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O inimigo

Nós fazendeiros (ou empresários rurais, se assim o preferirem), temos passado, nos últimos anos, por uma espécie de “redenção” pública, quanto à nossa imagem. Sim, redenção é a palavra apropriada, pois se antes éramos vistos pela maioria da população como parasitas fundiários, e até como “gigolôs de vacas” como o finado presidente João Figueiredo brindou os pecuaristas brasileiros, existe hoje a clara percepção que o agronegócio não é apenas o setor mais vibrante da economia brasileira, na realidade é o único setor superavitário da nossa balança comercial. Sem apelar para detestável “economês”, e resumindo: É o agronegócio que – há anos – confere estabilidade e pujança à economia brasileira. Meu caro leitor: nós sustentamos o Brasil.

Seria de se esperar que tivéssemos algum reconhecimento por este fato (nós e a Embrapa), se não por reconhecimento, ao menos por interesse do próprio país. É o que está acontecendo? Não. Deixo o descaso com que a Embrapa tem sido tratada nos últimos anos, para pessoas mais habilitadas que eu nesta seara. Lembro, porém, que não há sequer um país desenvolvido no mundo, que não tenha investido – e pesadamente – em pesquisa. Assim como jamais se verificou um caso de obesidade em campo de concentração.

Quando se fala em obstáculos à expansão agrícola no Brasil, imediatamente os identificamos como obstáculos externos: Barreiras alfandegárias, sanitárias, ambientais, sociais e trabalhistas; Subsídios concedidos pelos países ricos a seus produtores rurais; Cotas de importação; Acordos bilaterais; e toda a parafernália da OMC. Sim, isto tudo existe e entrava não apenas nosso crescimento, como reduz nossa renda.

Mas o grande inimigo à expansão do agronegócio é interno, e seu nome é GOVERNO (federal, estaduais e municipais). Temos seqüestrados quase 40% do PIB anualmente (cuidado Noruega, nós ainda te alcançamos), via taxas e impostos, e recebemos de volta o que? A meu ver muito pouco, quase nada.

O Governo Federal é o maior obstáculo ao desenvolvimento do agronegócio, o que se verifica em três vertentes: “fundiária”, “ambiental”, e de “infraestrutura e logística”.

A questão “fundiária” tem sido muito mal conduzida, e há mais de 20 anos: não me refiro apenas à complacência com MST et al., como também pela dispersão de recursos escassos com resultados pífios, inclusive iludindo – de forma cruel – os assentados que possuem verdadeira vocação agrícola.

A vertente “ambiental” não é desprezível, pois exigências, não raro descabidas, entravam o desenvolvimento e inibem novos investimentos. Antes que alguém me julgue como um contumaz criminoso ambiental, informo que 28,41% da área da Fazenda Água Milagrosa – situada no valorizado norte de São Paulo – é destinada a “meio ambiente”, inclusive com corredores de biodiversidade, essenciais à preservação da fauna. O que as capivaras e a macacada dão de prejuízo “atacando” plantações de milho e canaviais… Maior que este prejuízo, porém, só o prazer de ver a bicharada vivendo em paz.

Caso ainda acordado, fiel leitor, vamos focar em “infraestrutura e logística”. O que é “infraestrutura”? No caso em tela, são as condições físicas para que o agronegócio possa dar vazão a todo seu potencial. E o que é “logística”? É a sinergia existente – ou não – entre os itens que compõem “infraestrutura”, que, em relação ao agronegócio, são:

– Transmissão de dados e telecomunicação: é o único fator estrutural que obteve sensível progresso no Brasil, principalmente após ter sido privatizado (se bem que a população paga um pouco caro por isso).

