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Mato Grosso classifica couro

Programa do governo visa modificar técnicas de produção para melhorar a qualidade do produto

O Mato Grosso será o primeiro Estado no Brasil a classificar o tipo de couro que é beneficiado pelos curtumes. A iniciativa partiu do governo do Estado e do setor produtivo, que pretendem estimular a adoção de técnicas de produção capazes de melhorar a qualidade do produto final. Atualmente, o couro mato-grossense está abaixo do padrão usado para a venda dentro e fora do País.

O programa de classificação do couro está sendo implementado pelo governo e, inicialmente, consiste em um trabalho de conscientização do criador. Estão sendo distribuídas 50 mil cartilhas informativas em todo o Estado, trazendo dicas como a eliminação da prática de se marcar a ferro o gado. “Nosso produto está muito aquém da exigência do mercado. Por enquanto, o couro não dá lucro para os pecuaristas mato-grossenses”, explica o assessor especial da Secretaria de Indústria e Comércio do Estado de Mato Grosso (SICM), Waldebrand da Silva Coelho.

O programa de classificação visa racionalizar e melhorar a qualidade da matéria-prima para que seja possível aumentar a renda do pecuarista e garantir a lucratividade para toda a cadeia produtiva. “Para isso, é preciso um trabalho de conscientização dos pecuaristas. Um produto de ótima qualidade pode ter seu valor de mercado triplicado”, afirma Coelho.

A classificação pressupõe alguns cuidados extras com o gado durante sua permanência na fazenda, durante o transporte e também no abate. Um couro de primeira linha é aquele que, na região nobre do animal, não há marcação a ferro, parasitas e/ou ferimentos, provenientes de arames farpados, de lascas de madeiras de carrocerias em estado de má conservação.

A marca a ferro no couro do boi compromete a qualidade do couro, impedindo sua classificação. Para evitar a perda do valor, o criador deve optar pela marcação na cara ou nas pernas do animal. Outro alerta é quanto à incidência de parasitas, que também marcam e comprometem o valor comercial do produto.

De acordo com o programa, a classificação A requer que não haja marcação a ferro fora dos locais indicados. Os defeitos decorrentes de parasitas, como carrapatos e bernes, não poderão ultrapassar mais de 5% do couro do boi e a mesma porcentagem vale para os defeitos obtidos com o transporte do animal. A classificação B prevê que apenas 40% do couro tenham marcas de parasitas e defeitos físicos.

Já a classificação C aceita animais com 60% do couro comprometido. Acima destes percentuais, a pele é considerada de má qualidade para industrialização e passa a ser considerada refugo.

Idéia

O programa de classificação do couro foi uma idéia amadurecida por representantes do Sindicato dos Frigoríficos do Estado (Sindifrigo), da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e da Secretaria de Agricultura e Assuntos Fundiários (SAAF) de Mato Grosso. O grupo decidiu pelos critérios que seriam usados para a classificação, bem como as pessoas que estariam aptas para a função. Ficou acertado que o trabalho de classificação será realizado por médicos veterinários, que serão treinados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Vinte e cinco frigoríficos no Estado recebem o Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Mapa e outros oito recebem inspeção estadual. Os primeiros são considerados de grande porte por abaterem mais de 600 cabeças por dia, e os demais abatem em média 150 animais. “Com um mercado em crescimento, o criador tem que se conscientizar que vale a pena investir na qualidade do couro. Os frigoríficos pagam pela qualidade do produto. Só para se ter idéia do mercado, um frigorífico em Uberlândia (MG) paga pelo couro de cada animal R$ 8. No Estado o valor de cotação é de R$ 2,80”, compara Waldebrand Coelho.

Com o programa, a meta é de que de três a cinco anos a qualidade do couro alcance a classificação B e C. “A meta poderá ser atingida. Além do emprego de algumas tecnologias como o abate do novilho precoce e da implantação dos chips que farão a rastreabilidade do gado, os produtores devem ainda se conscientizar quanto ao trato dos animais”, observa Coelho.

Exportações

No ano passado, o Estado exportou cerca de seis milhões de quilos de couro. No mesmo período, o Brasil faturou cerca de R$ 2 bilhões com a exportação do produto e apenas R$ 1 bilhão com a venda de carne.

Os sete curtumes instalados em Mato Grosso beneficiam por dia cerca de nove mil peles e estão localizados nas cidades de Várzea Grande (Viposa), Colíder (Colidense), Cáceres (Tannery), Barra do Garças (União), Barra do Bugres (Santo Antônio), Araputanga (Araputanga) e Cuiabá (Brascouros).

No início desta semana, o secretário de Indústria, Comércio e Mineração, Carlos Avalone Júnior, recebeu a visita de três representantes da indústria de calçados Samello. A aparente visita de cortesia revelou o desejo da fábrica de investir no Estado. Há mais de dez anos, a Samello possui uma agropecuária, a Sudamata, em Tangará da Serra (a 239 km de Cuiabá), mas agora mostrou o desejo de investir na implantação de um curtume. A empresa também estuda a viabilidade econômica de um projeto voltado para o ecoturismo e a ampliação da hidrelétrica que mantém na propriedade.

Fonte: Diário de Cuiabá (por Marianna Peres), adaptado por Equipe BeefPoint

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