Para Zilmar Moussalle, diretor executivo do Sicadergs (Sindicato da Indústria da Carne e Derivados no RS), passado esse período de desconhecimento sobre a doença, haverá um prazo de seis meses para os países importadores que cancelaram as compras norte-americanas voltarem a consumir o produto normalmente. “Esses países, porém, voltarão a importar e aumentarão as vendas do Brasil, que proíbe a alimentação bovina com ração animal, principal causa da doença”, afirmou.
Já o presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Farsul (Federação da Agricultura do RS), Fernando Adauto de Souza, defendeu que essa possibilidade só existirá se houver avanço na defesa sanitária. “É questão prioritária do setor. Só assim evoluiremos em termos de mercado e tomar lugar de países com problemas como o mal da ‘vaca louca'”, observou.
O dirigente analisou com apreensão o problema sanitário nos EUA, uma vez que pode afetar o Brasil, que negocia abertura do mercado de carne para 2004 com aquele país. “Os Estados Unidos são o maior importador do produto e, não podendo exportar, suspenderá suas compras, o que poderá provocar desequilíbrio para o setor”. Ele reforçou ainda a necessidade de o Brasil avançar nos mercados que exigem status de livre de aftosa, “já que EUA, Japão e Coréia não compram nossos produtos devido à aplicação da vacina contra a doença”.
O diretor executivo do Sicadergs avaliou que, sem o problema da vaca louca nos Estados Unidos, a previsão era de um aumento de 30% nos embarques de carne in natura e enlatada para o próximo ano. Em 2003, o RS exportou cerca de 70 mil toneladas, o que representa 90 mil dólares.
O impacto imediato da notícia sobre “vaca louca” no rebanho norte-americano será negativo para todos os mercados, na opinião do presidente da Faemg (Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais), Gilman Viana. “O templo da qualidade foi ameaçado, agora resta saber a extensão disso”, afirmou.
Até que o tamanho do prejuízo seja quantificado, explicou Viana, a imagem do produto carne ficará comprometida, as pessoas evitarão o consumo, gerando transtornos para vários países.
Nos EUA, o impacto no consumo deverá rebater também nos preços internos, que deverão cair no curto prazo. “Além de a demanda interna se retrair, os produtores ficarão com um enorme excedente, devido à suspensão das importações por seus clientes”, disse Fábio Dias, da Agropecuária CFM.
Se a doença se espalhar, os preços poderão cair também no mercado internacional, segundo o consultor. “Os preços internacionais vinham se recuperando desde 2001, após a crise da ‘vaca louca’ na Europa, e da epidemia de febre aftosa na Argentina”.
Se caírem novamente, o aumento do volume de exportações brasileiras, que poderá ocorrer no médio prazo, não necessariamente significaria mais dinheiro no bolso dos exportadores. Segundo o consultor, uma crise mais ampla poderá gerar, ainda, a substituição da carne bovina pelo frango no mercado norte-americano. “No entanto, as exportações brasileiras de frango também enfrentam barreiras sanitárias nos EUA e em outros países”, destacou.
No curto prazo, a confirmação de “vaca louca” nos EUA não deverá ampliar a venda de carne dos frigoríficos goianos no curto prazo, segundo apontou o presidente do Sindicarne (Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados de Goiás), José Magno Pato. O motivo maior é que os principais compradores da carne norte-americana, Japão e Coréia, não são clientes brasileiros, pois o produto não atende a seus critérios sanitários, que seria carne de região livre de febre aftosa sem vacinação.
“Mas tudo depende de negociações e o governo brasileiro deve se movimentar nos próximos dias”, ressaltou Magno Pato. Se os governos japonês e coreano aceitarem os padrões europeus, temos em Goiás quatro frigoríficos credenciados a atendê-los. “Esses frigoríficos teriam de ampliar sua capacidade de produção e até produzir em três turnos para conseguir atender a demanda”.
Magno Pato citou que o sistema de controle sanitário dos EUA é um dos melhores do mundo e ficou surpreso com a confirmação do caso. “Serve de alerta para os países que participam do mercado internacional de carne”, considerou.
Para o presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Laucídio Coelho Neto, o anúncio do caso de EEB nos EUA pode ajudar Mato Grosso do Sul. “A proibição da entrada de carne dos EUA no Brasil não afeta em nada nosso país, já que somos, como os norte-americanos, grandes exportadores de carne. A vantagem é que os EUA têm competido conosco na venda de carne para a Ásia, e, como cinco países asiáticos também já suspenderam a compra de carne americana, podemos aumentar nossas exportações”, afirmou.
Coelho Neto ressaltou que o problema que os EUA enfrentam deve servir de exemplo para Mato Grosso do Sul, a fim de que as medidas sanitárias sejam reforçadas. Brasil e Austrália são considerados, de acordo com classificação da União Européia, os países com menor possibilidade de ocorrência da doença da “vaca louca”.
Hoje, o Estado responde por mais de 40% da carne exportada no Brasil e prevê ampliação do mercado a partir do fim do veto à carne produzida por 14 municípios da região do Pantanal. Isso deverá ocorrer a partir de visita da Missão Européia, prevista para entre abril e maio do ano que vem. Também para 2004, o Brasil espera crivo sanitário para exportar aos EUA carne in natura.
O secretário estadual da Agricultura de Santa Catarina, Moacir Sopelsa, afirmou que as exportações de carne produzida no Estado poderão ser ampliadas com o aparecimento da doença da vaca louca nos Estados Unidos. Em sua avaliação, os setores de frango e suíno deverão ser os mais beneficiados. Isso porque há uma desconfiança maior das pessoas em consumir carne bovina, o que estimula o aproveitamento de outros produtos.
O acréscimo das exportações, porém, não se restringe aos dois segmentos. A previsão é que as vendas externas de carne bovina brasileira e catarinense também possam crescer. Apesar de o Estado não ser auto-suficiente na produção, uma parte é vendida ao exterior, a países como Japão, Rússia e Chile.
O controle sanitário e fiscal e a criação pelo método do confinamento estão entre os motivos que qualificam o produto catarinense para as vendas ao mercado externo. “O confinamento permite o controle com mais eficiência e qualidade”, ressaltou o secretário. O volume de produção bovina em Santa Catarina é 120 mil toneladas/ano e a importação chega a 50 mil toneladas.
Sopelsa destacou que Santa Catarina está à frente de outras regiões do país nas questões de sanidade animal e fiscalização. Cerca de 300 funcionários estão distribuídos em mais de 30 postos de fiscalização espalhados pelas divisas com o Paraná e Rio Grande do Sul e fronteira com a Argentina.
O secretário explicou ainda que o estado é livre de febre aftosa, de peste suína e da doença de newcastle. “A determinação é não deixar entrar no Estado produtos sem procedência confiável”, salientou. A atenção em portos e aeroportos será reforçada para evitar a entrada de subprodutos provenientes dos animais.
Fonte: Correio do Povo/RS, Diário Catarinense (por Cláudia Marcelo), Campo Grande News (por Leonardo Lani), O Popular/GO, Hoje em Dia/MG (por Ana C. d´Angelo) e Folha de S.Paulo, adaptado por Equipe BeefPoint