Uma troca de mensagens entre Joesley Batista e o ex-assessor especial da Presidência da República Rodrigo Rocha Loures mostra a tentativa de marcar um segundo encontro entre o empresário e o presidente Michel Temer.
As mensagens foram divulgadas pelo site O Antagonista e confirmadas pela TV Globo. Para falar com o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures, do PMDB, o empresário Joesley Batista, da JBS, usou um aplicativo de mensagens de texto, o Confide, um dos mais seguros meios de trocas de mensagens secretas pela internet.
Para ler é preciso passar o dedo na tela. As linhas aparecem uma de cada vez. E depois que as mensagens são lidas, o aplicativo apaga o texto. Se a tela for capturada pelo destinatário, o remetente é avisado. Por isso, para registrar a conversa e produzir as provas, Joesley usou um outro aparelho para filmar e tirar fotos das telas durante a conversa que teve com o ex-assessor do presidente Michel Temer.
A troca de mensagens mostra que o empresário tentou marcar um segundo encontro com Temer, depois daquele da noite de 7 de março, no Palácio do Jaburu, e que levou à abertura de uma investigação contra o presidente da República.
Joesley queria discutir a Operação Carne Fraca, deflagrada dia 17 de março, e que investigou casos de corrupção em frigoríficos.
No texto, Joesley pergunta a Rocha Loures se consegue “um encontro com o chefe em Brasília amanhã à noite”. E fala que a Operação Carne Fraca ameaça destruir as exportações de carne em um único dia.
Rocha Loures pergunta se o encontro seria mesmo na segunda-feira. Joesley responde que sim: “Segunda ou terça”.
De acordo com O Antagonista, Joesley e Rocha Loures trocaram mais algumas mensagens sobre esse encontro. Rocha Loures disse que Temer estaria em São Paulo para um evento, mas a agenda estava lotada.
Joesley questiona se era melhor ligar ou deixar que “o chefe”, numa referência a Temer, ligasse. Rocha Loures sugere que Joesley mesmo telefone e passa o celular do ajudante de ordem do presidente.
Na delação, Joesley Batista contou que também conversou com Rocha Loures sobre uma disputa que a JBS tinha com a Petrobras sobre o preço do gás fornecido para uma termelétrica do grupo.
Os R$ 500 mil que Rocha Loures recebeu numa mala, em São Paulo, seriam uma das parcelas do pagamento de propina por causa desse assunto.
Em uma das trocas de mensagem, Joesley reclama que o preço da energia subiu e avisa Rocha Loures: “Estamos parando a térmica hoje”.
Em seguida, Loures promete “ver o que pode fazer”.
Eles trocavam mensagens sobre reuniões no Cade, Conselho Administrativo de Defesa Econômica que analisava um pedido da empresa de Joesley para condenar a Petrobras por conduta anticompetitiva.
E Joesley comemora: “Primeira missão concluída hoje com sucesso. Vamos falar da próxima?”.
Joesley Batista também entregou aos procuradores mensagens de outros aplicativos, como Whatsapp.
Segundo o empresário, ele acertou uma propina de R$ 6 milhões para o pastor Marcos Pereira, do PRB, já no cargo de ministro da Indústria e Comércio Exterior do governo Temer. Segundo o dono da JBS, Marcos Pereira pegou R$ 700 mil num encontro na casa do empresário. Na conversa, eles falam de combinar “um vinho” o que, segundo Joesley, era a senha para propina.
Essas informações das mensagens de Joesley Batista estão sendo analisadas pelos investigadores e podem ser incluídas na denúncia que o Ministério Público Federal deve fazer sobre o caso.
Para os investigadores, essas mensagens são mais um sinal da variedade e sofisticação das provas apresentadas na delação da empresa.
Além dessas mensagens e das gravações feitas por Joesley, a JBS também entregou extratos bancários, comprovantes de depósitos, movimentação de contas no exterior desde a data da abertura, documentos internos da empresa e imagens de circuito interno da JBS mostrando a entrada de investigados e a entrega da propina.
Executivos da JBS também aceitaram participar de ações controladas, concordaram com o grampo nos próprios telefones e até arrumaram o dinheiro que foi entregue em malas como pagamentos de propina.
Respostas
O Palácio do Planalto afirmou que o presidente Michel Temer defendeu todo o setor agropecuário brasileiro; que tem contribuído para recuperação da economia e para o crescimento do PIB, independentemente das empresas que atuem no setor; e que o fez sem atender aos pedidos de Joesley Batista.
A assessoria do ministro Marcos Pereira afirmou que as acusações não são verdadeiras; que os prints vazados foram feitos de forma seletiva e não correspondem ao contexto real dos fatos. A assessoria disse ainda que o ministro continua à disposição das autoridades para prestar os esclarecimentos necessários.
O Cade declarou que todos os atos processuais foram conduzidos pela área técnica, sem favorecimento, e que a ausência de qualquer parecer ou decisão do órgão a favor da usina térmica da JBS deixa claro que eventuais planos de terceiros para influenciar decisões não tiveram resultado.
Fonte: Jornal Nacional, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.