Um dos maiores desafios, segundo diversos agentes do setor, é a integração da cadeia
Com o objetivo de saber os rumos que o setor de carne bovina no Brasil poderá tomar em 2004, o BeefPoint ouviu agentes dos diversos elos da cadeia, questionando-os sobre as novidades que planejam para o próximo ano, qual o principal desafio para a cadeia da carne brasileira e como enfrentá-lo.
Dos desafios, o que mais se mostrou presente foi a integração do setor, que precisará de um tempo maior que um ano para ser alcançada.
Alexandre Martins, Brasil Certificação – “Temos novidades para 2004 que incluem parcerias internacionais e nacionais. Estamos ampliando nosso leque de atuação. Hoje, trabalhamos com certificação do Sisbov, mas pretendemos ampliar para toda a cadeia, trabalhar com certificação para propriedades que queiram entrar em um contexto mais complexo. Uma coisa é certificar os animais, outra é a certificação completa. O mesmo vale para frigoríficos e outros produtos. Um dos motivos que levaram a fazer isso é diferenciar de algumas empresas que atuam como certificadoras do Sisbov, porque hoje, infelizmente, elas não estão com uma imagem tão boa como deveria ser. Queremos, com qualidade, firmar parcerias com empresas de credibilidade, diferenciar o produto e o serviço. Se um processo acontece de forma errada, é porque a certificadora permite. O principal desafio para 2004 é ter qualidade em todos os nossos processos. A cadeia inteira, desde o produtor, produzindo animais de melhor qualidade; os frigoríficos trabalhando de forma mais transparente, em parceria com o produtor, para o Brasil não ser apenas comprado. O País é maior em quantidade, mas não em qualidade e preço. Passa a ser o nosso desafio profissionalizar a cadeia para manter o nível de exportação e agregar mais valor, diferenciar nosso produto lá fora, entrar em níveis de preços razoáveis. Isso só acontecerá com um trabalho completo da cadeia. Algumas ações começam a ocorrer, mas precisamos conseguir que a cadeia como um todo trabalhe de forma mais integrada. O produtor (desde a certificação dos animais ou da propriedade) deve pegar o Sisbov e pensar em certificar não porque é lei ou obrigação, mas porque quer colocar seu produto em um contexto de qualidade. Por outro lado, de nada adiantará se não receber por isso do frigorífico. Alguns têm contrato de mercado futuro, outros falam que visitarão a propriedade, pagarão um pouco a mais. É uma tendência, um frigorífico age e puxa os outros. O mesmo se aplica à classificação de carcaça. Um produtor começa, desde que seja um processo transparente, e sabe se encaixará em determinada categoria. O governo está encaminhando para isso”.
André Galassi Gargalhone, Céleres – “Em 2004, continuaremos com os mesmos projetos, para desenvolvimento das cadeias como um todo, considerando indústria e produção. O desafio está no fato de a cadeia estar extremamente horizontalizada, prejudicando os outros setores, pois não consegue estabelecer relação comercial aberta e transparente entre os diversos setores. É preciso colocar o pessoal em pé de igualdade, criar uma interdependência entre os elos que não têm como falar a mesma língua (insumos, produção, indústria, comercio, varejo e consumidor final). Outro desafio é justamente com respeito ao consumidor final, que terá mais exigências e obrigará os setores a se adequarem ao que ele quer”.
Antenor Amorim Nogueira, Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) – “A atuação do Fórum da Cadeia da Carne continuará a mesma. À medida que aparecerem assuntos de interesse da classe, convocaremos os associados e defenderemos seus interesses. O maior desafio é tentar consolidar definitivamente a parceria dos elos da cadeia da carne. Tem muita coisa para fazer, muitas horas para conversar, muito joguete por parte das indústrias para prejudicar a produção, o que não leva a nada. O item mais desafiador é a hegemonia da cadeia produtiva. Da mesma forma que tem a cadeia da soja, do frango, dos suínos, funcionando perfeitamente, a da carne bovina está muito aquém. A parceria é uma estratégia, uma tendência. Já melhorou muito, já esteve pior. Com a evolução do mercado, a comercialização dentro do setor, a participação desses elos em todas as reuniões na Câmara Setorial, melhorará o relacionamento. É preciso ter essa melhora para ter com quem conversar e discutir”.
Carlos Henrique Pinto Fadel, Conselho de Administração da Associação Brasileira de Limousin – “Em 2004, a Associação dará continuidade ao processo de democratização da entidade, implementado neste ano com a alteração do Estatuto Social, que passa a possibilitar maior interação e participação do associado. Essa interação já se deu na eleição do novo Conselho Administrativo e Fiscal. Além disso, enfatizaremos projetos extremamente importantes, como mapeamento genético da raça; mapeamento preciso dos criadores de Limousin com considerável aumento de respaldo técnico pela associação; desburocratização do processo cartorial de registro de animais; aumento das parcerias com as entidades de pesquisa e universidades, com o objetivo de aprimorar a base técnica da raça Limousin. A Associação Brasileira de Limousin deverá também, por todas as vias de divulgação possíveis, demonstrar aos pecuaristas brasileiros, as vantagens da participação em projetos como antes mencionados. Em 2003, o Departamento Técnico da Associação Brasileira de Limousin acompanhou vários abates comerciais com produtos de cruzamento industrial (1/2 sangue Limousin x Nelore), criados a pasto, que apresentaram rendimento médio de carcaça superior a 55%, cobertura de gordura entre 5 mm e 8 mm, e que receberam a classificação de carne tipo exportação. Em 2004, queremos dar continuidade a este trabalho, além de participar novamente das reuniões técnicas promovidas pela Associação Brasileira de Novilho Precoce. Como desafio, na minha opinião, não só a raça Limousin, mas as raças taurinas devem buscar, em 2004, a valorização do cruzamento industrial, demonstrando e provando suas inequívocas vantagens. Quando falarmos em cruzamento industrial, porém, deveremos nos referir aos projetos direcionados, tecnificados, que se preocupam com o manejo da propriedade, que recebem apoio e orientação técnica das associações de raças, e que proporcionam ao pecuarista um ganho adicional de produtividade entre 15 e 20%. Outro ponto que pensamos ser fundamental para o mercado da carne bovina é a luta pela implementação do programa oficial de tipificação de carcaças e o combate às campanhas difamatórias contra a proteína vermelha. Nossa entidade não medirá esforços ao colaborar com o Ministério da Agricultura e Pecuária e com as demais entidades do setor na busca de uma solução para estas questões”.
