto intervalo de tempo.
BeefPoint: O que você implementou de diferente na sua pecuária de cria em 2012? O que você fez em 2012 que te trouxe mais resultados?
Leonardo Souza: O maior desafio que enfrentamos em 2012 foi convencer criadores participantes do Nelore Qualitas a inseminar novilhas aos 14 meses. Apresentaremos resultados surpreendentes no Workshop que realmente mudam a “cara” da pecuária de cria brasileira.
BeefPoint: O que você pretende fazer de diferente em 2013, em pecuária de cria? E porque?
Leonardo Souza: Em 2013 continuaremos com a campanha em prol do investimento em genética, nutrição e sanidade. Estimularemos cada vez mais os produtores a trabalharem para diminuir, o mais rápido possível, as estações de monta e iniciarem a reprodução de suas novilhas aos 14 meses.
Além disso, acreditamos que a melhoria da qualidade dos bezerros desmamados também passa por um bom manejo nutricional das fêmeas prenhes.
Trabalhos de pesquisa comprovam que a qualidade do bezerro depende da boa condição corporal da mãe entre o 3º e o 7º mês de gestação. Portanto, investir na boa nutrição das matrizes neste período é um novo desafio para o criador.
BeefPoint: Como tornar a comercialização do bezerro mais eficiente? O que falta no Brasil?
Leonardo Souza: No Brasil vivemos duas situações de comercialização bem distintas. A quase totalidade da venda de bezerros é feita com base no “olho”. O vendedor querendo “enganar” o comprador dizendo que seus bezerros são bons e pesados, sem fornecer ou mesmo sem saber o peso dos seus animais e o comprador, do outro lado, também querendo comprar o animal pelo menor preço possível tendo que adivinhar o peso dos bezerros. Quase sempre, neste tipo de transação, a qualidade dos bezerros é inferior e uma das partes fica insatisfeita com o negócio.
No outro extremo, temos a comercialização transparente onde o vendedor informa o peso dos bezerros que ele está vendendo, geralmente de boa qualidade. Com isso, o comprador tem como calcular se o preço que o vendedor está pedindo ou que ele está pagando é coerente com o peso e com a qualidade dos bezerros. Acho que devemos caminhar neste sentido, pois só assim, haverá realmente uma pressão por parte dos compradores pela melhoria da qualidade dos bezerros produzidos no país.
BeefPoint: O que o setor poderia / deveria fazer para aumentar a competitividade da pecuária de cria no Brasil?
Leonardo Souza: Como já disse acima, investir em genética, nutrição e sanidade é fundamental, mas infelizmente pouca gente faz. Outro ponto muito sério da pecuária de corte no Brasil é a falta de profissionalismo. Só aqui é que existe tanto pecuarista de fim de semana. Todo profissional liberal e empresário que ganhou algum dinheiro na cidade investiu em terras e virou fazendeiro.
Portanto, a grande maioria não depende da fazenda para viver. Digo a grande maioria, pois existem exceções. E esse é o grande problema. Temos milhares de fazendas ineficientes sem serem pressionadas para aumentar a produtividade, pois são tratadas como ativos imobiliários e não como unidades de produção, prejudicando, quem depende do negócio para viver ou tenta ser eficiente.
Acho que deveria haver uma maior pressão por eficiência. Como o próprio governo já disse: dá para duplicar ou triplicar a produtividade da pecuária de corte brasileira. A tecnologia para isso já existe. É uma questão de querer fazer.
BeefPoint: Qual seu recado para produtores de gado de corte, em especial criadores?
Leonardo Souza: Minha mensagem é que a cria é uma das atividades com maior potencial de retorno dentro da pecuária. Os desafios são grandes, mas não impossíveis. Exemplos reais de pecuária de cria altamente lucrativas existem. Não tenham medo de investir na atividade, principalmente em genética voltada para produtividade. Ela é a base para que o investimento em nutrição e sanidade tenha altos retornos financeiros.
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