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[VÍDEO] Confira entrevista com Marcelo Pimenta, da Exagro sobre Gestão de Pessoas e Processos

Marcelo Pimenta, consultor sênior e diretor executivo da Exagro, concedeu uma entrevista a Miguel Cavalcanti, do BeefPoint, com o tema Gestão da Produção.

Confira abaixo um resumo da entrevista, bem como o vídeo com ela completa:

Miguel Cavalcanti: Das fazendas que são clientes da Exagro e que têm resultado, lucratividade, que se destacam nesse processo, qual a maneira de conduzir a gestão de pessoas, o que tem de boas práticas, bons exemplos que você pode compartilhar?

Marcelo Pimenta: Uma coisa fundamental, a parte básica de você ter uma boa equipe bem motivada e trabalhando bem é ter um bom ambiente de trabalho. Quando falamos de ambiente de trabalho, falamos do básico, que é lidar com as pessoas com respeito, preservando e fornecendo uma condição básica de vida para ele e para a família, com conforto, com liberdade de ele se divertir, viver bem, ter uma moradia bacana. Isso é básico e não é difícil para ninguém entender.

Agora, não é suficiente. Falando das fazendas mais interessantes, com os melhores resultados e que têm os melhores exemplos para dar em termos de qualidade das equipes e da mão-de-obra, primeiro, elas possuem uma linha de trabalho. O administrador, o gestor, o proprietário da fazenda sabe qual seu sistema de produção, quais são seus objetivos e onde a fazenda quer chegar e consegue transmitir isso para sua turma, consegue fazer a equipe entender quais os objetivos da fazenda.

Quando você tem uma propriedade rural, à qual não dá valor e onde não explica para as pessoas a importância do trabalho, ela não sabe o que está fazendo, qual o objetivo de resultado que aquela fazenda tem com o trabalho de dia-a-dia dela, essas pessoas não se comprometem, não têm como se comprometer. Um jeito de eliminar as pessoas boas é agir dessa maneira.

Esse é o exemplo das fazendas mais eficientes, o diferencial que faz essas fazendas não ter rotatividade, muito pelo contrário, as pessoas boas que estão a fim de vestir a camisa e produzir é porque sentem que seu trabalho terá um resultado e que esse resultado será reconhecido. Essa pessoa não quer sair dessa fazenda nunca se tiver esse reconhecimento.

Miguel Cavalcanti: Muito bom, estamos alinhados. Eu diria que a chave para gestão de pessoas, não só em fazendas, mas em qualquer negócio, é primeiro você ter uma clareza de visão, propósito e objetivos. A segunda coisa é conseguir comunicar com clareza esse plano, esse norte, essa visão de futuro, onde você quer chegar, o que quer fazer.

Há também a questão de quebrar esse plano futuro em ações mais pontuais. A pessoa, muitas vezes, está trabalhando em uma área específica da fazenda e não consegue entender como a rotina que ela vai fazer naquela semana está interligada com o que a fazenda busca fazer nos próximos 90 dias ou com a grande meta do ano da fazenda.

Marcelo Pimenta: Esse ponto é muito interessante e me fez lembrar de uma outra característica importante das fazendas que têm boas equipes. As pessoas participam em conjunto dessas reuniões e desses alinhamentos, então, é onde a pessoa que é responsável por misturar e fornecer o sal vai enxergar todas as dificuldades, as dores e os problemas dos vaqueiros que estão lá manejando. E a pessoa que às vezes reclama que o responsável pelo sal não encheu o depósito na data certa, vai também entender as dificuldades do outro e eles vão poder se ajudar.

É uma oportunidade onde cada um vai poder falar quais são suas dúvidas, quais suas dificuldades no dia-a-dia, e o que está enxergando no trabalho do outro onde pode contribuir, e abrindo o seu lado para que o ajudem a enxergar seus pontos cegos.

Essa questão de cada um fazer o seu papel e não ter oportunidade de se integrarem e entenderem o todo em conjunto é muito frustrante. A pessoa fica muito pouco engajada no sistema de produção como um todo, enxergando o dia-a-dia dela só naquele pedacinho que é o que faz.

Então, a questão desse alinhamento comentado anteriormente, quando é toda a equipe, de todas as funções, no mesmo ambiente conversando sobre isso, o ganho é espetacular.

Miguel Cavalcanti: Esse é um ponto chave, porque tudo o que você participou da construção é impossível você ser contra. Aquilo é seu também, você é o criador daquilo. Como você vai falar ‘não concordo’ se ajudou a fazer? Isso gera engajamento e envolvimento automático.

Você começou dizendo sobre gestão de pessoas e, embora tenha falado que é o básico, acho que temos que estar muito presentes para isso que é realmente se importar com as pessoas. As fazendas boas, as empresas boas, o dono, o gerente, o responsável, se importa com as pessoas, tem cuidado com as pessoas, as escuta, as conhece, sabe sua história, seu plano, seu projeto, seu medo, sua dor.

