Grupos foram definidos em reunião convocada pelo ministro da Agricultura diante do mal da “vaca louca” nos EUA
Em reunião na segunda-feira (05), representantes dos diversos elos da cadeia da carne na Câmara Setorial, juntamente com o ministro Roberto Rodrigues, no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), definiram a criação de três grupos de trabalho para tratar de questões emergenciais que envolvem o surgimento de um caso de “vaca louca” nos Estados Unidos.
De acordo com Cesário Ramalho, presidente da Câmara Setorial da Carne de São Paulo e vice-presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira), que participou da reunião com o ministro, foram definidos quatro grupos. “O primeiro, coordenado por Roberto Rodrigues e sua equipe buscará mais verbas, ordenará um orçamento para questões sanitárias, buscará novos acordos nas áreas sanitária e comercial, principalmente com verbas, delegando serviços para os estados, formando parcerias”, explicou Ramalho.
“As verbas do governo estão sendo pequenas. A pecuária está crescendo mais que o governo. O ministro pediu, há algum tempo, participação do empresariado na formação de grupos, junto com o governo, o que possibilitaria integrar o produtor. Temos de fazer isso, pois tudo é custo, e este tem aumentado muito. A aftosa, por exemplo, foi controlada com dinheiro público e privado. Não é o governo que tem de resolver isso. Temos de criar fundos, como o Fundepec, voltar a trabalhar administrando a verba, responsabilidade do setor. Por outro lado, mediante um ajuste de valores, motivar o pessoal da defesa animal, do Mapa, para fazer um orçamento organizado, ordenado dentro da disponibilidade dele, mas ele tem de honrar seus compromissos”, comentou.
O segundo grupo, de acordo com Ramalho, ficou sob responsabilidade de Kepler Euclides, da Embrapa Campo Grande, e trabalhará sobre a questão da segurança do rebanho brasileiro, com o objetivo de manter o status sanitário do País quanto à EEB (Encefalopatia Enpongiforme Bovina), “que é de risco zero”. “As propostas abrangerão todo o rebanho brasileiro, no sentido de reforçar todo o sistema sanitário para que continuemos com risco zero e evoluir na questão da aftosa”, continuou.
Esse grupo, em sua opinião, representa a questão prioritária frente ao incidente da “vaca louca” nos Estados Unidos. “Com os casos da doença na Europa e, recentemente, nos EUA, todo o sistema de defesa do mundo está questionado. E o Brasil é uma pequena exceção. Temos de cuidar disso”, argumentou.
O terceiro grupo, referente a novos mercados e oportunidades com a liberação de mercados dos Estados Unidos, é coordenado por Antonio Jorge Camardelli, diretor executivo da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), ainda de acordo com Ramalho.
O quarto grupo citado pelo presidente da Câmara Setorial paulista, é coordenado por Ismar Cardona, coordenador de Comunicação do Mapa, e objetiva difundir e orientar o consumidor interno e externo sobre as qualidades da carne brasileira.
Representantes
Enio Marques, consultor da Abrafrigo (Associação Brasileira dos Frigoríficos), participante do grupo que discute medidas urgentes para melhorar a organização brasileira em termos de qualidade e segurança, e que apresentou na reunião no Mapa um position paper sobre a doença e seus efeitos no mercado (leia o texto em Espaço Aberto “Crise BSE USA – Oportunidades e Ameaças“), comentou que o grupo tem trabalhado sobre oportunidades e desafios de curtíssimo prazo, sendo unânime o foco na questão sanitária, com verificação do cumprimento de todas as regras internacionais, da OIE (Organização Internacional de Epizootias), com avaliação de risco da EEB.
“Como não temos ‘vaca louca’, é importante que cumpramos as políticas definidas pela OIE e continuemos sem ter a doença, acompanhando fatores externos e internos. Na prática, sabemos que existem pontos mais frágeis, em termos de propriedade rural. Para mostrar que tem cumprido as exigências, o produtor terá de ter registros do que entra, do que sai, do que acontece na propriedade, um protocolo de produção. Acredito que o produtor está preparado para isso, é um agente econômico como qualquer outro. O setor é muito sensível, e, como a pecuária brasileira está internacionalizada, os produtores, que são a parte principal da cadeia, têm de cumprir regras de gestão que permitam mostrar o que fez para os consumidores, inclusive os internos”.
O mercado da carne, segundo Marques, não tem dinamismo, pois surgiu de acordos comerciais desde a Segunda Guerra. Para entrar nesses mercados dos EUA, é preciso, em sua opinião, acertar questões de relacionamento comercial e de garantia sanitária. “O comercial leva mais tempo. Os donos das prateleiras no Japão, na Ásia, nos EUA querem alternativa de produto seguro para EEB e somente abrirão quando tiverem relação fidelizada aqui. Estamos em uma fase pré-entrada nesses lugares, e o governo acertará as regras de acesso somente depois que os representantes privados se acertarem. Ninguém abre nada para o outro ganhar dinheiro”, continuou.