Carlos Viacava, ACNB (Associação dos Criadores de Nelore do Brasil) – “Uma novidade para 2004 tem base em um acordo com a Mitsubishi, no lançamento de uma caminhonete série especial Nelore, com modelo e cores especiais, somente para associados. No ano que vem, a Associação comemorará 50 anos, será um ano de bastante entusiasmo. A meta é abater 500 mil bois no programa PQNN (Programa Qualidade Nelore Natural), por meio de convênios com associações regionais, da integração. O desafio da cadeia é expandir os mercados, estamos com um mercado restrito, interno, que não cresce. A primeira solução é o crescimento econômico do país, e, de qualquer maneira, os criadores e os participantes da cadeia criarem vergonha e fazerem campanha para o consumo da carne. Estamos fazendo a do Nelore. Se juntarmos os frigoríficos, recuperaremos um pedaço do mercado perdido para o frango. É uma batalha muito grande também com relação às exportações, a qual não é fácil aumentar, sendo necessárias negociações internacionais, com países como Chile, EUA e Rússia. Temos de trabalhar muito e isso depende de todos os elos”.
Celso Eduardo de Freitas, Tortuga – “Desde 1996, a Tortuga introduziu no mercado o diferencial dos minerais sob a forma orgânica. Primeiramente, no segmento de bovinos de corte, com o lançamento do Programa Boi Verde, e, nos anos seguintes, estendendo para todos os tipos de animais, bovinos de leite, suínos, aves, caprinos, ovinos. Em 2004, será introduzido na linha de eqüídeos e melhorará a participação no segmento de aves. O principal desafio para a cadeia da carne será a real implantação da rastreabilidade. O mercado externo fica cada vez mais competitivo, e o Brasil passa a incomodar muita gente com seu crescimento neste mercado. Acredito que as barreiras sanitárias e de controle serão cada vez mais intensificadas. Se os pecuaristas não fizerem a lição de casa e realmente colocarem a rastreabilidade como deve ser, podemos ter problemas em um futuro bem próximo, pois esta será a principal barreira as nossas exportações. Com relação ao mercado interno, a cadeia deverá unir-se ao SIC (Serviço de Informação da Carne) para que, finalmente, se possa fazer uma grande divulgação da carne como um alimento de qualidade, pois, se o consumidor não for informado, não dará o devido valor ao produto, e este é um trabalho que beneficia toda a cadeia”.
Cláudio Haddad, Esalq/USP – “Há um conjunto de pesquisas realizadas (pastagens, nutrição, qualidade de produto), mas é prematuro pensar em resultado no curto prazo. O desafio é como fortalecer o setor de frigorífico, o elo mais fraco da cadeia, um setor que só vive se sonegar, e isso é reconhecido por eles. É um setor de endividamento grande, muda de razão social como muda de cueca, e só existe essa tendência se estiver inseguro do ponto de vista operacional. Para solucionar esse problema, a diminuição da carga tributária deve vir em primeiro lugar; em segundo, estimular a parceria com setor de produção e comercialização. Os que não exportam, que não têm saída em dólar, são os que mais sentem. Como acreditar em uma cadeia se tem um elo extremamente fraco e instável?”
Danilo Grandini, gerente da Nutron Alimentos– “Para 2004, a Nutron deverá ampliar sua linha de serviços lançando software de controle e gestão para confinamentos de bovinos de corte. O principal desafio da pecuária bovina é a permanência e o crescimento no mercado exportador, devendo, para isso, fortalecer sua imagem externa, bem como estabelecer relações objetivas entre o setor produtivo e o frigorífico. O pagamento por carcaça tipificada seria extremamente interessante”.
Enio Marques, consultor da Abrafrigo (Associação Brasileira dos Frigoríficos) – “Em 2004, a Associação realizará o Congresso dos Frigoríficos, em maio ou junho. Outra questão é começarmos um plano de organização sindical patronal que permita cobrir o Brasil todo. Hoje, os sindicatos da carne não existem em todos os estados. Quanto ao principal desafio, teremos uma reunião a 7 de janeiro com os presidentes dos sindicatos para acertar prioridades e plano de ação. Ainda não é possível saber qual a prioridade, uma vez que a atuação é feita pelos sindicatos nas suas localidades. Dentre os assuntos prioritários pré-identificados, há um passivo previdenciário muito grande, sendo necessário encontrar uma solução que permita pagar sem comprometer o desempenho das empresas. E tem de ter uma maneira de recolher essa responsabilidade para que não volte a acontecer a dívida em que cada boi tem de pagar R$ 15 do antigo Funrural. Há também a questão tributária, mas a principal, em minha opinião, é a previdenciária, que desvaloriza a cadeia toda. Um elo tem uma dívida, essa dívida não é paga e aumenta desproporcionalmente. Existem vários contenciosos entre a previdência e as fábricas, existem riscos. O governo teria de criar um refinanciamento especial, inteligente, que permitisse tirar as empresas do cadastro de contenciosos, fazê-las pagar, garantir o pagamento do presente e um pedaço do passado. A segunda solução é conseguir prevenir. É política pública, o governo tem de dar um jeito. Também temos outra questão da segurança da carne, pois o consumidor brasileiro tem-se tornado cada vez mais exigente e quer produtos seguros. Temos indústrias com diferentes graus de organização, portanto, com diversos níveis de segurança dos produtos”.
