Agropecuária Jacarezinho aposta em pregões de touros como ferramenta de venda na estação de monta
8 de dezembro de 2003
Goiás poderá ser grande exportador para países árabes
10 de dezembro de 2003

Criação da Abrafrigo objetiva representação sindical nacional

Diante das reformas na política brasileira, representação patronal é fundamental, segundo consultor da Associação

Uma nova entidade representativa dos frigoríficos – a Abrafrigo (Associação Brasileira dos Frigoríficos) – acaba de ser criada. Reunindo 11 sindicatos e cerca de uma centena de frigoríficos, de acordo com o consultor Enio Marques, o objetivo é ocupar um espaço de representação sindical em nível nacional.

A criação da Associação, catalisada por questões relativas ao Sisbov (Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina), devido à necessidade de uma entidade patronal que cubra os sindicatos, segundo Marques, tem os olhos no futuro e a intenção de ser a semente de um “guarda-chuva” brasileiro para todos os sindicatos do setor.

“A idéia é desenvolver um sindicato-padrão, para aumentar representatividade e auxiliar as entidades coletivas em Brasília, nas relações com órgãos federais”, disse Marques, queixando-se que, lamentavelmente, a cultura empresarial entre os frigoríficos leva à baixa participação. “O que se quer é reforçar o papel dos sindicatos. A representação patronal é fundamental diante das reformas do governo. Elas exigem uma posição do setor. É um momento oportuno para um esforço de profissionalização e representação patronal”, acrescentou.

Na opinião de Marques, no associativismo, a exemplo do que acontece em associações como a ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), quem participa do processo tem assessoramento, mais acesso à informação.

No Brasil, de acordo com ele, não existe representação sindical no setor. “A Abiec não pode representar. Como discutiria, por exemplo, a questão da classificação de carcaças? Ela está acostumada a mercados organizados. O mercado brasileiro é anarquizado, nem todos os frigoríficos estão no sindicato, nem todos os abatedouros. A cultura de movimento sindical no Brasil é muito acanhada frente à de outros países, e nesse segmento dos frigoríficos, é mais acanhada que nos outros setores. A contribuição é obrigatória, mas nem sempre isso acontece. Temos vários ‘Brasis’. Na indústria, idem. Temos frigoríficos com muita tecnologia, muito capital, e muitas indústrias sem nada disso. Nossa entidade terá uma visão global e ampla com ações locais”, explicou, reforçando a necessidade de participação no sindicato do estado em que esteja instalado o frigorífico, devido aos diferentes momentos que vivem os estados.

A idéia é reconhecer as diferenças, contribuir na relação do sindicato com a esfera federal, respeitando aos momentos que cada um tem passado, como explicou Marques, passando por questões relativas a reforma tributária, previdenciária, mão-de-obra, políticas internas, confiança do consumidor brasileiro, as quais, embora gerais, têm impacto diferenciado em cada unidade da Federação.

“Tem estado em que o sindicato pode ser muito atuante em questões de exportação, por exemplo, mesmo tendo empresas que já são exportadoras, como, por exemplo, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo. As necessidades das empresas em exportação podem ser bem específicas, e algumas perpassam por Brasília, então a entidade nacional seria acionada para ajudar no que fosse possível”, reforçou. O consultor comentou que, em regiões mais novas, os sindicatos mais adiantados poderão ajudar os menos desenvolvidos por meio da representação nacional.

Um dos aspectos principais dessa representatividade, segundo o consultor, é a organização do mercado interno para aumentar a competitividade brasileira. “O País é extremamente competitivo e todo esforço referente a tecnologia, modernização e utilização de ferramentas mais adequadas de gestão pode ajudar”, comentou.

Conforme sua análise, o Brasil hoje é um player internacional, inserido no canal de comercialização de muitos países, daí a necessidade de melhorar a competitividade para responder às exigências do mercado externo.

“Antes, porém, é preciso organizar o mercado interno, melhorar a relação cliente/fornecedor e o envolvimento dos vários atores. Às vezes, quando se chega aos frigoríficos, não se encontra um interlocutor, ao contrário do que os produtores encontram na CNA. Estamos criando um ente para suprir esse espaço, com a visão de, um dia, diminuir as desigualdades de acesso à tecnologia”, reforçou, salientando que, com a Associação, se pretende atender, passo a passo, às necessidades de frigoríficos tanto do Pará como de São Paulo, mesmo que isso pareça conflitante.

