Muita coisa aconteceu nas três semanas desde que a Associação Nacional de Produtores de Carne Bovina dos Estados Unidos (NCBA) se reuniu em Denver onde surgiram animadas discussões sobre claudicação, letargia e outros sinais de estresse – incluindo ocasionais mortes súbitas – observadas em animais tratados com o beta-agonista Zilmax.
Muita coisa aconteceu nas três semanas desde que a Associação Nacional de Produtores de Carne Bovina dos Estados Unidos (NCBA) se reuniu em Denver onde surgiram animadas discussões sobre claudicação, letargia e outros sinais de estresse – incluindo ocasionais mortes súbitas – observadas em animais tratados com o beta-agonista Zilmax.
No começo da conferência da NCBA, em 7 de agosto, a Tyson Foods anunciou que a partir de 6 de setembro não aceitaria mais animais que receberam Zilmax. Em 16 de agosto, a fabricante do Zilmax, Merck Animal Health, tirou o produto do mercado e anunciou planos para estudar a situação. Em 16 de agosto, a Cargill se tornou a segunda grande companhia processadora de carne bovina a afirmar publicamente que pararia de aceitar gado que recebeu Zilmax a partir do final de setembro.
Especialistas da indústria estimam que até 70% do rebanho bovino dos Estados Unidos está atualmente recebendo um dos dois beta-agonistas: Zilmax ou ractopamina, no produto chamado Optaflexx, fabricado pela Elanco Animal Health. A produção extra de musculatura lisa que eles estimulam se tornou um componente crítico do modelo de produção de carne bovina, particularmente à medida que o rebanho caiu e os preços dos grãos aumentaram.
Se os produtos fossem tirados do mercado permanentemente, causaria estragos na estrutura de custos da indústria pecuária doa Estados Unidos. Até agora, o que falta nesse debate são evidências científicas, baseadas em ciência. Para isso, a NCBA e vários conselhos estaduais de carne bovina financiaram pesquisas que começaram nesse verão, encabeçadas pelo professor de medicina e epidemiologia da produção da Universidade do Estado do Kansas, Dan Thomson. Ele tem doutorado em medicina veterinária e é PhD em nutrição de ruminantes.
Em sua primeira entrevista sobre essa importante pesquisa, Thomson falou ao MeatingPlace.
MP: Como está sendo a abordagem essa pesquisa?
Thomson: Primeiro, temos que fazer testes diagnósticos adicionais no campo para identificar a patologia e os sinais clínicos observados nos bovinos envolvidos. Então, fazemos uma lista de etiologias – essa poderia ser uma lista muito longa ou poderia ser uma lista muito curta em termos de patógenos ou síndromes que poderiam estar causando os diferentes sintomas. Uma vez que tivermos feito esses testes diagnósticos, então avaliaremos a lista de possíveis causas, incluindo doenças metabólicas, toxinas, patógenos ou outros. Não é simples. Existem muitos ângulos em casos médicos e nutricionais como esse.
MP: O que você acha que está causando os sintomas que os frigoríficos estão observando após os gados chegarem às plantas?
Thomson: Eu acho que é uma combinação de muitos fatores. Acho que essa é uma situação induzida pelo estresse. Essa é minha intuição – seja o tamanho dos animais, predisposição genética, manejo do animal, comprimento do caminhão de transporte, dosagem e uso de beta-agonista, estresse térmico e todas essas coisas causam estresse nesses animais, que culmina nos sinais clínicos observados. Para adicionar tantas variáveis diferentes, não podemos identificar qual animal vai sucumbir a ela nesse ponto. Eu não acho que nenhum de nós sabe exatamente o que está acontecendo. Existe muita especulação na indústria, mas, de acordo com meu conhecimento, não aprofundamos na fisiologia e no metabolismo para entender melhor a farmacologia, a fisiologia e o manejo de produção e como tudo isso interfere para culminar nos sinais clínicos observados. Esse é um assunto complexo, sem uma resposta simples.
MP: Isso está aparecendo mais em algumas raças de bovinos do que em outras?
Thomson: Não. Todas as doenças ou síndromes como essa é uma questão do animal individual. Entretanto, precisamos administrar o problema a nível de grupo porque não colocarmos a ração no cocho para um animal. Os beta-agonistas e outros aditivos alimentares são administrados através da ração, de forma que a dose da droga consumida é baseada no comportamento individual de consumo do animal. É difícil controlar as doenças individuais animais e os problemas quando você os está manejando a nível de curral com a administração de drogas na ração indo para o grupo inteiro. Uma coisa que sabemos é que é uma população inteira de bovinos que são afetados.