Fernando Penteado Cardoso, Agrisus – “Os dois anos e meio de existência da Fundação nos deram uma orientação sobre as preferências dos interessados em financiamentos pela Agrisus. Com base nessa orientação, propomos distribuir nossa verba em: educação (bolsas, treinamento, seminários e similares) 40%; pesquisas agronômicas, relacionadas a pós-graduação ou independentes 40%; e extensão rural (congressos motivacionais e semelhantes) 20%. O superávit obtido nos dez primeiros meses de 2003 permite completar o saldo do Fundo Agrisus, restabelecendo a verba inicial de R$ 1 milhão, para ser apropriada de acordo com as proporções indicadas. Para as despesas do ano, sugerimos uma verba global de R$ 200 mil, suportada pela receita prevista de R$ 2 milhões, resultante do rendimento de investimentos de nossos bens patrimoniais, hoje em torno de R$ 14 milhões. Em 2004, prevemos aperfeiçoar nosso site, tornando-o cada vez mais informativo, oferecendo uma retaguarda para as atividades da recém-inaugurada assessoria de imprensa e mídia em geral, da qual esperamos bons resultados em 2004, tanto para incentivar bons projetos como para consolidar uma imagem favorável da entidade. Essa assessoria nos orientará igualmente na contratação de publicidade institucional. Pretendemos efetivar o plano de elaborar uma relação de projetos que venham a ser considerados prioritários, conforme parecer de uma comissão técnica convidada. Essa relação seria oportunamente anunciada junto a instituições especializadas, a fim de despertar interesse e propostas de financiamento para trabalhos de educação, pesquisa e extensão. No empenho de nos relacionarmos com entidades que possam complementar o pleno desempenho de nossas finalidades, esperamos manter o bom entendimento que temos com a FEBRAPDP (Federação Brasileira do Plantio Direto na Palha), APDC (Associação do Plantio Direto no Cerrado), Departamento de Agronomia da ESALQ, Plataforma do Plantio Direto da EMBRAPA, RELACO (Rede Latino-Americana de Agricultura de Conservação), SAI (Iniciativa da Agricultura Sustentável), ABEAS (Associação Brasileira de Educação e Assistência Social), além de inúmeros Clubes de Amigos da Terra e outras instituições de ensino, pesquisa e extensão com as quais venhamos a nos relacionar. Em 2004, completaremos três anos de atividade, o que nos credencia ao reconhecimento como entidade de utilidade pública junto às autoridades competentes. Envidaremos os melhores esforços para obter esse registro. Quanto ao desafio para a cadeia da carne, creio que é preciso zelar por melhor acabamento a fim de manter a uniformidade da qualidade das carcaças. Tem de alimentar melhor ou aguardar um pouco mais de tempo, os dois cabem. Se está com invernada, tem de aguardar; se quer apressar, partir para o confinamento. Até que se adote uma genética que melhore a precocidade de acabamento do Nelore. Menciono isto porque o Nelore corresponde a cerca de 85% do boi abatido. É um grande caminho do melhoramento genético para a precocidade, e o Brasil não está caminhando para isso, mas sim para o boi bonito de exposição. Capricha no tamanho do boi tardio e não no precoce, este é menor e não serve para exposição. Certa vez, escutei uma frase: “Bom mesmo é o boi barrilote”. Ou seja, um boi curto, grosso, que acaba cedo, com 450 kg. É o que devemos buscar”.
Humberto Tavares, Grupo Provados a Pasto – “Novidades não teremos, mas continuaremos com nosso trabalho, provavelmente, com aumento do número de animais, continuar com convidados, incrementar a presença de convidados locais nas praças em que são realizados os leilões. O desafio da cadeia é definir a questão da rastreabilidade. Passou da hora de colocar essa questão, que está muito mal-encaminhada. A rastreabilidade é uma exigência que não existe na UE, estamos com um regulamento que é mais realista que o rei. Não precisamos disso. Eles exigem apenas a rastreabilidade por lote. Essa novidade de identificar individualmente foi inventada pelo Mapa e prosseguiu, de maneira que se carrega uma exigência sem necessidade. Foram criadas novas firmas (rastreadoras, de brincos), criada toda uma demanda para uma coisa que não é necessária. A primeira solução seria derrubar a rastreabilidade individual. O setor está muito mal-organizado, sobra a SRB, um Dom Quixote lutando contra todo mundo. Essa rastreabilidade é um estorvo para as exportações. Estão defendendo um erro que foi cometido. O Roberto Rodrigues não está comprometido com isso e pode resolver essa questão”.
