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Suplementação de aminoácidos para bovinos de corte

As práticas de formulação de rações para ruminantes durante muitos anos se basearam no conceito de proteína bruta, para o suprimento das exigências em proteína dos animais. Há alguns anos, iniciou-se a utilização dos conceitos de proteína degradável no rúmen (PDR) e proteína não degradável no rúmen (PNDR), como base para avaliação de alimentos e formulações.

No caso de animais monogástricos, o balanço de aminoácidos da proteína do alimento ingerido pelo animal, é considerado como o valor biológico da proteína a ser utilizada no metabolismo animal para crescimento, produção de enzimas, síntese protéica, etc. Nos ruminantes, esse processo se torna bem diferente, pois a proteína ingerida nos alimentos sofre grandes alterações durante os processos de fermentação ruminal. Ao chegar no rúmen, o alimento é fortemente atacado pelos microorganismos ruminais, havendo degradações e sínteses antes de passar adiante no trato digestivo, podendo ocorrer grandes alterações na qualidade da proteína original. Diante desses fatos, a qualidade da proteína dos alimentos na dieta de bovinos, passa a ter importância relativa, visto que podem ser alteradas, sendo transformadas em proteínas de alto valor biológico.

O total de aminoácidos (aas) disponível aos bovinos após a alimentação é compreendido pela somatória dos aminoácidos formados na síntese protéica do rúmen, e fontes de aminoácidos não degradáveis presentes nos alimentos. A proteína microbiana é considerada de alto valor biológico por possuir um balanço de aas semelhantes ao do tecido muscular, e possuir também alta digestibilidade (85%). A quantidade proteína microbiana produzida no rúmen é capaz de suprir as exigências em proteína de uma vaca com produção de 15 kg/dia ou de um novilho com ganho diário de 0,5 kg (Spears, 1996).

Devido às grandes modificações ocorridas nas fontes protéicas durante fermentação no rúmen, alguns métodos podem ser utilizados para a proteção de aminoácidos da ação dos microorganismos ruminais, permitindo a suplementação de aminoácidos específicos para absorção direta no intestino delgado.

As proteínas são compostas de 20 aas diferentes, sendo 9 considerados essenciais, ou seja, que não são sintetizados pelo animal, sendo necessário seu fornecimento via ração. Os nove aas essenciais são: lisina, metionina, treonina, triptofano, isoleucina, leucina, histidina, fenilalanina e valina. A arginina é considerado um aa essencial para várias espécies, porém, não para bovinos que sintetizam esse aa através do ciclo da uréia. Outros aa como a cistina e tirosina, são denominados semi-essenciais por serem sintetizados à partir de metionina e fenilalanina, respectivamente (aa essenciais).

Os resultados de trabalhos à respeito de qual aa seria o mais limitante ao crescimento ou produção de leite, apresentam resultados contraditórios, com autores concluindo que a metionina é o principal limitante para crescimento de bovinos (Buttery & D’Mello, 1994) , outros que encontraram a lisina como principal aa limitante para essa função (Broderick et al., 1991). Normalmente, lisina e metionina são descritos como limitantes para ruminantes. Como descrito anteriormente, o pool de aas disponível para utilização pelos bovinos após o processo digestivo, é a soma de aas não degradáveis de fontes constituintes da dieta, e aas provenientes da síntese microbiana no rúmen. Portanto, dependendo das fontes de aas não degradáveis presentes na dieta, poderá haver diferenças em quais aas seriam os mais limitantes à produção.

Aminoácidos protegidos

A suplementação de aminoácidos para ruminantes não deve ser feita de forma livre na dieta, pois serão degradados pelos microorganismos ruminais. Desse modo alguns processos químicos e/ou físicos podem ser feitos para “proteger” os aas da degradação ruminal, possibilitando assim um maior suprimento de aas no intestino.

Tratamento com calor

O tratamento pelo calor consiste na elevação de temperatura ocasionando uma forte ligação entre proteínas e carboidratos, denominado de reação de “Mailard”, que é irreversível, tornando a proteína mais resistente à hidrolíse enzimática. É um processo bastante utilizado para proteção de proteínas da soja, permitindo sua utilização como fonte de proteína “by-pass”. O fator de maior importância nesse processo é o controle da temperatura, pois temperaturas extremamente elevadas podem inibir tanto a degradabilidade ruminal, quanto a digestibilidade intestinal, tornando a fonte de proteínas indigestível, como também causar alterações irreversíveis nos aas.

Tratamento químico

O tratamento químico consiste na reação de compostos químicos com a proteína dos alimentos, tornando-os menos degradáveis no rúmen. O principal produto utilizado é o formaldeído, tendo sido produzido bastante caseína protegida através dessa reação. Vale lembrar que o formaldeído possui algumas restricões à sua utilização em determinados sistemas de produção, devido à atividades carcinogênicas desse produto em determinadas situações.

Os aldeídos também são bastante utilizados no processo de tratamento químico de fontes protéicas. São mais reativos que o formaldeído, reagindo com um maior número de aas, e possuem também menor custo em relação ao formaldeído (Broderick et al., 1991).

Tratamento físico

O tratamento físico das proteínas consiste em envolver a fonte protéica com uma substância de baixa degradação ruminal. Farinha de sangue, carne ou penas, por exemplo, são de baixa degradabilidade ruminal, e podem ser utilizadas para envolver a fonte protéica a ser protegida. Nesse processo não pode ser utilizada a farinha de sangue de ruminantes, quando o alimento for ser utilizado também para ruminantes, devido à proibição do ministério da agricultura, como forma de prevenção à encefalite espongiforme bovina (doença da “vaca-louca”).

Também podem ser utilizados ácidos graxos insaturados (ex: ácido palmítico) como substância protetora dos aas. O tratamento físico pode ser combinado com o tratamento químico, de forma que a reação química só ocorra com a substância encapsuladora, protegendo assim os aas do processo.

Tratamento biológico

Outra forma de aumentar a quantidade de aas disponível no intestino é através do fornecimento de microorganismos como a levedura Saccharomices cerevisae, que pode acumular até 15% do seu peso seco em lisina (Kung Jr & Rode, 1996). O fornecimento desse microorganismo para bovinos permite a suplementação de lisina no intestino, visto que a lisina é armazenada em vacúolos estáveis em ambiente ruminal.

Referências bibliográficas

BRODERICK, G.A.; WALLACE, R.J.; ORSKOV, E.R. Control of rate and extent of protein degradation. In: Physiological Aspects of Digestion and Metabolism in Ruminants. Procedings of the 7th. International Symposium of Ruminant Physiology.

BUTTERY, P.J.; D’MELLO, J.P.F. Amino acid in farm animals: an overview. In: Amino Acids in farm animal nutrition / Editado por J.P.F.Mello. CAB International. Wallingford-UK, 1994.

KUNG JR, L.; RODE, L.M. Amino acid metabolism in ruminants. Anim. Feed Sci. Tech., v.59, p. 167-172, 1996.

SPEARS, J.W. Organic trace minerals in ruminant nutrition. Anim. Feed Sci. Tech., v.58, p. 151-163, 1996.

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