O governo argentino continua negando a existência de focos de febre aftosa na divisa com o Rio Grande do Sul, o que deixa o Estado brasileiro em situação complicada, pois não pode deixar o rebanho gaúcho ser contaminado, ao mesmo tempo em que não pode desconfiar de informação oficial para não criar um incidente diplomático. Diante da dúvida, o secretário de Agricultura do Rio Grande do Sul, José Hermeto Hoffmann, notificou o Centro Panamericano de Febre Aftosa solicitando que seus técnicos verifiquem in loco a situação do gado argentino.
Já em Alegrete as barreiras sanitárias foram levantadas e na Bahia a doença será tema, entre os dias 14 e 15, da 29a Reunião da Comissão Sul-Americana de Erradicação da Febre Aftosa (Cosalfa), organizada pelo Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Panaftosa), com o apoio do Ministério da Agricultura.
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O Ministério da Agricultura recebeu na sexta-feira à tarde o comunicado oficial do governo argentino de que não existe febre aftosa na província de Missiones. Segundo o diretor em exercício do Departamento de Defesa Animal, Ricardo Pamplona, o comunicado diz que foram feitas duas vistorias, nos dias 5 e 7 de março, nos animais do município de Monte Agudo, de onde partiram as suspeitas de febre aftosa, e nenhum apresentou os sintomas da doença.
O comunicado da Secretaria de Agricultura da Argentina também foi repassado à Coordenadoria da Bacia do Prata no Rio Grande do Sul, vinculada ao Centro Panamericano de Febre Aftosa, com sede no Rio de Janeiro. Mesmo assim, a Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul pediu que o exército volte a patrulhar a fronteira com a Argentina.
Produtores de São Borja em estado de alerta
Fortes suspeitas de que a Argentina esteja passando por nova contaminação de aftosa colocaram em emergência a fiscalização sanitária do Rio Grande do Sul e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O governo argentino desmente as informações, mas técnicos da região as confirmam. Em outras ocasiões, os argentinos negaram a existência de focos que foram confirmados posteriormente.
O boato de que haveria focos de aftosa na região de Santo Tomé, na Argentina, preocupa os pecuaristas do município gaúcho de São Borja. Há cerca de uma semana, o secretário da Agricultura, José Hermeto Hoffmann, esteve em Tiradentes do Sul e lá recebeu a mesma informação, só que relativo a Monte Agudo, também no lado argentino.
Outra cidade que teria focos da doença seria na província de Santiago del Estero. “Recebemos informações de fonte absolutamente fidedigna de que realmente se trata de aftosa”, afirmou Hoffmann.
A resposta oficial da Argentina, segundo ele, deixa o Estado em uma situação difícil diante do crescimento dos boatos no lado brasileiro, “isso nos causa problema porque não podemos criar um incidente diplomático ao desconfiar da informação do governo deles”.
Diante da dúvida, o secretário notificou o Centro Panamericano de Febre Aftosa solicitando que seus técnicos verifiquem in loco a situação do gado argentino. “Se fosse o inverso, com uma suspeita de foco no Rio Grande do Sul, nós abriríamos nossas fronteiras para quem quisesse conferir. Isso é necessário para uma confiabilidade recíproca. Quem não deve, não teme”, afirmou Hoffmann, no último sábado, em São Borja.
Em Tiradentes do Sul, segundo o secretário, seis barcos fazem a vigilância no Rio Uruguai, de Garruchos até a divisa com Santa Catarina. Em São Borja, na ponte internacional que liga o Brasil a Santo Tomé, os procedimentos também foram intensificados. Nenhum produto animal ou vegetal passa pela barreira sanitária em direção ao lado brasileiro. No local, a informação é de que até sanduíches são apreendidos e destruídos num tonel com iodo. Os donos dos produtos recebem documento de apreensão.
Além disso, veículos passam pelo rodolúvio (espécie de piscina rasa com iodo) e os motoristas e passageiros desinfectam os calçados. Policiais da fronteira informam que tais procedimentos ocorrem desde o ano passado, mas confirmam que há boatos de focos na Argentina.
O governo gaúcho ofereceu técnicos para auxiliar os argentinos a combater a aftosa, partindo do pressuposto de que a crise socioeconômica do país o impede de fazer o controle.
Levantamento de barreiras em Alegrete
Hoffmann anunciou a retirada das quatro barreiras sanitárias instaladas em maio do ano passado em Alegrete, para o controle da febre aftosa. Ele lembrou que o sucesso obtido no controle e erradicação da febre aftosa também se deve à eficiência e agilidade com que a vacinação do rebanho foi feita.
Para o secretário, o ato de levantamento das barreiras comprova que a febre aftosa no Estado é um episódio do passado. “Estamos normalizando o comércio interno gaúcho e agora não temos mais motivo para que também o comércio com outros estados e países não seja normalizado”, salientou.
Aftosa em debate
Representantes de 11 países da América do Sul estarão reunidos em Salvador (BA) entre os dias 14 e 15 durante a 29a Reunião da Comissão Sul-Americana de Erradicação da Febre Aftosa (Cosalfa). Organizada pelo Centro Pan-Americano de Febre Aftosa (Panaftosa) e com o apoio do Ministério da Agricultura, a reunião servirá para discutir as diretrizes estratégicas do Plano Hemisférico de Erradicação da Febre Aftosa (PHEFA).
Este plano foi criado em 1988 como decorrência do retorno da doença em vários países do mundo, incluindo o Brasil e seus parceiros do Mercosul. O encontro em Salvador contará também com a participação de representantes de organizações de produtores, agroindústrias e organismos internacionais de cooperação técnica e financeira.
Estarão presentes técnicos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Mundial (Bird), Escritório Internacional de Epizootias (OIE), Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e Organização Mundial da Saúde (OMS).
Fonte: Zero Hora (por Rodimar Oliveira), Diário de Cuiabá (por LÉO GERCHMANN), Diário Popular/ RS, Folha da Manhã/ MG e Clic RBS/Agrol, adaptado por Equipe BeefPoint