Os primeiros experimentos relacionados à irrigação de pastagens no Estado de São Paulo foram desenvolvidos por Guelfi Filho (1972 e 1978) em Piracicaba – SP. O autor observou que a irrigação proporcionava aumento na produção total de matéria seca dos capins elefante e colonião durante o ano, entretanto, não contribuía para alterar a curva de estacionalidade de produção de matéria seca, sendo que as irrigações efetuadas durante o período de “verão” (quente e úmido) eram mais vantajosas que as irrigações feitas durante o período do “inverno” (frio e seco). O autor verificou também que o uso da água para produção de matéria seca pela planta forrageira durante o “verão” era cerca de três vezes mais eficiente que durante o “inverno”.
Estes resultados fizeram com que o uso de irrigação em áreas de pastagem fosse esquecido por algum tempo. Nos últimos anos, no entanto, tem-se observado um grande interesse por parte dos produtores na adoção desta tecnologia… mas ainda persiste a pergunta… em que condições é vantajoso irrigar áreas de pastagem?
A aplicação de água elimina (ou reduz) os efeitos do estresse hídrico sobre a planta, aumentando a produtividade do pasto. Desta forma, ela será interessante em situações em que a produção seja limitada, principalmente, pela deficiência hídrica. Em diversas regiões do Brasil, no entanto, o desenvolvimento das plantas forrageiras no período de entressafra é limitado também (ou principalmente) pela temperatura. Neste caso, como foi determinado pelos experimentos realizados na década de 70, a irrigação poderá aumentar a produção anual de matéria seca, porém não irá alterar a estacionalidade de produção de forragem e a eficiência de uso da água no período mais frio será reduzida.
A resposta das plantas à temperatura, porém, é variável. Estudos com plantas temperadas demonstraram que a temperatura base (temperatura que limita o desenvolvimento de uma determinada espécie) é característica para cada espécie e cultivar e que o uso de valores médios não é adequado (Unruh et al., 1996).
O conhecimento da temperatura base das diversas gramíneas forrageiras tropicais poderia auxiliar na escolha da espécie a ser implantada e na determinação da viabilidade da irrigação nas diferentes regiões do País.
Um trabalho apresentado por Medeiros et al. (2002) na última Reunião Anual da SBZ propõe um método para se estimar os valores de temperatura base inferior para gramíneas tropicais utilizando o conceito de unidade fototérmicas (conceito que associa fotoperíodo e temperatura). Neste trabalho, os autores estimaram que a temperatura base para o capim elefante é de 13oC. Esse valor é semelhante a outros dados citados na literatura e explica porque a maior parte da produção desta espécie ocorre no período do verão.
Comentário dos autores: a determinação da temperatura base para várias espécies poderia auxiliar no zoneamento climático das plantas forrageiras e também na determinação das espécies e regiões mais recomendadas para implantação de sistemas irrigados. O método proposto no trabalho de Medeiros et al. (2002) tem apresentado resultados bastante consistentes. Além disso, é possível encontrar na literatura dados para várias espécies que podem ser utilizados para este cálculo. A elaboração de um zoneamento para as espécies forrageiras, à semelhança do que têm sido feito para culturas agrícolas, auxiliaria muito o desenvolvimento da pecuária nacional.
Referências Bibliográficas:
GUELFI FILHO, H. Efeito da irrigação sobre a produtividade do capim elefante (Pennisetum purpureum Schum.) variedade napier. Piracicaba, 1972. Tese (doutorado) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/USP.
GUELFI FILHO, H. Efeito da irrigação sobre o capim colonião (Panicum maximum, Jacq.). Revista o Solo, p. 12-16, 1978.
MEDEIROS, H.R. de; PEDREIRA, C.G.S.; VILLA NOVA, N. A. Temperatura base de gramíneas forrageiras estimada através do conceito de unidade fototérmica. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 39., Recife, 2002. Anais. Recife: SBZ, 2002.
UNRUH, J.B.; GAUSSION, R.E.; WIEST, S.C. Basal growth temperature and growth rate canstants of warm-season turfgrass species. Crop Science, v.36, p.997-999, 1996.