O Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) se reunirá na segunda-feira (05) com representantes e produtores de carne bovina para traçar estratégias comerciais de expansão no mercado externo. A intenção é criar condições para que o Brasil consiga ocupar o espaço deixado pelos Estados Unidos com a descoberta da doença da “vaca louca” em território americano.
Até ontem, 32 países mantinham proibição de importação de carne bovina americana, apesar dos apelos de Washington para que revertessem a decisão.
Entre esse países estão Japão e Coréia do Sul, que juntos compravam 56% do produto dos Estados Unidos. “Este é o momento de o Brasil consolidar sua posição no mercado internacional como maior exportador de carne do mundo”, afirmou o secretário de Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento e Turismo do Estado de São Paulo, João Carlos Meirelles, também vice-presidente do International Mit Secretariat (Secretariado Internacional da Carne).
Além de maior exportador, o Brasil tem o maior rebanho comercial do mundo, com 185 milhões de cabeças de gado. No momento, o maior concorrente do País no mercado internacional, na opinião de Meirelles, é a Austrália, que neste ano sofreu com a seca e teve de reduzir em 200 mil toneladas a produção de carne, um ponto positivo para o Brasil. A Argentina, sétimo maior exportador de carne bovina do mundo, também poderá beneficiar-se da doença nos EUA.
No entanto, não será tão fácil tirar proveito dessa situação. No curto prazo, uma série de obstáculos deverá dificultar a tarefa.
O primeiro será, provavelmente, a queda generalizada dos preços da carne no mercado internacional, provocada pela redução acentuada da demanda no mercado norte-americano, segundo informações da Down Jones.
Um segundo ponto é a estrutura do mercado internacional de carne bovina, pois os EUA são o terceiro maior exportador, mas os tipos de corte que o país destina ao Exterior são diferentes dos comercializados por outras nações. Por exemplo: os EUA abastecem aproximadamente 95% do mercado global de cortes de gado de criação intensiva, alimentado com milho. A maioria dos outros exportadores, entre eles o Brasil, comercializa principalmente cortes de um tipo de gado mais magro de criação extensiva.
Isso significa que o mercado doméstico norte-americano pode absorver parte da produção local que não foi escoada para outros países, em vez de comprar a carne brasileira ou a argentina.
Para completar, os EUA também ocupam o posto de maior importador de carne, gastando cerca de US$ 3 bilhões por ano em cortes tradicionais de outros mercados. “Ainda não se sabe exatamente o que vai acontecer”, disse o analista da Alaron Trading em Chicago, Chuck Levitt. “Talvez, os Estados Unidos deixem de comprar carnes da Austrália, do Brasil, da Argentina e de outros países”.
Apesar da preocupação com o mal da “vaca louca”, o presidente dos EUA, George W. Bush, começou 2004 caçando codornas com seu pai no Texas. Comeu bife e mandou os americanos fazerem o mesmo.
Regras
A Secretaria de Agricultura dos EUA (USDA) irá impor regras mais rígidas sobre o comércio de carne bovina para alimentação humana. O objetivo é aumentar a confiança pública na carne americana.
A secretária de Agricultura, Ann Veneman, disse que está proibida a venda para consumo humano de carne de animais que aparentem enfermidade e não consigam ficar de pé, condições em que estava a vaca na qual foi detectada a EEB (Encefalopatia Espongiforme Bovina).
Veneman também disse que está proibido o consumo humano de tecidos de ”alto risco”, se oriundos de animais mais velhos. Entre tais tecidos, incluem-se os intestinos, a cabeça e o tecido espinhal. Por fim, Veneman afirmou que têm sido alterados os procedimentos nas técnicas utilizadas nos abatedouros, a fim de impedir que ocorra contaminação acidental da carne bovina com tecidos nervosos do gado abatido.
A filial japonesa da rede de lanchonetes McDonald’s suspendeu sua venda de cachorros-quentes, que levam salsichas fabricadas com carne bovina americana, após o primeiro caso de mal da “vaca louca” nos Estados Unidos, informou o jornal econômico Nihon Keizai Shimbun, segundo o qual 15% das salsichas dos cachorros-quentes vendidos pela McDonald’s no Japão têm carne americana, enquanto 100% dos hambúrgueres são feitos com carne australiana.
No mercado interno, o medo dos consumidores foi ilustrado pela queda da cotação do preço da carne no mercado futuro de Chicago ao limite mínimo permitido pelo quinto pregão consecutivo. Tais reações representam oportunidade potencial para exportadores do Brasil e Mercosul não só no mercado americano como também em países como o Japão e a Coréia do Sul, maiores importadores de carne dos EUA. O faturamento da indústria de carne bovina dos EUA caiu mais de US$ 1 bilhão desde maio, quando o primeiro caso da doença foi confirmado na Província de Alberta, no Canadá.
Fonte: Jornal do Commercio, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, adaptado por Equipe BeefPoint