– Geração e distribuição de energia elétrica: estranhamente, o governo FHC privatizou a distribuição de energia elétrica (novamente, a população paga muito caro por isso, já que os reajustes são, na maioria, são contratualmente atrelados ao IGP-M), mas manteve estatizada a maior parte da geração de energia elétrica. E esta é a parte mais cara, e de mais lenta amortização. Como o Governo não tem dinheiro para investir, o risco de outro “apagão” (lembram-se de 2001?) permanece, e nós só seremos salvos se as chuvas forem abundantes nas cabeceiras das bacias hidrográficas, como ocorreu em 2003. Senão…

– Transporte: Temos uma das melhores malhas hidrográficas do mundo (42.000 km navegáveis), porém apenas 5% de nossa produção agrícola é transportada por rios. A nossa malha ferroviária diminuiu nos últimos vinte anos, e praticamente não é considerada como opção para transporte de carga, exceto para alguns itens muito específicos, como minério. O presidente do “Corredor Atlântico”, e especialista em ferrovias e em logística Paulo Vivacqua, estima que nos próximos anos precisaremos investir mais de US$ 8 bilhões (sim, dólares. E sim, bilhões) em ferrovias para acompanhar o escoamento das safras agrícolas. De onde virá esse dinheiro?

Nada menos que 70% de nossa produção agrícola é transportada por rodovias – que é o meio mais caro para longas distâncias, além de ser o mais poluente. Em recente estudo da NTC (Confederação Nacional dos Transportes), informa que nada menos que 82% de nossas rodovias estão em estado precário! E mais, que nos últimos anos, o tempo gasto em rodovias até atingir os portos cresceu em 40%, para as mesmas distâncias! E nossas estradas não são apenas ruins. São poucas. Perdemos até de países africanos: a relação de rodovias asfaltadas por cada um milhão de habitantes no Zimbábue é de 1.589 km, ao passo que no Brasil esta relação não passa de 1.006 km.

– Armazenamento: A rede de armazéns (públicos e privados) brasileira tem capacidade muito menor que a safra de grãos, o que não apenas pressiona infraestruturas e logísticas já deficientes, por concentração de transporte e armazenamento em curto espaço de tempo, como não raro obriga o agricultor a vender parte de sua safra a preços não compensadores. Enquanto nos EUA 50% do armazenamento da produção agrícola é feita nas próprias fazendas (80% no Canadá), no Brasil não passa de meros 5%, segundo Tetuo Hara, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), especialista no setor.

– Portos: O movimento portuário brasileiro tem crescido 12% ao ano, fruto de incremento de exportações e importações. No entanto, e exceto por investimentos privados, como os da Cargill em Santarém (aliás, embargado pelo Ministério Público e pelo IBAMA), e de consórcio entre a Ferronorte, Bunge e Grupo Maggi nas perimetrais que levam ao porto de Santos, muito pouco tem sido feito em termos de ampliação de capacidade instalada e, principalmente, modernização. Todo ano a população brasileira assiste a duas novelas: qual será o valor do novo salário mínimo, e de quantos quilômetros será a fila de caminhões no porto de Paranaguá. Enquanto a média mundial de movimentação é de 40 contêineres/hora, no Brasil não passa de 27.

Ainda assim, a UNCTAD (Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento) estima que dentro de dez a quinze anos, o Brasil será o maior produtor agrícola e pecuário do mundo. Apesar dos Governos…

Finalmente, e antes que alguém me julgue um parasita, que espera que o Governo faça tudo por mim, respondo: quero apenas aquilo pelo que paguei. Se extorque quase 40% de minha renda, é justo que eu exija algo em troca.

Eu, você, e todo mundo. Este é o princípio básico da Cidadania: governos existem para servir ao povo, e não vice-versa.

0 Comments

  1. Ebert Guimarães Calaça Filho disse:

    Seria muito interessante enviar este artigo para senadores, deputados federais, deputados estaduais e até aos vereadores, caso alguém conheça algum que possa tirar os reais e honestos benefícios do mesmo, e que os mesmos possam lê-lo em plenário e possam dar continuidade ao assunto com a seriedade e urgencia que merece.

    O tempo urge, precisamos mudar o Brasil.

  2. Rodrigo Miranda disse:

    Excelente artigo Carlos. Por favor leia artigo de minha autoria na seção Espaço Aberto, onde faço algumas colocacoes a respeito do agronegocio brasileiro.

    Atenciosamente,

  3. Alexandre de Abreu Sampaio Doria disse:

    Mais uma vez, o Sr. Carlos Artur disse tudo. Além disso de forma muito clara e agradável.

    Uma pena que pessoas de fora do setor não tenham acesso a este tipo de material.

  4. Alexandre de Abreu Sampaio Doria disse:

    Enviei o artigo para o senador que elegi. Muito obrigado pela idéia, Sr. Ebert.