Como posso envolver ou engajar para ter pessoas mais comprometidas na minha fazenda além do financeiro? A minha resposta para isso é: importe-se mais! E não é falando que você mostra que se importa, mas sim, fazendo, ouvindo, dando atenção. A definição mais legal que conheço de respeito é: respeitar alguém é tratar a pessoa como se ela fosse importante. E no fundo, todo mundo é importante.

Marcelo Pimenta: Sobre essa pergunta, além do financeiro, que é importante, porque tem algum momento da evolução do negócio que será interessante ter alguma contrapartida financeira desse reconhecimento, mas a experiência que a gente vê é que ela está longe das prioridades da pessoa no momento de ela se engajar, trabalhar bem, fazer aquilo dar resultado.

Muito mais do que um reconhecimento financeiro por meta, por resultado, acho que o fundamental é se importar com a pessoa e não enxergar nela apenas um executor de tarefa. Deve-se enxergar na pessoa uma cabeça que pode pensar, ajudar a conduzir o negócio, e essa pessoa deve ser chamada para entender seus objetivos, o que você quer da sua fazenda, porque quando ela acordar de manhã para trabalhar, terá outra visão sobre o que está fazendo, vai enxergar lá na frente em termos de produção, qualidade de gado, qualidade de pastagem, resultado para a fazenda. Até mesmo para entender uma futura premiação financeira, que a fazenda resolver adotar.

Miguel Cavalcanti: A minha visão, com base na minha experiência, é de que muitas vezes as pessoas vão em uma fazenda muito boa e acham que a fazenda paga prêmio e concluem que o que gerou aquele resultado é o fato de pagar esse prêmio e não que aquilo era a cereja do bolo. O prêmio é a cereja do bolo, mas uma cereja sem o bolo, não funciona e o bolo é envolvimento, cuidado, se importar, trazer a pessoa para participar.

Já cometi muito o erro de achar que todas as pessoas com quem estou lidando sabem tudo o que eu sei, têm todas as informações que eu tenho. Quando você vai passar um recado ou uma instrução de como vai fazer alguma coisa, já cometi o erro de explicar para a pessoa que só eu, sabendo tudo o que sei, já pensei, já trabalhei, conseguiria entender aquela ordem da maneira correta, ou seja, a responsabilidade de não sair do jeito que eu esperava era minha.

Já vi isso acontecer em várias áreas diferentes. No caso da fazenda, se você pegar quanto de desperdício ou de erro, perda, cuidado, você tiver em cada uma das etapas, já que uma fazenda é quase um fluxo infinito de etapas, uma sequência de coisas acontecendo, quanto mais eficiente você for em cada uma dessas etapas, mais lá na frente o resultado vai aparecer. Isso pode não ser óbvio para todo mundo.

A gente pensar com a cabeça do outro e colocar o sapato do outro é uma maneira muito positiva de ter mais resultado nisso.

Outro tema que está interligado nisso que é, quando você tem clareza de objetivos, quando sabe onde quer chegar, quando tem planejamento, quando está medindo seus resultados, você tem um exemplo para contar como isso gerou uma maior harmonia, uma maior interação, uma maior paz, em um negócio familiar, em uma fazenda que é tocada por um membro da família. Conte um pouco desse processo: como gestão, planejamento, clareza, geram harmonia na família?

Marcelo Pimenta: Temos “n” exemplos. Isso acontece todos os dias, já que a pecuária ainda é um negócio com uma incidência muito grande de propriedade familiar.

A maioria das pessoas que nos procura hoje em dia são segunda ou terceira geração de um negócio familiar e quer tocar aquele negócio de uma maneira diferente da pessoa que está se aposentando ou que faleceu tocava.

Então, essa questão de como conduzir um negócio agropecuário familiar bate em nossa porta todos os dias e o esquema é sempre o mesmo: você imagina que você tem um negócio – esquece que é família – que vale R$ 10 milhões, que gira por ano R$ 2,5-R$ 3 milhões de receita e que você tem um sócio que é tão dono do negócio quanto você, que você não sabe o que está fazendo, se está conduzindo bem seu negócio, se está empregando bem seu dinheiro, se esse vai voltar para o seu bolso algum dia ou se seu patrimônio está sendo degradado.

Imagine essa situação em uma padaria, em uma farmácia, em uma agência de carro ou em uma indústria qualquer. Isso acontece todos os dias no agronegócio, com o agravante que essa pessoa é seu irmão; quando é um sócio que não é da sua família, você tem total liberdade de esclarecer e pedir as contas e querer resolver aquilo. Quando envolve família, irmão, filho, primo, pai, mãe, o negócio tem um complicador emocional muito grande. E essa questão de falta de condução com critérios, com indicadores, gera problemas inclusive para a família, de harmonia.

