Por Thaís Basso Amaral1, Eduardo Simões Corrêa2 e Fernando Paim Costa3
Introdução
As vantagens da utilização da IA são inúmeras, sendo que os ganhos diretos seriam a utilização de sêmen de touros melhoradores, com alto valor genético e a possibilidade de fazer cruzamento industrial, eliminando-se as dificuldades existentes em manter touros europeus em monta natural, em regiões de clima tropical. Alguns ganhos indiretos que poderiam ser atribuídos a utilização da IA, mas que são de difícil mensuração, são a estruturação e organização da propriedade para utilizar-se desta tecnologia, a formação de mão-de-obra especializada, melhoria de alimentação e sanidade do rebanho.
Entretanto a inseminação artificial (IA) ainda é pouco utilizada no Brasil, devido ao custo do processo e, principalmente, devido à baixa eficiência, quando comparada à monta natural (MN), nos sistemas tradicionais de produção de gado de corte que predominam no Brasil. Em conseqüência, o seu uso fica restrito quase que somente a produtores que trabalham com rebanhos elite.
Além dos aspectos zootécnicos, merecem atenção os aspectos econômicos relacionados ao uso da IA. Segundo FERRAZ (1996) um aumento de 5% para 15% do total das vacas de corte inseminadas representaria um incremento em torno de 370 mil toneladas de carne num valor de cerca de US$ 278 milhões.
ARRUDA (1990) comparando a economicidade dos sistemas de MN e de IA, encontrou um custo para a monta natural de 10,54 % menor que o da inseminação artificial. Entretanto, FERRAZ (1996) já considera que a monta natural é mais cara devido aos custos de manutenção e de depreciação dos touros.
Monta Natural (MN)
A aquisição de touros para monta natural com DEPs positivas para as características de produção pode trazer um grande avanço na disseminação do melhoramento em rebanhos comerciais.
Permanecendo por longo tempo na fazenda – ao redor de seis estações de monta – o touro tem oportunidade de deixar de 100 a 300 filhos, dependendo da relação touro: vacas e das taxas de prenhez obtidas. Isso o torna responsável por mais de 90% do ganho genético do rebanho, apesar de uma presença física de apenas 5% (Silva et al., 1993). Portanto, a escolha do reprodutor é fundamental, devendo ser embasada na avaliação genética.
A oferta de touros melhoradores, porém, ainda não atende as necessidades do rebanho brasileiro, embora venha crescendo com a adesão de grande número de criadores a programas de melhoramento genético. A aquisição desses touros para uso em rebanhos comerciais é geralmente compensadora, desde que suas características e preços sejam adequados. Para saber o quanto se pode pagar por um touro, vários são os aspectos a levar em conta: tipo de rebanho em que será utilizado, número de vacas com as quais será acasalado, tempo de permanência na fazenda e taxa de prenhez média da propriedade.
Segundo Fonseca (1991), a utilização de touros na proporção de 1:50 implicaria um descarte da ordem de 50% dos mesmos, diminuindo o custo do bezerro em 15%. Com a diminuição dos custos de aquisição e manutenção de touros, o produtor poderia redirecionar os investimentos para a compra de indivíduos geneticamente superiores e andrologicamente testados. A real capacidade reprodutiva de touros da raça Nelore é desconhecida, mas sabe-se que esses indivíduos em monta natural são em geral sub-utilizados (Pineda & Lemos, 1994; Fonseca, 1995).
Inseminação Artificial (IA)
A biotecnologia que causa maior impacto nos programas de melhoramento animal sem sombra de dúvidas é a inseminação artificial. Esta técnica é conhecida desde 1920, porém, apesar dos avanços, ainda é pouco utilizada. A inseminação artificial proporciona aos produtores em qualquer dos níveis o acesso a material genético superior, contribuindo para a diminuição da defasagem genética. Ela foi responsável pela massificação da utilização de animais geneticamente superiores, e tornou possível a realização de programas de avaliação de touros jovens, diminuindo ainda mais o intervalo de gerações.
Segundo dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA), o comércio de sêmen cresceu 5,61% em 2003 em relação ao ano anterior. Se for considerada a evolução de 1999 a 2003, houve aumento de 34,21% nas vendas totais. Mesmo com o crescimento desse comércio, apenas 5 a 7% das fêmeas em idade reprodutiva são inseminadas no Brasil (dados aproximados).
Pode-se afirmar que a baixa taxa de prenhez é um dos principais fatores limitantes ao uso da IA nos rebanhos comerciais de gado de corte. Essa baixa eficiência reprodutiva pode ser explicada pelas dificuldades do manejo diário de animais por um período de 90-100 dias na época das chuvas, para observação de estro e inseminação propriamente dita. Vale salientar que, para as condições brasileiras, as taxas de prenhez estimadas para a IA estão entre 50 e 60%.
Monta natural versus inseminação artificial
O trabalho de Amaral et al. (2003) comparou o custo da monta natural e da inseminação artificial. Para tanto foram realizadas algumas simulações com base em uma fazenda hipotética de 1.220 ha de pastagens, com capacidade de suporte na seca de 0,8 UA/ha. A fazenda realiza as fases de cria, recria e engorda e possui um rebanho estabilizado de 1.700 cabeças ou 1.042 UA. Os índices zootécnicos aplicados foram semelhantes para as duas situações estudadas MN ou IA e são os seguintes:
– número de vacas em reprodução: 550
– taxa de prenhez: 80%;
– taxa de mortalidade até 1 ano: 5%;
– taxa de mortalidade demais categorias: 1%;
– taxa de descarte das vacas: 15%;
– idade à primeira cria: 3 anos;
– idade de abate dos machos: 2,5 anos;
– peso ao abate dos machos: 500kg
– preço da arroba Campo Grande – MS em janeiro de 2003: R$ 57,00.