João Paulo Schneider da Silva (Kaju), GAP Genética – “Nossa novidade é fazer uma unificação de eventos, concentrá-los, torná-los maiores para que o custo diminua, pois está ficando muito alto. Pensamos em concentrar em três grandes leilões: um no primeiro semestre, em uma fazenda em São Paulo; um segundo em Uruguaiana, RS; e o terceiro, entre os dois, em Mato Grosso. Serão bem-separados e de acordo com o perfil de cada região. O desafio para a cadeia em 2004 será organizar a oferta. Tem muito boi bom, novilhos especiais, entrando em vala comum, talvez por falta de organização dos produtores. Não se tem organizado a oferta para torná-la constante, mesmo que pequena, em todos os meses do ano. Temos canais abertos, novos mercados para exportação, consumidores que querem carne de qualidade. Quando fazemos estudo de viabilidade, porém, as contas não fecham, não há volume. Os produtores dizem que não têm preço justo, o frigorífico não tem matéria-prima na hora que quer, e a cadeia não está do jeito que deveria estar”.
José Luiz Sepúlveda, Pecus – “Em 2004, lançaremos a versão para agricultura, com um preview no Agrishow. Até então, trabalhamos com software para pecuária, e estamos aumentando a família do software. Em pecuária, lançaremos o módulo Controler, integrador de fazendas. Com certeza, o desafio para a cadeia é o pessoal se profissionalizar. Não dá mais para o pecuarista ficar em escala tímida. Precisa usar tecnologia, rever a escala, fazer fusões e parcerias, integrações, colaborando para a consolidação do Sisbov, que tem ido muito bem, e também com a classificação de carcaças. Ter uma fazenda informatizada, com gado rastreado, segurança alimentar. Os benefícios irão para os mais competentes no mercado, que reconhecerá o melhor produtor, e este ganhará mais. Tem de passar pela cabeça do produtor profissionalizar-se, automatizar a produção. Quando chega a esse nível, tem informação demais e sabe que é melhor do que usar só conta de média, ou seja, sabe quanto deu acima e abaixo. Só conseguirá isso se, ao profissionalizar-se, reconhecer que é melhor investir em informatização. Até hoje, acham que o Sisbov mudará tudo, mas o mercado não aceitará ninguém não-profissionalizado. É difícil mudar a cultura, tem de partir da conscientização de que não pode ficar fazendo experiência por conta própria, e sim contratar quem se especializou na área, senão é amador. Ter um projeto: o que estou fazendo, como estou fazendo, como controlo, como sei que o que eu quero está sendo feito? Assistir à consolidação dos dados, analisá-los e ver como tomar decisão com base no que tem de informação. E não fazer como o pai ou o avô fez. É escala econômica. Agindo assim, amargará resultado negativo”.
José Mário Junqueira Netto, Associação dos Criadores de Brangus – “Como novidade, a Associação tem desenvolvido um programa de qualidade da carne, juntamente com um projeto de rastreabilidade, com o Fundepec e em fase de retoques finais. Provavelmente, será lançado em 2004, levando em conta que a rastreabilidade teve idas e vindas. A associação está pronta, com software desenvolvido. Junto com isso, teremos o programa de qualidade de carne Brangus, uma diferenciação, um atestado de qualidade, também com o Fundepec, a ser implantado a partir de 2004, visando a fazer integração entre produtor, indústria e consumidor. No primeiro trimestre, lançaremos a campanha, não só internamente, entre os sócios, mas para o consumidor, esclarecendo porque consumir esta e não outra carne. Para 2004, o principal desafio é dentro da cadeia produtiva. O desafio é conseguir fazer a integração entre produtor e indústria. Isso é antigo, todo mundo fala: quando falta boi, os frigoríficos se aproximam dos produtores; quando estão bem-abastecidos, viram as costas. Resolvido esse problema, havendo maior integração, pode-se criar a expectativa de carne de boa qualidade diretamente para o consumidor. Na pecuária de modo geral, é um grande entrave. Poucos dominam o mercado e o manipulam de acordo com sua vontade e seus interesses. O que importa é quanto pagam e não quanto vale. É uma relação de teoricamente parceiros em uma cadeia, mas não existe integração. É um entrave desde quando existe a pecuária. Entre os produtores, estes também não se organizam, não se associam, não fazem marketing da carne. Por um lado, tem o industrial que não tem interesse nenhum (com raríssimas exceções), que não quer saber; do lado dos produtores, a mesmice. Ele deve mostrar sua produção para a indústria interessada em um produto diferenciado. Evidentemente, atinge um nicho de mercado, não é a solução para pecuária brasileira, mas, assim, não se ficar de chapéu na mão. Nessa cadeia, por anos e anos, a carne tem sido tratada como assunto demagógico, a começar com tabelamentos, desapropriação de boi no pasto, desestimulando o produtor a apresentar uma carne melhor. Foi fixada uma cultura de que boi, quando morre, vira carne de vaca. A primeira coisa a fazer é uma campanha da cadeia produtiva, principalmente de associações de criadores, para valorizar, esclarecer sobre o processo de tecnologia e tentar valorizar a carne. Carne de boi é carne de boi. Toda a cadeia, desde o varejista, distribuidor, industrial, produtor, precisa dessa integração. Deve haver mão-dupla e não somente imposição. Um boi precoce, com dois a 2,5 anos, acabamento e peso ideais, não pode valer a mesma coisa que um com cinco ou seis anos. Quando o frigorífico está sem boi para abater, valoriza e paga melhor, mas é uma valorização teórica, momentânea, de mercado, não uma política de valorização, tanto que as cadeias produtivas instaladas nos últimos dez anos nunca deram certo, em grande parte, por causa disso. Há mercado, mas há desinteresse da indústria, que trata o produto como commodity“.