MP: Onde você está agora em seu processo de pesquisa?
Thomson: Estamos fazendo pequenos estudos intensivos de fisiologia para examinar os efeitos dos beta-agonistas zilpaterol e ractopamina no rebanho em terminação. A Faculdade de Medicina Veterinária em parceria com o Departamento de Ciência Animal da Universidade do Estado do Kansas tem uma instalação de pesquisa onde podemos monitorar os consumos individuais de ração dos animais, de forma que podemos medir o quanto da droga cada animal consome. Além de coletar amostras de sangue periodicamente para medir os marcadores bioquímicos, desenvolvemos monitores cardíacos que medem a frequência cardíaca e os ritmos cardíacos por períodos de 24 horas. No campo, estamos avaliando intervenções de manejo de produção com o uso de beta-agonistas.
MP: Quais produtos vocês estão estudando especificamente?
Thomson: Zilmax e Optaflexx.
MP: Vocês estão trazendo os animais que estão exibindo sintomas?
Thomson: Não. Estamos usando bovinos comerciais próximos aos pesos ao abate e estamos colocando-os em dietas com ou sem Optaflexx ou com ou sem Zilmax. Então, colocamos os monitores cardíacos neles e observamos seus ritmos e taxas cardíacas durante períodos extensos de tempo.
MP: Há quanto tempo vocês estão fazendo isso?
Thomson: Temos feito isso há semanas e faltam algumas semanas do estudo para terminarmos.
MP: Quantos animais vocês estão monitorando?
Thomson: Nesse estudo, 30 cabeças. Isso não parece muito, mas se você está caminhando tentando obter os ritmos cardíacos em 30 animais (grandes), é difícil de manusear.
MP: O que mais está envolvido?
Thomson: O outro estudo que estamos conduzindo é a aquisição de amostras de coração, rins, fígado e pulmões de animais no campo que morreram repentinamente que usavam ou não os beta-agonistas, ou Optaflexx, ou Zilmax. Estamos coletando amostras em todo o país de rebanhos em estabelecimentos de engorda e avaliando a histologia dessas amostras para ver se existe uma diferença na patologia dos animais que morrem quando consomem beta-agonistas com relação aos que morreram e não recebiam beta-agonistas.
MP: Depois que vocês terminarem esses testes com 30 animais, o que acontecerá?
Thomson: Analisaremos os resultados, interpretaremos os dados e reportaremos nossas descobertas. As pessoas precisam entender que esse é um dos muitos projetos de pesquisa necessários. Isso não será o fim do conhecimento necessário para mover nossa tecnologia adiante. As pessoas precisam entender no final do dia que os produtores e frigoríficos estão vendo problemas no campo, mas não podemos identificar ainda o que exatamente está causando os problemas. Então, temos que continuar trabalhando. Não será uma solução rápida. Levará muito tempo e esforço. Nossos consumidores esperam isso de nós. Com relação aos beta-agonistas, é uma questão de saúde e bem-estar animal. Não é uma questão de segurança alimentar.
MP: Quando você espera ter algumas respostas?
Thomson: Teremos algo dentro dos próximos meses. Vamos aprender muito daqui para frente. Eu acho que nós (a indústria) fizemos a coisa prudente. Eu elogio a Tyson por ter coragem de agir e dizer que precisamos investigar isso. Eu elogio a Merck por sua remoção proativa do produto até que mais coisas sejam esclarecidas. Eu participarei de um comitê de aconselhamento para eles junto com todos os especialistas em bem-estar de várias universidades, companhias e grupos de produtores. A Merck está dizendo para avançarmos e trabalharmos nisso. Eu acho que no final do dia, teremos alguns problemas relatados. Estamos fazendo a pesquisa no campo e através de literatura. A indústria de carne bovina continua me deixando orgulhoso por fazer a coisa certa. Agora, é hora de fazer a pesquisa que levará à redução dos problemas com o rebanho no campo.
Fonte: MeatingPlace.com, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.
1 Comment
Diria que o mais importante para a cadeia é a preservação da reputação da carne bovina. Se há suspeitas de consequencias negativas decorrentes de um determinado procedimento deve-se parar da adotá-lo e estudá-lo melhor, até se concluir se a suspeita é procedente ou não.