A taxa de prenhez de 80% para os dois sistemas. O preço do touro utilizado no Sistema 1 foi o de R$ 4.000,00 e partiu-se do pressuposto que este touro possuía avaliação genética e teria diferença esperada na progênie (DEP) positiva para peso ao abate. O valor do sêmen utilizado no Sistema 2 foi o de R$ 10,00 e também seria proveniente de um touro com avaliação genética, sendo que os resultados gerados em termos de peso ao abate dos animais foi semelhante para os dois sistemas.
Conforme a análise dos dois sistemas de produção (Tabela 1), a margem bruta (receita menos gastos operacionais) no Sistema 1 foi 5% superior ao Sistema 2, isso ocorreu pois os gastos operacionais da IA são maiores (R$ 75.036,44) do que os da MN (R$ 62.705,66). Porém o custo com aluguéis que inclui o rebanho de reprodução é maior no Sistema 1 devido ao custo de depreciação dos touros, que não existem no Sistema 2. Por este motivo, a margem para remunerar o produtor é equivalente nos sistemas estudados. Estes resultados demonstram mais uma vez a necessidade de se obter bons índices de prenhez para que o investimento, tanto em touros de alto valor genético, como na utilização da IA seja compensador. Nesta simulação considerou-se que os resultados em termos de produção do sistema (peso de abate dos bois) seriam semelhantes, pois tanto os touros, no Sistema 1 como o sêmen dos touros, no Sistema 2 foram adquiridos com base na avaliação genética, portanto apresentavam DEPs positivas para ganho de peso, refletida em maior peso ao abate para as duas situações.
Propriedades com bom nível gerencial e mão-de-obra qualificada, que possuem bons índices de produtividade, podem adotar a inseminação artificial com ganhos econômicos, pois é a forma mais viável de aceleração do melhoramento genético do rebanho, uma vez que touros de alto valor genético geralmente não estão disponíveis para o uso em monta natural.
Referências bibliográficas
AMARAL, T. B.; COSTA, F.P , CORRÊA, E.S.;. Inseminação artificial ou monta natural com o uso de touros melhoradores: análise econômica. In: 40ª REUINIÃO DA SOCIEDADE BRAZILEIRA DE ZOOTECNIA (Anais, CD-Room), Santa Maria, RS, 2003 .
ARRUDA, Z.J.de Análise econômica dos sistemas de monta natural e de inseminação artificial na produção de bezerros de corte. Campo Grande, EMBRAPA-CNPPG, 1990,28 P. (EMBRAPA-CNPGC. Documentos, 40).
FERRAZ, J.B.S. Impacto econômico na pecuária de leite e de corte do Brasil, com o aumento da utilização da inseminação artificial. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v.20, n. 3 / 4 p. 95-98,1996.
FONSECA, V.O. Avaliação da capacidade reprodutiva de touros Nelore: aspectos andrológicos e comportamentais. Belo Horizonte: Escola de Veterinária – UFMG, 1995, 37p.
FONSECA, V.O. Potencial reprodutivo de touros da raça Nelore (bos indicus) em monta natural: proporção touro:vaca 1: 40 e fertilidade. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v. 15, p. 103-108, 1991.
PINEDA, N.R.; LEMOS, P.F. Contribuição ao estudo da influência da libido e da capacidade de serviço sobre a taxa de concepção em Nelore. Boletim da Indústria Animal, v.51, p. 61-68, 1994.
SILVA, A.E.D.F. ; DODE, M. A. N.; UNANIAN, M.M. Capacidade reprodutiva do touro de corte: funções, anormalidades e outros fatores que a influenciam. EMBRAPA-CNPPG, 1993, 28 p. (EMBRAPA-CNPGC. Documentos, 51).
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1Thaís Basso Amaral, Med. Veterinária, MSc. Pesquisadora Embrapa Gado de Corte
2Eduardo Simões Corrêa, Eng. Agrônomo, MSc. Pesquisador Embrapa Gado de Corte
3Fernando Paim Costa, Eng. Agrônomo, PhD . Pesquisador Embrapa Gado de Corte
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Bom dia aos autores e equipe BeefPoint. Sou estudante de medicina veterinária da UFV e achei o artigo muito interessante e oportuno, devido a grande deficiência de oferta de touros melhoradores no mercado atual.
Portanto deve-se aumentar os índices reprodutivos, tanto na IA quanto na MN. Ao meu ver quando se trabalha com MN, o principal aspecto seria a maximização do uso de touros a campo, já que, quando se pensa nesta estratégia, se busca touros melhoradores e com avaliações positivas quanto a sua capacidade reprodutiva.
Entretanto, não consegui visualizar claramente o dado de que o touro é responsável por 90% do ganho genético de um rebanho quando este é utilizado intensivamente, conforme os autores comentaram.
Peço então, por gentileza uma elucidação para este dado, já que não fiquei convencido e não tenho segurança para convencer um produtor a adotar a técnica se eu não tiver certeza do que estou falando.
Desde já agradeço.
Rodrigo Frigoni