Lucio Conarchini, Lagoa da Serra – “Lagoa da Serra sempre foi conhecida por ter a melhor qualidade de sêmen do mercado, agora achamos que isto não é o grande diferencial, isto é obrigação. Hoje, o que diferencia é a nossa equipe de consultores, cada vez mais focada no cliente com o objetivo de ajudá-lo a ter lucro e ficar na atividade. Este será o foco de 2004: cada vez mais, profissionalizar a nossa equipe. Outra situação é divulgar a técnica de IA no Canal do Boi, tentando mostrar o quanto é fácil e barato inseminar. O grande desafio, no meu entender, é o Brasil manter-se como primeiro exportador de carne do mundo e conseguir agregar valor ao preço de exportação, pois, hoje, temos a carne mais barata do mundo, e isto deve ser repassado também aos produtores. Penso que é a hora de o produtor mais competente e que produz um novilho precoce de qualidade diferenciada ser mais bem-remunerado, desta forma, com certeza, a nossa pecuária, além de maior, será a melhor do mundo”.
Luis Alberto Moreira Ferreira, ABC (Associação Brasileira de Criadores) – “A Associação Brasileira de Criadores, fundada em 1926, é uma das mais antigas entidades da pecuária nacional. Por não representar uma raça bovina específica, abriga criadores de todas as raças, tanto de corte como de leite. Sua vocação natural, portanto, é contemplar a pecuária brasileira no seu conjunto. Em razão dessa característica, em 2004, a ABC continuará a participar das grandes discussões do setor, procurando contribuir nas decisões de modo a favorecer os interesses da pecuária brasileira. No que se refere à pecuária de corte, ao participar como membro efetivo da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Carne Bovina e do Comitê Técnico do Sisbov, a ABC continuará a concentrar esforços na construção e execução de um eficiente sistema de rastreabilidade no Brasil. O principal desafio da cadeia da carne bovina é encontrar o equilíbrio entre os interesses de seus diferentes elos. Para ficar em um exemplo, a conquista de melhores preços para a carne exportada, verificada no decorrer de 2003, não resultou em maiores ganhos para o pecuarista. Ou seja, isso mostra um desequilíbrio inadmissível na cadeia, e cadeia sem equilíbrio desmorona. Para superar esse problema, um passo fundamental é valorizar o papel da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Carne Bovina como fórum privilegiado para as discussões do setor. Ali estão representantes de todos os elos da cadeia, inclusive o governo federal, por meio do Ministério da Agricultura, que tem demonstrado grande capacidade de ouvir a todos e também de falar, com vigor, nos momentos certos. Além disso, no corrente ano, a ABC em parceria com a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, tornou-se gestora do CB56 (Comitê Brasileiro da Carne e do Leite) e pretende, com a participação de entidades congêneres, faculdades etc., estabelecer normas e padrões que sirvam de referência para esses mercados, visando a melhorar a qualidade dos produtos das duas cadeias produtivas e, por conseqüência, obter melhores preços para os produtos de exportação, além de assegurar sua qualidade e segurança alimentar”.
Luiz Gustavo Nussio, Esalq/USP – “Tem muitas pesquisas em desenvolvimento. Uma delas é sobre aditivos para controlar fermentação alcoólica em silagem de cana; em geral, pesquiso a área de controle de perdas em silagem de capins. Em 2004, talvez até meados do ano, sairão novos resultados. O desafio da cadeia para o próximo ano é organizar o segmento de produção no sentido de garantir um fluxo de oferta de carne, com qualidade, e começar a focar o que chamamos de segurança alimentar. O Brasil terá de entrar nisso para se comportar como fornecedor mais forte. Quanto a resíduos em carnes, há imposição dos compradores do mercado externo, envolvendo todos; políticas publicas serão direcionadas a isso. O conceito de qualidade de ambiente também deverá ser trabalhado. O produto final é requisitado como produto de qualidade, mas o ambiente começa a ser questionado internacionalmente. A que condições estamos obtendo esses produtos? Precisamos pensar em sustentabilidade, que se reflete em um produto saudável, com credenciamento de fornecedores, especialmente europeus. Devemos exercitar mais esse tipo de ação com base em conceitos éticos”.
Luiz Meneghel, Estância 3M – “Há algum tempo detectamos que precisaríamos redirecionar o Limousin no Brasil. Sempre temos usado sua funcionalidade, sua adaptabilidade, assim, acho que estaremos voltados totalmente para produzir touros extremamente adaptados. Queremos aumentar isso, a partir de seleção de animais de pelos curtos. É uma forma radical, diretamente relacionada à adaptabilidade, queremos radicalizar neste sentido. A finalidade do touro europeu, na nossa concepção, é cruzar com fêmeas zebuínas. Onde está a pecuária? Mato Grosso do Sul e Centro-Oeste. Temos de produzir animais que tenham condições de desenvolver-se com tranqüilidade nessas condições. Encaminharemos 200 animais para a Fazenda Sonora, em MS, para criá-los nas condições de meio ambiente de lá e forçar a seleção para essas condições, caso contrário, estaremos fora do mercado. O Limousin e qualquer outra raça. O desafio para o ano que vem é mostrar que os touros da 3M têm todas as condições de trabalhar no Brasil central. E preencher os mercados com oferta maior de touros. Já sentimos um retorno ao cruzamento industrial. Se quiser fazer um animal jovem, precoce, indiscutivelmente, tem de usar raças européias. Outra ação é trazer linhagens com pelo curto e que tenham algum marmoreio em função da demanda do mercado. O pecuarista tem de estar voltado para produzir o que o mercado quer”.
