Por Rodrigo Fontenelle de Araújo Miranda1
A poeira vai baixando, o período de adaptação necessário em qualquer governo começa a se expirar e fica apenas uma pergunta. Por que a esperança ainda não venceu o medo?
Quando Lula chegou ao poder, a maior preocupação era com a estabilidade econômica do País. O cenário, deteriorado a partir da ameaça de vitória petista, era instável, com risco iminente de inflação e desvalorização cambial. O governo seguiu a risca os manuais de economia, e em menos de um ano os indicadores macroeconômicos voltaram aos níveis pré-eleitorais. O primeiro ano de governo foi rotulado como o ano dos ajustes, o ano de eliminar a “herança maldita” deixada pelo governo FHC, e a partir de agora o Brasil estaria pronto para crescer de forma sustentável e planejada.
Entretanto, ao analisarmos um pouco mais a fundo esses dezesseis meses, é difícil explicar ou entender as ações do governo petista, a não ser que debitemos alguns de seus atos à imaturidade, ao despreparo ou à incompetência de boa parte dos ministros e burocratas que cercam o presidente Lula.
Na teoria, o PT vai muito bem. Reuniões, atas, conselhos, todas estas são palavras que fazem parte da agenda e do discurso de qualquer um do governo. Infelizmente, o gargalo está na execução destas idéias. Senão, vejamos:
Quando se fala em programa social no governo Lula, o que vem a cabeça dos brasileiros, senão a lentidão e a ineficácia do programa fome zero ou a unificação de três programas assistenciais criados por governos anteriores, e agora apenas rebatizados no governo petista? Qual projeto foi criado pelos ministérios da educação e saúde no primeiro ano de mandato? Quantos novos postos de trabalho foram abertos, dos 10 milhões prometidos na campanha presidencial?
Apesar das variáveis macroeconômicas satisfatórias, é de conhecimento de todos que de nada adianta este ambiente estável se não forem tomadas medidas no âmbito microeconômico para alavancar a economia de forma sustentável. Neste sentido, o que foi feito além de um aumento da carga tributária, via aumento da COFINS, para “fechar” o orçamento e acalmar o ânimo dos sedentos deputados e senadores por verbas?
Quando o problema do crescimento econômico fica focado apenas no patamar da taxa de juros SELIC, é deixado de lado fatores relevantes ao crescimento de longo prazo. Não adianta baixar a taxa referencial SELIC, se as taxas finais, ao consumidor e aos empresários, estão absurdamente mais altas do que esta sinalizada pelo governo. Além disso, sabemos que qualquer alteração nesta taxa demora cerca de nove meses para ser sentida pela economia. Desta maneira, usar a taxa de juros como remédio de curto prazo para qualquer oscilação nos indicadores de inflação passa a ser ineficaz e comprometer as taxas de longo prazo.
Se a principal razão de ser da economia é gerar bem estar social, ou há uma diferença muito grande entre a definição deste termo por parte do governo e por parte da população, ou a política econômica do presidente Lula não está cumprindo seu principal papel.
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1Rodrigo Fontenelle de Araújo Miranda, economista pela UFMG, CBA pelo IBMEC. Sócio – Diretor da Agrotec Inseminação Artificial LTDA