Desde a grande liquidação do rebanho argentino em 2008-09, quando se perderam mais de 10 milhões de cabeças ou quase um quinto do rebanho bovino, impulsionado pelas políticas em voga, com o agravante de uma seca histórica, tem sido lugar comum no setor defender o objetivo de recuperar o rebanho.
Agora que se modificaram os aspectos centrais da política anti-carnes, unificação e liberação do tipo de câmbio, eliminação de tarifas de exportação e de travas administrativas para as exportações (ROEs), é um bom momento para pensar no tema que dá título a esse artigo.
Do meu ponto de vista, e assim como vêm dizendo diversos especialistas há algum tempo, não há dúvida de que deve-se priorizar a produção por animal. Um só exemplo basta, Estados Unidos, com um rebanho que é 1,8 vezes o argentino, produz 4,25 vezes mais carne bovina. Ou seja, tem uma produtividade 2,4 vezes maior. Em outras palavras, a Argentina poderia produzir, com o rebanho atual, 6,5 milhões de toneladas em vez de 2,7 milhões de toneladas produzidas hoje.
Esse potencial de crescimento leva ao debate sobre se há ou não que voltar às 60 milhões de cabeças que já tivemos. Além disso, claramente não se pode chegar a nível semelhante de eficiência de um dia para o outro. Por outro lado, no afã de aumentar a produção de carne necessariamente o rebanho crescerá em alguma medida.
Para avançar na pecuária, é necessário progredir em quatro pilares: alimentação, sanidade, manejo e genética. Com a participação do Estado, em seus níveis federal e provincial, e do setor privado, empresas e ONGs, podem-se articular ações e planos que ajudem a difundir o conhecimento e as práticas que levem ao objetivo, em cada um desses quatro aspectos. O envolvimento de instituições financeiras, públicas e privadas, será essencial para afrontar os investimentos necessários; ainda que haja várias práticas proveitosas que não requerem uma grande mobilização de capital.
As condições externas são favoráveis a esse iniciativa, com um mercado mundial crescente com preços que não têm sofrido como o de outras commodities nos últimos dois anos e cujos prognósticos de longo prazo são muito estimulantes para os poucos países que estão em condições de cobrir o aumento do consumo mundial.
Não se ignoram que restam outros passos para dar ao setor uma estrutura reguladora que favoreça os investimentos, como o acesso sanitário a todos os mercados do mundo, o impulso aos acordos de livre comércio, a luta contra a evasão impositiva e sanitária e o melhoramento da estrutura tributária. No entanto, para o curto e médio prazo, será crucial a forma de manter a competitividade de nossa moeda frente à entrada de capitais por investimento direto e lavagem de dinheiro.
Em síntese, não há que pensar que o novo entorno econômico trará a melhora, de maneira mágica. A experiência argentina na década de 1990 e o lento avanço nos indicadores produtivos de nossos sócios do Mercosul mostram que a eliminação da discriminação negativa às carnes, que funcionou por décadas nos países da região, não basta por si só para garantir o objetivo, a um ritmo bom.
Para o futuro, melhorar a produtividade será chave para a sustentabilidade da indústria pecuária e a reinserção competitiva da atividade no mercado internacional, com benefícios concretos para a sociedade.
Por Miguel Gorelik, diretor do Valor Carne, publicado no La Nación.
Fonte: La Nación, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.