Manuel Henrique Farias Ramos, CNPC (Conselho Nacional da Pecuária de Corte) – “Ganha cada vez maior dimensão o conceito de cadeia produtiva. Para 2004 e os próximos anos, o tema será essencial, pois não há como rastrear e certificar sem o funcionamento harmônico dos segmentos que compõem o setor pecuário; principalmente, para garantir a sanidade animal. O assunto não é novo, faz quatro décadas que o professor norte-americano Ray Goldberg estabeleceu os princípios do agribusiness, tendo como conceito básico a cadeia produtiva. A adoção do conceito cadeia produtiva pela pecuária tem sido imposta pelo consumidor, que exige segurança alimentar. Não só no mercado externo, mas também o consumidor brasileiro, preocupação revelada em todas as pesquisas realizadas. Além da qualidade total que supõe também sabor, maciez, gordura e aparência. A crescente participação da mulher no mercado, graças aos meios tecnológicos, faz dela um consumidor mais esclarecido e mais exigente. Segundo Alvin Toffler, as novas tecnologias trazem consigo mudanças econômicas, sociais e culturais que resultam em uma nova civilização, ou uma nova maneira de viver. As novas tecnologias já provocaram profundas alterações nos hábitos dos consumidores, as pessoas saem menos para comprar e usam mais os delivery, alterando assim o relacionamento no mercado. O diálogo com o balconista, que explicava sobre o produto, está sendo substituído pela marca, a confiança na empresa. No perfil do novo consumidor, está a exigência de uma alimentação saudável, mais comodidade com pratos pré-preparados e prontos, melhor aproveitamento e menos desperdício. A pecuária terá de adequar a cadeia bovina à preferência do consumidor, com isso fechou-se o ciclo empírico de produção e comercialização. A produção técnica adota novos conceitos: cadeia produtiva, rastreabilidade, análise de risco e pontos críticos de controle, alianças mercadológicas, certificação e comercialização com marcas. O comércio varejista no Brasil foi completamente transformado, desde a década de 1990, com a entrada avassaladora de grandes grupos econômicos do varejo, americanos e de várias nacionalidades da Europa, os quais introduziram modernas tecnologias e dispunham de capital a juros baixíssimos comparados aos nossos. Agora se fala em comércio eletrônico, modelo de fazer negócios, substituindo os processos tradicionais, por transações eletrônicas. Algumas das novas técnicas são bastante conhecidas e viabilizadas graças à informática, que se apresenta como uma poderosa ferramenta para as empresas comerciais. Aí começam as muitas siglas, a exemplo do ECR (Efficient Consumer Response), que podemos traduzir como resposta eficiente ao consumidor. O ECR tem como principal meta proporcionar qualidade no serviço de atendimento ao consumidor, que conta com o EDI (Intercâmbio Eletrônico de Dados) que utiliza o código de barras e a identificação dos produtos, o que estabelece uma nova relação com o fornecedor. Este é um breve apanhado do desafio da cadeia produtiva bovina para 2004, não só para ganhar o consumidor, mas para competir com as outras duas principais carnes: de frango e suína. Além de ter de reorganizar a relação entre a produção e o varejo concentrado pelas grandes redes varejistas, que já estimulam a concentração na indústria. Está aí o grande desafio do maior rebanho comercial do planeta, com seus 183 milhões de cabeças, que exportou para 104 países, ultrapassando a barreira de 1,3 milhão de toneladas, tornando-se o maior exportador superando a Austrália, que antes ocupava o primeiro lugar. Espaço que precisa ser consolidado, pois o crescimento da produção pecuária tem sido absorvido pelo mercado externo, enquanto o consumo brasileiro se mantém estável. A condição necessária para o sucesso da nossa pecuária dependerá da capacidade de harmonizar a cadeia produtiva bovina”.
Marco Garcia de Souza, Três Lagoas – “Pretendemos oferecer ao mercado uma maior garantia nos produtos ofertados, tanto quanto à questão sanitária, como à melhora contínua do rebanho. Acredito que o maior desafio do setor é conseguir avanços nas questões sanitárias, como ampliação das áreas livres de febre aftosa no Brasil e na América Latina, através de campanhas conjuntas entre estados e países. E um ajustamento na aplicação da rastreabilidade, de maneira real e eficiente para a pecuária nacional, por meio de mudanças na lei, que possibilitem a aplicação das regras de maneira opcional e não obrigatória, dentro da realidade de cada região”.
Maria Lúcia Abreu Pereira, Fazenda Mariópolis – “A Fazenda Mariópolis ofertará ao mercado reprodutores e matrizes das raças Caracu, Bonsmara e Senepol, geneticamente avaliados e selecionados a pasto. Animais melhoradores, rastreados, submetidos a teste de performance que agreguem valor e produtividade aos rebanhos de seus clientes. O principal desafio para a cadeia de carne bovina brasileira é atingir o padrão de carne necessária para exportação para que, além de manter sua posição como maior exportador do mundo, o Brasil também obtenha o melhor preço para esse produto. Para superar esse desafio, temos necessidade de sanidade, rastreabilidade e qualidade da carne, que deve ser atingida por meio de cruzamento industrial feito com competência, utilizando animais melhoradores e geneticamente avaliados”.
Paulo Loureiro, XSJ – “Para 2004, a novidade é a integração entre lavoura e pecuária, minimizando custos, na região de Água Clara e Ribas do Rio Pardo, MS, para reforma de pastagem. Para que não percamos a capacidade produtiva, é necessário reformá-la, mas os custos são elevados. Com a agricultura, consegue-se minimizar o investimento. Além disso, teremos a expansão do rebanho. O desafio, em minha opinião, como consultor, é fazer o Sisbov funcionar para o que foi projetado, corretamente, para que todos comecem a cadastrar bezerros e não bois. Para a cadeia, a maior integração entre pecuaristas e frigoríficos é essencial. Enquanto o primeiro enxergar o segundo como adversário, não chegará a um acordo. É preciso formar grupos, com entrega de animais padronizados em datas estabelecidas. Não adianta ficar bravo. O Sisbov melhorou bastante, mas está longe do ideal. Os frigoríficos e supermercados já estão conversando. Um exemplo dessa integração é a carne Montana Grill, iniciativa pela qual o pessoal consegue fazer um grupo de pecuaristas abastecer o frigorífico (Marfrig) e abastecer as lojas com a carne, auditada pelo Fundepec, com bônus. Esse tipo de relacionamento precisa ser adotado por outros. Não são necessárias marcas, mas blocos, com garantia de data de entrega para o frigorífico, algo simples e óbvio, mas difícil de acontecer enquanto os pecuaristas não conseguirem conversar entre si”.
