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Reunião da CNA abafa especulação

Números apresentados ontem indicam que a importação de carne da Argentina diminuiu 44% em março

Cerca de 30 pessoas, entre membros da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), parlamentares e representantes do setor da pecuária brasileira, reuniram-se ontem em Brasília para avaliar o impacto das importações de carne argentina pelos frigoríficos brasileiros. A reunião confirmou a suspeita do setor produtivo de que a notícia não passava de “especulação”. O presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte, Antenor Nogueira, disse que o que derrubou o preço do boi gordo foram os frigoríficos que, segundo o dirigente, estariam blefando ao ameaçarem elevar as importações. “O objetivo era manipular o preço da carne brasileira”.

Por enquanto, a ordem é monitorar o volume de importações de maneira constante. A secretaria de Comércio Exterior, ligada ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, apresentou o balanço do volume de carne que o Brasil importou da Argentina. O volume negociado representou na verdade uma redução de cerca de 44% em relação ao mesmo período do ano passado.

No mês passado foram importadas 312 toneladas de carne argentina, contra as 585 toneladas de março de 2001. De abril de 2000 até março de 2001 foram importadas 8,34 mil toneladas de carne argentina, enquanto de abril de 2001 até março de 2002 as importações de carne argentina somaram 4,499 mil toneladas.

Não existem dados sobre a importação da semana passada, quando houve a desvalorização do peso. A CNA estimava cerca de 400 toneladas. “A questão da Argentina tem um efeito psicológico para derrubar o preço. Poucas toneladas não têm como interferir no mercado interno”, afirma o analista da FNP Consultoria, José Vicente Ferraz.

O pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo, Sérgio De Zen, argumenta que durante a Semana Santa há redução nos preços de 2% a 3%, devido ao menor consumo. Além disso, o mercado estava ofertado e o Brasil com dificuldades de exportação, o que explicaria a queda de preço.

A concorrência com a Argentina, que em razão da desvalorização da moeda tem conseguido colocar carne no exterior mais barata que a brasileira, têm prejudicado as exportações. O gerente de exportações do frigorífico Bertin, Marco Bichieri, acredita que este ano a indústria conseguirá exportar volumes semelhante a 2001. “Não temos como competir com os preços que a Argentina está praticando”, diz, afirmando que a carne argentina chega ao porto de Roterdã a US$ 7,5 mil a tonelada frente aos US$ 7,7 mil do produto brasileiro.

Para o assessor técnico da CNA, Paulo Sérgio Mustefaga, “o que está havendo já acontece normalmente. As indústrias frigoríficas que abastecem principalmente os grandes centros consumidores compram carne do país vizinho para atender à demanda. Houve uma precipitação e até especulação da indústria frigorífica para reduzir o preço do boi gordo no mercado interno”.

Mesmo que os números apresentem uma outra realidade, o fato é que a arroba do boi gordo, cotada em São Paulo, por exemplo, caiu de R$ 46 para R$ 42, em média. “A intenção era gerar com a especulação uma queda de cerca de 5% sobre o valor de mercado”, observa Mustefaga.

As informações colhidas durante o Fórum foram em seguida apresentadas ao ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Pratini de Moraes. O setor produtivo decidiu que será encaminhado ao Mapa pedido de maior rigor na fiscalização da carne que entra no País, além de um programa de classificação de carcaça.

Enquanto isso pecuaristas e frigoríficos travam uma batalha pelo preço da arroba do boi, cotada ontem a R$ 43, em São Paulo. Os produtores querem a retomada dos valores praticados até a semana passada, quando houve redução de 6,5%, e a indústria quer a continuidade dos preços atuais.

Rio Grande do Sul

No Rio Grande do Sul, o preço do quilo do boi gordo caiu de R$ 1,40 para R$ 1,30 nas últimas semanas. O diretor do Sindicato das Indústrias da Carne do Rio Grande do Sul (Sicadergs), Zilmar Moussalle, reafirmou que os preços caíram e que o varejo esta recusando o produto nacional. As importações da Argentina fazem parte da pauta de uma reunião hoje em Pelotas entre frigoríficos gaúchos que irão tratar também sobre exportações.

Fonte: Diário de Cuiabá (por Marianna Peres), Correio do Povo/ RS, Gazeta Mercantil (por Neila Baldi) e Jornal do Comércio/ RS, adaptado por Equipe BeefPoint

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