Segundo ele, pretende-se criar uma agenda de aprimoramento contínuo, a partir de um sindicato-padrão, para aumentar uma massa crítica com ação local, buscando uma boa inserção política, além da relação cliente/fornecedor. Para Marques, quanto mais a entidade conseguir mostrar para que o frigorífico serve e quanto mais importante este for para seu cliente, será possível mostrar para toda a comunidade que é um movimento importante. “Para tanto, trabalharemos por estados, no concreto. Se o frigorífico está no Paraná, avaliaremos sua inserção na cidade, seus compromissos sociais, sabendo que faz parte de um todo, e assim sucessivamente, para não criar uma visão nacional errônea”, acrescentou.

Um pré-requisito para a entidade, segundo o consultor, é a organização do relacionamento à distância, devido aos altos custos da observação in loco. A idéia é utilizar ferramentas de padrões e referências para que os produtores, os estabelecimentos de abate e os clientes possam contar com essa informação à distância.

Estratégias

Já com a primeira reunião agendada, a Abrafrigo deverá ter um vice-presidente para cada região – entre os sindicatos participantes, estão os de Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, Pará e Tocantins -, sob a liderança de José João Stival, do Sindicarnes-TO (Sindicato das Indústrias Frigoríficas do Estado do Tocantins). Brasília foi cogitada para ser a sede, e ainda precisa ser definido o pessoal. “A base operacional é o sindicato do Paraná”, observou.

A estratégia da Associação prevê, entre outros aspectos, a questão tributária, sob responsabilidade de Péricles Salazar, do Sindicarne-PR (Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Paraná) e Paulo Costa, do Sindicarne-PA (Sindicato da Indústria da Carne e Derivados do Estado do Pará), e um levantamento na CNI (Confederação Nacional da Indústria) dos trabalhos que têm levado os posicionamentos das indústrias brasileiras para analisar o comportamento do mercado de carne. Marques informou que será realizado um congresso dos frigoríficos, ainda sem data definida, mas já com alguns esboços.

De acordo com suas informações, o presidente da Abrafrigo tem trabalhado politicamente no sentido de quebrar a monotonia e a cultura na qual os donos dos frigoríficos conversam apenas entre eles e o público é sempre o mesmo.

“Agora, há necessidade de ampliar a discussão para a sociedade, pois é um setor gerador de emprego e receita. É claro o impacto da atividade e a responsabilidade social das empresas é grande. Precisamos trabalhar para os empresários serem vistos como empreendedores de uma linha estratégica do País”, defendeu.

Para o consultor, o ambiente de funcionamento dos agentes econômicos do setor tem de ser mais organizado, com regras conhecidas por todos, conscientes de que o não-cumprimento terá sanções.

“Eles têm de saber que precisam ser responsáveis e não o governo. Para isso, é necessário criar uma linguagem, um ponto de vista comum. A profissionalização é o caminho, por meio de contratação de uma empresa que defina a estratégia de comunicação interna, do sindicato com o frigorífico, focada nas principais necessidades – treinamento, regras de ação do governo, posicionamento frente à questão nacional -, definindo um modelo de organização da discussão interna para que todos saibam a posição de sua empresa em determinado contexto”, destacou. Esse período de “maturação”, conforme Marques, deverá durar cerca de seis meses.

Quanto à adesão dos frigoríficos, Marques considerou: “Quando os empresários perceberem que não é um grupo de lista geral, deverão aderir, à medida que sentirem que a intenção é discutir as necessidades do segmento industrial e reforçar o sindicalismo. É uma semente e uma das primeiras experiências no Brasil de organização de representação sindical com ferramentas atualizadas. Não há interesse político, mas sim o desejo de fazer com que cada um saia de onde está, em sua liderança situacional, diminuir a desigualdade e caminhar todo mundo para frente, passo a passo”.

Prioridades

A questão tributaria é, segundo o consultor, a prioridade número um. “Levantamos documentos, na CNI e temos mantido contatos políticos para verificar se as especificidades do setor têm sido tratadas na reforma tributária, pois não é uma indústria de bens de capital”.

Entre outros temas prioritários da Abrafrigo está a classificação de carcaças, a qual em sido objeto de ensaios em alguns frigoríficos. Marques indicou que o ideal é contratar um suporte científico para desenvolver algo que tenha utilidade e se possa defender. “Precisamos avaliar e testar, e somente afirmar depois de testado, ou seja, aprimorar a discussão sobre carne para que ela tenha um nível mais elevado que o presente”, ponderou.

Para garantir vitórias, Marques disse ser necessário estar presente, verificar e testar se as coisas serão boas ou ruins, com pessoal habilitado, envolvendo universidades e formando uma massa crítica que pondere a respeito de temas como esse.

Fonte: Miguel da Rocha Cavalcanti e Mirna Tonus, da Equipe Beefpoint

Os comentários estão encerrados.