Pedro Felício, Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp – “A novidade para 2004 surgiu a partir de um contato com ACNB e Lagoa da Serra. É um projeto para análise de maciez de carne de Nelore com base em progênies de touro. Não se conhece até hoje esse item comparando progênies de touros. Temos apostado muito no crescimento da análise sensorial de carne. Sempre se falou em maciez, mas temos uma deficiência de gordura na carne que, se impressiona bem o consumidor, que não gosta de deparar-se com gordura na carne fresca, acaba tendo problema na hora de grelhar, pois resseca. A maturação resolve a situação em boa parte, mas não consegue colocar gordura. É um problema: se todo mundo quer tirar, por que colocar? Talvez possa ser resolvido com injeção de salmoura, com alguma proteína, ou massageamento ou na carne marinada (a técnica é muito usada na carne suína, mas proibida para aves, embora ninguém garanta que a proibição seja 100% respeitada). Podemos fazer produtos muito bons e temos de testá-los, primeiro com equipe treinada, para depois ir ao mercado consumidor. Outro projeto é uma pesquisa sobre steaks pré-cozidos para aquecer em casa ou no restaurante, ideal para quem mora em apartamento, solteiros ou idosos. São produtos que já encontram no mercado estrangeiro. A questão é como produzi-los com tecnologia própria. Se pudermos desenvolver aqui, talvez encontremos quem faça a máquina. Ainda há um projeto de avaliação de carne resfriada, em nível de especialização. O desafio para 2004 é a segmentação do mercado para toda a cadeia produtiva. Saber onde está o consumidor disposto a pagar mais desde que tenha muita garantia, conhecer os pontos críticos de controle, genética, é quase a utopia brasileira. Tenho muita dúvida quanto a produtos que têm aparecido na tentativa de fazer a segmentação, diferenciando preço ao consumidor, com tendência de triplicar o preço. Acho que tem de ser sutil. Se custasse R$ 1 real a mais, o consumidor compraria uma carne com uma marca em que pudesse confiar. Não acredito na carne que as pessoas que a produzem acham que é especial. Quem deve achar que é muito boa é o consumidor. Falta investimento em C&T na carne bovina, no que diz respeito à carne. Na falta de estímulos em termos de empregabilidade do indivíduo especializado, tão evidente, nós, professores, em vez de ficarmos felizes quando aparece um jovem que gostaria de dedicar a vida à pesquisa de carne, ficamos preocupados: Será que terá emprego para ele? O mercado não provoca a indústria para que ela venha a ser competitiva usando novas tecnologias. Teremos somente os pecuaristas investindo em tecnologias, pelo menos parte deles. Pode ser que mude. Tem de haver uma classe média forte, grande, pois ela puxa a transformação, emprega, consome e faz aumentar o emprego. Corremos o risco, neste governo, de vermos uma derrocada da classe média. Há um grande mercado de massa de baixa renda, achatando a classe média, com um grande risco de não conseguir comprar nem um apartamento, quando mais pagar aluguel. Estamos preocupados com os movimentos do governo. Agora, quando tenta denegrir a imagem do professorado, pensa na massa trabalhadora de baixa renda e no empresariado. Se não for assim, não sobra governo”.
Reinaldo Salvador, Associação Brasileira de Angus – “Em 2004, o grande desafio da Angus é conseguir lançar no mercado nacional e internacional a carne Angus certificada pela Associação. Temos um projeto conjunto juntamente com o frigorífico Mercosul, de Bagé, RS, e uma rede de supermercados de Porto Alegre. Se conseguirmos manter o cronograma, em janeiro, estaremos na gôndola com esse produto, a partir de animais produzidos por criadores de Angus do Rio Grande do Sul; em uma segunda etapa, lançaremos o mesmo projeto em Goiás. O segundo grande desafio é sedimentar a raça como a mais indicada na utilização em cruzamento industrial, quer seja via sêmen, touros da raça pura ou via sintético Angus Plus, no qual estamos trabalhando. Para a cadeia da carne, o desafio é concretizar a posição de primeiro lugar em exportação de carnes no mundo; em segundo, reduzir ao máximo a carga tributária incidente na cadeia; e, em terceiro, valorizar a carne produzida a pasto. A exportação é no longo prazo. A questão tributária é complicada, pois a reforma anda a passo de tartaruga com câimbra; a terceira é um trabalho de conscientização de mercado. Creio que o item dois é o principal. Reduzir a carga, eliminar o abate clandestino que inviabiliza as empresas legalmente constituídas, as quais já têm dificuldades de arcar com a atual carga tributária, e ainda precisam competir com empresas que não pagam. O frigorífico legalizado paga tudo que é possível, imaginável; o outro não paga e vende pelo mesmo valor. É só confrontar o total de abates e couros, que apresenta uma defasagem de mais de 15%, em um mercado no qual a margem da carne se situa em 3% 0 abate clandestino de 15% é uma fatalidade. Não há cadeia organizada do país que possa conviver com esse tipo de sonegação. A solução passa pela conscientização de todos os elos: o produtor, que, quando vende, o faz pelo melhor preço; a indústria, que teria de publicar notas de legalidade, dizendo “nós somos legais”; e a outra parte é o Estado, do qual a fiscalização tem de funcionar. Precisamos de mais pessoal de campo e menos de ar condicionado”.
