Por Odilon José de Oliveira Neto1
Há algum tempo a cadeia produtiva da carne bovina brasileira (CPCB) tem sido alvo de inúmeras discussões de estudiosos e especialistas, que em busca de estratégias alternativas tentam diminuir as distâncias existentes entre os objetivos de seus agentes. Dentre as cadeias produtivas do agronegócio brasileiro é conhecida pela disputa interna e visão unilateral que desagrega valores competitivos e ao mesmo desintegra os elos que a compõe. Exemplo disso é o domínio indiscriminado do Varejo, que baseado no alto poder de barganha e pelo convívio direto com o consumidor acumula de forma injusta os resultados obtidos nas relações comerciais.
Outra situação evidente é falta de cooperação entre frigoríficos e fornecedores de matéria-prima (pecuaristas), que prejudica enormemente a rentabilidade no setor. Hoje o Brasil possui 351frigoríficos e destes apenas 67 frigoríficos estão prontos a atender a demanda internacional segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias exportadoras de carne (Abiec). Vale lembrar que esses 67 frigoríficos pertencem na verdade a 17 grupos que dividem entre si 98% do faturamento bruto relativos as vendas externas, somando aproximadamente US$ 1,5 bilhão (Scot Consultoria). É importante destacar que estas empresas se destacam pelo abate de animais produzidos em conjunto com pecuaristas, através de programas de cooperação e/ou integração, que permitem a produção de animais com características de precocidade e qualidade superior, considerado ideais para exportação.
Pode até parecer estranho, mais a sobrevivência, crescimento e sucesso da carne bovina brasileira, depende hoje de um número bem maior de ações conjuntas contra as ameaças e limites à eficiência produtiva, do que o aproveitamento das oportunidades de demanda, já que o desafio da qualidade é a máxima do momento para os integrantes da CPCB. Os esforços para melhorar a qualidade da produção dentro das propriedades retornando em confiança dos consumidores é sim o maior desafio da CPCB, já que quantidade não é nosso problema. Daí pode-se tirar a seguinte conclusão: “A coordenação dos agentes da CPCB representam hoje o maior fator de competitividade, e as que possuírem melhor organização, controle e direcionamento cooperativo entre os elos serão capazes de alcançar e manter vantagens competitivas duradouras, mesmo com as incertezas e instabilidades do mercado”.
Dentro deste contexto o melhor caminho, ou como alguns estudiosos afirmam: “a estratégia ideal”, começa a ser construída a partir de agrupamentos industriais na Região Centro-oeste do Brasil, que hoje possui 56% das plantas frigoríficas prontas para o abate destinado a exportação, garantindo a formação de “clusters” que foram definidos por um dos estudiosos mais respeitados em todo mundo no que se refere a estratégia competitiva, Michael Porter (2002) como sendo: “Ambiente onde as empresas convivem com fornecedores, companhias relacionadas entre si, serviços especializados e instituições como os diferentes departamentos universitários”. Desta forma, pode-se concluir que alianças estratégicas negociadas entre os agentes da CPCB resultarão em uma maior eficiência nas relações, diminuindo os impactos entre os elos de produção, comercialização, apoio e coordenação, o que é essencial para o crescimento sustentável da competitividade da carne bovina brasileira.
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1Odilon José de Oliveira Neto, administrador pela Universidade de Uberaba-MG, especialista em Gestão Agroindustrial pela Universidade Federal de Lavras – MG e professor do Curso de Administração da Universidade do Estado de Mato Grosso
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No segundo parágrafo o autor comenta que as 67 plantas aptas à exportação “se destacam pelo abate produzidos em conjunto com os pecuaristas, através de programas de cooperação/integração”.
Eu sinceramente gostaria que isto realmente fosse uma realidade, mas desconheço qualquer destes programas. E me sentiria extremamente privilegiado se vocês ou o autor pudessem citar, a nós leitores, exemplos de programas. Que seriam sem dúvida o fim da exploração que os produtores sofrem pelos frigoríficos exportadores, que a cada ano que se passa aumentam suas margens de lucro com a exportação e nada repassam aos pecuaristas e enquanto isto ocorrer dificilmente qualquer pecuarista irá pensar em gastar mais para ter animais mais bem acabados. A menos que se imponham mais normas que os obriguem a isto.