A gente vê isso todo dia acontecendo em várias empresas que a gente atende. Uma característica da pecuária que provoca isso, além da característica principal de a maioria dos negócios serem essencialmente propriedade familiar, é o fato de serem também negócios tradicionalistas, ou seja, a pessoa toca aquilo sem os critérios de gestão que hoje está em voga no mundo dos negócios que são perfeitamente necessários em qualquer tipo de negócio produtivo e econômico.

Quando você tem uma propriedade em que não tem o orçamento de despesa, não tem planejamento da produção, não sabe quanto de dinheiro vai sobrar no final do ano, e se vai sobrar ou se vai dar prejuízo, e o que você vai fazer com isso, quem vai cobrir o buraco do prejuízo ou o que vai fazer com a sobra de dinheiro, e você ainda está em um ambiente onde todo mundo é dono e não tem ninguém que manda, imagine a confusão que isso vira.

Então, não só falando de sucessão, quando os herdeiros estão assumindo um negócio do qual eles não participavam, mas falando também de trabalho em conjunto, onde os sócios são parentes (irmãos, pai e filho), é fundamental mais uma vez a questão de ter métricas, orçamentação, a participação das pessoas na hora de planejar o negócio.

Todo mundo precisa participar na hora do planejamento, porque a pior coisa que tem é todo mundo participar informalmente na forma de palpite, de reclamação, de dúvidas, e de desconfiança. Isso não funciona em negócio nenhum do mundo, quanto mais, dentro de uma família.

Então, quando a gente adota ações de gestão que vão desde o diagnóstico, passando pelo planejamento, pela orçamentação, por um estudo de cenários, e aquilo vira um projeto com um plano de ação, a gente sabe quem tem que fazer o que, quem vai executar o que, quem vai ser um gestor (pode ser alguém da família ou algum profissional contratado), que tipo de prestação de contas essa pessoa tem que fazer para os acionistas, e como esse resultado da fazenda positivo, essa distribuição de lucro, vai ser feita no final. Quando a pessoa é ouvida, ocorre como no caso dos funcionários.

A adoção dos processos de gestão é fundamental não só para o negócio ir bem efetivamente e dar dinheiro, como para as pessoas gerirem bem aquele negócio e essa desconfiança, esse não conhecimento sobre os processos e sobre os resultados, acabar vindo a não só desgastar a família, mas depredar seu patrimônio.

Miguel Cavalcanti: Tem vários pontos na questão de pessoas e da família que são similares. Uma dessas será a construção do plano, de visão de futuro, e, depois disso, construir o plano de ação, já que todo mundo que participou da construção não vai poder criticar, no máximo, levantar hipóteses para decidir o que fazer para melhorar (sem apontar o dedo).

Outra coisa, que é essa questão da clareza e objetividade, de ter os números, uma maneira de medir, tem a ver com uma das coisas que acho mais interessante em todos os relacionamentos, que são os compromissos que você pode assumir (4 compromissos) e um deles, o terceiro, é “não faça pré-suposições”, tenha coragem de perguntar. Quando você tem essa clareza, esse planejamento, esse alinhamento, você não tem a necessidade de fazer pré-suposição, porque os números já estão claros para todo mundo.

De novo, quando você volta na essência, no que gerou aquela situação, não tenta resolver a briga com seu irmão. Dá dois passos atrás e se pergunta: o que está acontecendo que está trazendo isso? É falta de planejamento, de conversa, de construir em conjunto a visão de futuro do negócio?

Na maioria das vezes, o que eu vejo, é que na essência, o objetivo é o mesmo. Pode estar tendo uma briga enorme, mas não tem dois lados brigando, só tem um lado, pois os dois querem a mesma coisa, e por uma questão de comunicação, por essa escalada de atritos, de falta de clareza, gera toda essa dificuldade, que é uma dor e uma questão tão chave para muita gente que mexe com pecuária e negócios familiares.

Para encerrar, qual o recado, o desafio, a ação que você convida quem está assistindo esse vídeo sobre gestão de pessoas, relacionamento familiar e processos na fazenda?

Marcelo Pimenta: O que tenho a dizer é reforçar o que já falamos no início da conversa: coloque o chapéu do outro. Coloque-se no lugar do seu funcionário e se imagine trabalhando no lugar que você como gestor está proporcionando para ele.

Faça essa reflexão e veja quais pontos você pode melhorar nisso. Principalmente, entenda que você como administrador tem muito a aprender com aquela pessoa que está montada na mula, em cima do seu trator ou fazendo a manutenção de sua pastagem.

Assista a entrevista completa:

Se você quer se aprofundar mais nesse tema, inscreva-se no Fórum Exagro 2017, um encontro de 2 dias (28-29 de junho), em Campinas, SP para debater e aprender sobre esse assunto e também sobre outros 3 temas chaves para a pecuária eficiente, produtiva e lucrativa: http://forumexagro.com.br.

Fonte: BeefPoint.

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