A pecuária de corte brasileira, como grande parte do Brasil, é composta por realidades muito distintas, como se existissem dois países em um só. Daí nasceu a famosa expressão “Belíndia”, mescla de Bélgica e Índia.
Enquanto convivemos com médias de produtividade e eficiência muito baixas na atividade, como índice de natalidade em torno de 65%, por exemplo, já existem trabalhos muito interessantes que estão buscando atender as demandas dos mercados e dos consumidores mais exigentes, inclusive com custos competitivos e ganhos gerenciais.
Recentemente nos EUA, a ABS se associou a uma marca de carne Angus, conhecida como Premium Gold Angus Beef (algo como Carne Premium Angus) para um intercâmbio de dados e trabalhos em conjunto. O objetivo é aumentar a oferta de animais com genética adequada à produção da carne especial dessa marca e aumentar o número de informações disponíveis para acelerar o melhoramento genético dos rebanhos Angus puros fornecedores de genética ao programa. Buscam também aumentar o direcionamento dos animais oriundos dessa genética para o sistema de produção marca PGA Beef. Os ganhos possíveis são muitos, uma vez que irá facilitar uma maior valorização da genética específica para o programa e aumentar a oferta de matéria prima para a Premium Gold Angus Beef. Além de poder melhorar a qualidade dos animais desse programa, com maior uniformidade e até exigências mais refinadas. Pode-se, com o tempo e aumento de número de animais no sistema, incrementar as exigências de classificação de carcaça e melhorar o produto final.
Aqui no Brasil já existe um exemplo similar com a associação de criadores de Nelore do Brasil. Em um convênio com uma série de instituições e com a empresa Sersia Brasil, busca-se aumentar a base de dados com informações sobre classificação de carcaças dos animais do PQNN (Programa de Qualidade Nelore Natural), de forma que seja possível selecionar os melhores touros para produção de novilhos Nelore Natural e ao mesmo tempo incrementar a qualidade dos animais abatidos no PQNN, que passariam a ser originados cada vez mais de fazendas que utilizam touros/sêmen selecionados para uma maior produção de carne e não apenas para maior peso. Esse programa objetiva abater 2000 novilhos de corte, com paternidade conhecida este ano, com forte evolução, alcançando 40 mil avaliações de carcaça, com animais com paternidade conhecida em 2007.
Outras iniciativas como a capitaneada pela ABA (Associação Brasileira de Angus) para produção de carne com marca Angus, atualmente em conjunto com o frigorífico Mercosul, líder em exportações no Rio Grande do Sul, também vem evoluindo bastante. Além disso, programa de produção de bovinos orgânicos também evolui bastante, graças ao pionerismo de alguns grandes produtores e ao excelente momento no mercado externo para carne orgânica. A produção de carne orgânica muito mistificada no passado vem evoluindo e hoje já ganha adeptos mais facilmente por cada vez se mostrar menos radical do que o imaginado. Apesar de incluir alguns itens “filosóficos”, a pecuária orgânica tem muito a contribuir com a pecuária “convencional”, pois se preocupa de forma consistente com bem-estar animal, responsabilidade social e respeito ao meio ambiente. Fatores que serão as próximas barreiras ao comércio da carne brasileira no mundo.
É muito importante destacar que sistemas de produção embasados em critérios pré-estabelecidos, de forma a garantir uniformidade do produto final, segurança do alimento e maior facilidade de gerenciamento tendem a crescer muito no curto médio prazo. Programas de Qualidade Assegurada, que vêm crescendo no mundo todo, não apenas na produção de gado, mas na produção de alimentos em geral, serão grandes diferenciais para produtores brasileiros. Esses programas permitem a criação de marcas de carne, com real diferenciação e valor agregado, por garantir que o produto final é originado em fazendas que se preocupam com bem-estar animal, responsabilidade social, respeito ao meio ambiente, além de permitir uma padronização sem igual da carne bovina.
Outro bom exemplo é a Agropecuária Jacarezinho, uma empresa pioneira na adoção de programas de qualidade assegurada no Brasil, de olho na diferenciação e garantia de seus produtos.
Os programas de produção de carne mais avançados do mundo hoje têm algum tipo de certificação para qualidade, para ganhar acesso a mercados mais exigentes, para melhorar o gerenciamento e para permitir a diferenciação do produto final. E os melhores projetos do Brasil já estão caminhando para isso, em busca do aumento da rentabilidade e sustentabilidade de seus negócios.
A adoção de programas de qualidade assegurada é um importante passo para produtores que desejam se firmar cada vez mais na parte “belga” do Brasil, inclusive os que buscam rentabilidade mais próxima de um produtor europeu.
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Parabéns pelo artigo Miguel.
Sem dúvida, a criação desses programas, disponibilizando ao consumidor alta qualidade dos produtos oferecidos, resultarão em maior valor agregado da carne.
Além disso, a existência de compromissos, perante o bem-estar animal, desenvolvimento social e preocupação com o meio ambiente é indispensável nos dias atuais. Um bom exemplo a ser seguido é o EUREPGAP,
O programa consiste num sistema de gestão da qualidade com a finalidade de harmonizar as normas e os procedimentos para o desenvolvimento das Boas Práticas Agrícolas (Good Agricultural Prectices GAP), criado em 1997, como uma iniciativa dos comerciais varejistas e supermercados europeus . Seus objetivos são reduzir os riscos, assegurando a qualidade e inocuidade dos alimentos na produção primaria, enfocando também a implementação das melhores praticas para assegurar uma produção sustentável, visando:
– Rastreabilidade, assegurando o acompanhamento total de toda cadeia alimentícia.
– Técnicas de Produção, com o objetivo do uso controlado de agrotóxicos, para minimizar o impacto dos resíduos nos alimentos, no ser humano e no meio ambiente.
– Proteção do meio ambiente.
– Aspectos Higiênicos, para evitar as contaminações químicas, físicas e biológicas, assegurando a inocuidade dos alimentos.
– Aspectos Sociais, enfocando um ambiente de trabalho adequado às necessidades trabalhistas e sanitárias dos trabalhadores envolvidos na cadeia.
Por fim, conhecimento e informação são dois conceitos imprescindíveis na relação com o consumidor. Dessa forma, há o fortalecimento da credibilidade e confiança do consumidor em relação à toda a cadeia da carne bovina.
Abraços,