Termino esta com uma grande esperança de que eu esteja enormemente desinformado e aguardo a informação solicitada para que eu possa divulgá-las junto a clientes pecuaristas e confinadores que tanto lamentam pela falta de uma “cooperação/integração” por parte dos frigoríficos.
Primeiramente gostaria de agradecer o nobre colega pelo comentário que por sinal só tem a somar com o conteúdo do artigo, lembrando que estarei sempre a disposição sobre qualquer dúvida ou sugestão.
Entendo o teor de revolta com os frigoríficos, entrentanto tenha certeza que algumas excessões tem feito o diferencial nas exportações. Pela situação apresentada pelo leitor gostaria de apresentar o exemplo de Paranavaí, onde alguns produtores formaram o GRUPO DA CARNE e implantaram um sistema que tem feito a diferença não só dentro da porteira, mas também no preço de comercialização, lembrando que o frigorífico Naviraí entrou nesta parceria acreditando no potencial e também remunerando aqueles produtores de acordo com a qualidade da matéria-prima (boi precoce com alto padrão) conforme a matéria apresentada pela RPC (TV Paranavaí), lembrando que este é apenas alguns dos exemplos de integração encontrados pelo país, por sinal o que considerei ideal para que o Leitor busque mais informações objetivando a solução dos problemas vividos na região:
Conteúdo da matéria da TV Paranavaí (fevereiro 2004):
Investimento em tecnologia na pecuária está trazendo reflexos positivos para as exportações paranaenses. A exportação de carne cresceu muito neste ano.
Neste ano, o Brasil se tornou o maior exportador de carne do mundo, e como as vendas ao exterior aumentaram também no Paraná, os produtores que investem em tecnologia estão lucrando mais.
As exportações brasileiras de carne cresceram 80% em novembro, em relação ao mesmo período do ano passado.
Desde janeiro, o país exportou um volume 39% maior do que em 2.002.
Nos primeiros dez meses deste ano, o Paraná exportou 27% a mais, na comparação com 2.002.
Em outubro, o estado dobrou o faturamento com as vendas de carne para o exterior.
O frigorífico Naviraí, de Maringá, é o que maior exportador de carne do estado. Os principais clientes são países da União Européia, a Rússia e o Chile.
O diretor de Exportações diz que nesta época sempre registra um crescimento, por causa das festas de fim de ano, mas o bom resultado tem outros motivos.
Produtores que investiram no sistema de identificação dos animais estão conseguindo vender o gado por um preço melhor.
Na região de Paranavaí, os pecuaristas decidiram formar um grupo para estimular a produção da chamada carne rastreada, formaram um condomínio para criar bois confinados e estão fornecendo carne para o Brasil e o exterior.
O cenário econômico nacional não deixa espaço para que ninguém ganhe dinheiro como outrora. O negócio agora é giro curto e preço competitivo. Todos temos que rever nossos custos e meios de produção.
Os pecuaristas têm os seus custos elevados, assim como também os frigoríficos os têm.
Não adianta transformarmos uma guerra, teríamos sim que sentarmos à mesa e procurarmos uma forma de todos ganharmos dinheiro, seja através de produtividade, seja através de forma de produção casada, seja através de melhor remuneração por animal abatido.
Esta última, seria um bom passo para todos, pois os frigoríficos estariam pagando de forma justa pelo melhor gado abatido e remunerando menos ao gado inferior.
Hoje, grande parte das plantas industriais (excetuadas as pertencentes aos grandes conglomerados) ainda aplica o sistema de pagamento linear pelo preço da arroba, ou seja, não importa qual bovino abateu, o preço é o mesmo, ocorrendo apenas um desconto percentual sobre bois magros.
A realidade das empresas menores, cujo capital de giro não é tão elevado como o das grandes holdings, ainda amargam margens não muito atrativas. Ainda que se tenha maior exportação hoje, os preços em dólar ainda não são os ideais, comparados aos remunerados pela carne de outros paises.
Se unirmos forças, poderemos pressionar o mercado nacional e principalmente o internacional, para que sejam melhores remunerados os cortes e para que, todos da cadeia produtiva da carne, ganhem dinheiro sobre o seu capital aplicado no negócio.
Em síntese, revisemos nosso “modus” de produção e de negociação, unindo forças e um dando a mão ao outro.