Antenor Amorim Nogueira, presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), participa do grupo responsável pela área de comércio exterior, incluindo representantes do Itamaraty, segundo informou a assessoria de Comunicação do órgão, segundo a qual o grupo buscará desenvolver iniciativas para aumentar a exportação de carne brasileira na seqüência da crise e fazer gestões em países que ainda vetam a carne sob o pretexto de barreiras sanitárias, especialmente na Ásia.
Nogueira revelou que o trabalho do grupo é fazer um levantamento das exportações americanas e australianas, para ver quais os países atendidos e identificar aqueles com os quais o Brasil tem acordos sanitários, como a Rússia, para os quais, segundo ele, o País é o único que tem condições de entregar essa carne. “Ao mesmo tempo, buscaremos mercados em que o Brasil não atua, fazendo um esforço de venda, mostrando a realidade brasileira, do produtor, mostrando o porquê do zoneamento para aftosa, o qual muitos importadores não entendem. Precisamos mostrar ao mundo inteiro que Brasil é único pais com condições de produzir boi sem aditivos, sem antibióticos, que não come ração com proteína animal, porque consome pasto”, completou.
Para mostrar isso, o presidente do Fórum disse ser necessário trazer formadores de opinião desses países e equipes veterinárias para que vejam a realidade brasileira em termos de controle de doenças e controles laboratoriais.
Para Kepler Euclides, coordenador do grupo de segurança do rebanho, existem oportunidades que devem ser trabalhadas, ao mesmo tempo em que constituem desafio, à medida que “o Brasil terá de trabalhar para acontecer, pois nada acontecerá de graça”. Segundo ele, analisando o que tem sido feito na área de defesa animal no Brasil, o País está bem, mas é preciso “aproveitar a oportunidade e possibilitar avaliação e ajustar o sistema de defesa”.
Além desse ajuste, ele considera importante mostrar aos consumidores que existe um sistema que realmente assegure a qualidade do produto, o que exige uma divulgação bem-estruturada das informações com relação ao rastreamento, por exemplo, citando o Sisbov. “Mesmo que não tenha exigência de muitos países no primeiro momento, é uma importante peça de marketing. É importante mostrar que o Brasil é produtor de carne saudável, a maior parte a pasto, mas quando mostramos que tem certificação de propriedade, ‘selo verde’, criamos uma credibilidade extra e, conseqüentemente, consolidação e abertura de mercados”, analisou.
Em sua opinião, além do papel do governo de agente mobilizador e mantenedor da defesa, cabe ao setor privado entender que existe essa vontade do governo e que é um parceiro nesse contexto. “É necessária a mobilização do setor privado para adequar questões de qualidade”, complementou.
José Olavo, presidente da ABCZ (Associação Brasileira de Criadores de Zebu), que participou da reunião com o ministro, afirmou que colocou a entidade à disposição dos grupos na identificação dos animais importados nos últimos dias e que tem condições, em horas, de ter as informações sobre o gado zebu, da raça Brahman, importados nos últimos 90 a 120 dias, os quais precisam ser colocados em quarentena.
“Já temos know-how, adquirido quando aconteceu esse fenômeno na Europa e no Canadá, além de episódio de aftosa na Argentina. O que precisamos é exatamente a vigilância sanitária ficar mais atenta, não só às vacinações, mas às rações. Se tivermos a rastreabilidade bem-feita, teremos condições. Rastreabilidade bem-orientada quer dizer na fazenda, não no frigorífico. É olhar os animais, colocar os brincos, ver que tipo de pastagem consomem, quais são as vacinas, em que data foram tomadas, qual a partida. É um trabalho minucioso e consciencioso. Não é só tomar dinheiro do pecuarista”, esclareceu.
Mais ações
Fontes do Mapa informaram que o ministro Roberto Rodrigues conversará na semana que vem, por telefone, com a secretária de Agricultura dos Estados Unidos, Ann Veneman, para discutir sobre os impactos e as possibilidades brasileiras diante do caso de “vaca louca” naquele país.
Conforme noticiado hoje no Diário Popular, do Rio Grande do Sul, o DPR (Departamento de Promoção Comercial), do Itamaraty, lançou, na quarta-feira (07), o Programa de Promoção da Carne Brasileira. Segundo as informações publicadas pelo jornal, levantamento do Itamaraty constatou que os Estados Unidos exportavam para 43 países antes do registro da doença. “Desse conjunto, quatro países, Japão, Coréia do Sul, México e Canadá, respondiam conjuntamente por 92% desses embarques”, afirmou o periódico.
Fonte: Mirna Tonus, da Equipe BeefPoint