Roberto Barcellos, Fischer Agropecuária – “Em termos de novidade, além de aumentar a escala de animais produzidos, cada vez mais reconhecida pelos compradores, tanto no mercado interno, quanto no externo, buscamos sempre o aprimoramento, o que nos permitiu chegar a dois tipos de animais (um com até 15 meses, o Fischer Beef, e outro um vitelo de sete meses, o Fischer Baby), os quais colocaremos nos mercados interno e externo. O desafio continua sendo a qualidade, que tem manutenção difícil, pois exige trabalho, treinamento e dedicação, da porteira para dentro. Para fora, a luta é pela melhora dos valores pagos pelos frigoríficos, classificação de carcaça, melhora do rendimento de carcaça e assimilação de todo um trabalho feito com o animal da porteira para dentro, com o frigorífico mantendo carregamento, os processos, os padrões de qualidade, obedecendo à temperatura, ao nível de pH. Isso influencia e compromete o trabalho feito até o acabamento. É preciso todos os envolvidos da cadeia conversarem. Há experiências copiadas e bem-sucedidas sobre as quais se deve conversar um pouco mais, trabalhar de trás para frente, conhecer a exigência do mercado, passar para o frigorífico, este remunerar melhor, para o mercado se diferenciar. Tentar produzir qualquer tipo de animal e convencer a população a consumir talvez seja mais difícil”.
Roberto Doria, Três Lagoas – “O desafio para 2004 é regularizar efetivamente a rastreabilidade, colocá-la em pratos limpos e fazer funcionar, de forma a atender especificamente ao mercado importador que tende a exigir a rastreabilidade. Não faz sentido pagar sem critério, é preciso fazer o rastreamento de propriedade, não de animal, pois o deste último não é confiável. Na prática, a empresa entrega os brincos. Caso se rastreie a fazenda, com seu número, mais o número do animal, como controle interno, ela passará a ser responsável pelo que encaminhar. Deve ser uma rastreabilidade mútua, fazendo com que isso tenha retorno para o produtor. Hoje, ele não sabe o que acontece com o animal que está morrendo rastreado. Não adianta nada para o produtor de bezerro, se ele não tem informação sobre qual o peso do animal, qual o acabamento de gordura no momento do abate”.
Valmir Rodrigues, Biorastro – “Trabalharemos bem-voltados ao produtor, é a filosofia da empresa. Queremos levar a rastreabilidade para o produtor, cada vez mais ele tem de ser dono do seu negócio, ter o certificado que inclusive lhe possibilite poder de negociação na hora de comercializar o gado. Pretendemos trabalhar dessa maneira, com promoções, campanha de quarentena para 90 dias, talvez no período de vacinação. O desafio da cadeia da carne é seguir o que está na lei. O mercado já sinalizou com todas as suas exigências, o Brasil cumpriu bem com febre aftosa, tem vencido o desafio da rastreabilidade, se antecipando a vários outros países. Por ser o primeiro lugar nas exportações, há uma pressão muito grande dos concorrentes. Alcançar o primeiro lugar é difícil, mas manter é mais ainda, principalmente pelo fato de outros países colocarem dificuldades. No ano que vem, haverá auditoria da UE. Com a prorrogação, a 15 de março, entrarão os países de lista geral. Temos essa nova normativa que acelera o processo de rastreabilidade. O produtor, por sua vez, tem de ter consciência de que tem de fazer, colocar o brinco realmente. Não de faz de conta. A rastreabilidade é feita por vários participantes da cadeia. Existe o Ministério, as certificadoras, os produtores, os frigoríficos e as produtoras de brinco. Se pegar o Sisbov quando foi implantado e onde está hoje, sabe-se que tem de colocar o brinco, ficar 40 dias no sistema. Na comercialização, não tinha política definida. Hoje, paga-se R$ 1 a mais por animal rastreado. Se rastrear, tem diferencial, compensa. Não podemos é ficar de braços cruzados, vir a EU e questionar nosso sistema. Está implantado, tem sido corrigido em várias deficiências. É preciso pensar positivo, pois já temos um enorme caminho percorrido”.
Fonte: Mirna Tonus, da Equipe BeefPoint
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Cumprimentamos os entrevistados deste artigo, desejando muito sucesso a todos no ano vindouro.
Agradecemos ao Sr. Celso de Freitas, da Tortuga, pelo apoio que sempre demonstra ao SIC -Serviço de Informação da Carne, mencionando-o sempre que tem oportunidade para tanto.
Gostei do comentário do sr José Mario Junqueira, é o que mais aproxima a realidade do pecuarista. Parabéns.
Gostaria de parabenizar os depoimentos do Senhor Manuel Henrique Faria Ramos e em especial ao Prof. Pedro Felício, por lembrarem da necessidade de maiores investimentos em pesquisas com parceria das universidades. Infelizmente, ainda é muito difícil realizar pesquisas aqui no Brasil, só na dependência do auxílio de verbas por parte de algumas instituições de apoio à pesquisa, como Fapesp, CNPQ, CAPES, dentre outras. É hora sim da união de toda a cadeia, mas não se esquecendo que o produtor rural, associações, assim como o frigorífico deveriam dar maior apoio e incentivo aos projetos de Universidades, para maior credibilidade, confiabilidade e qualidade de todos os produtos da cadeia industrial da carne.
Atenciosamente,