Marca de carne bovina australiana está entre as 10 preferidas no Japão
17 de junho de 2004
Rússia suspende compra de carne do Brasil
19 de junho de 2004

Uréia para bovinos de corte

Com a entrada do período seco, a suplementação de animais a pasto e o confinamento para terminação são estratégias fundamentais para melhorar a eficiência dos sistemas de produção. Entretanto estas estratégias caracterizam-se por altos custos em função dos insumos utilizados na alimentação dos animais, principalmente no que se refere as fontes protéicas. Em ambos os casos a uréia é uma importante fonte alimentar em equivalência protéica.

A uréia é amplamente utilizada na formulação de dietas para bovinos de corte e leite com dois objetivos primordiais, o primeiro é a redução de custos pela substituição parcial de fontes protéicas vegetais, e em segundo fornecer quantidade adequadas de proteína degradável no rúmen, para melhor eficiência de digestão da fibra e síntese de proteína microbiana.

A Ureía é uma fonte de nitrogênio não protéico, com teor médio N variando de 42 a 46,7 %, o equivalente a 262 a 292% de PB por 100 g de uréia. Este último valor é estimado em função do teor médio de N na proteína verdadeira de 16% de N. Em média usamos o fator de 280% de PB, que é a % N (média) na uréia dividido pelo % de N na PB (16%), ex: 45/16 x 100= 281,2.

Para determinar o teor de uréia em um produto comercial, utilza-se o valor de equivalente protéico de NNP (nitrogênio não protéico) por 280 ex.: o rotulo de um produto com 40% de PB diz que o equivalente protéico em NNP é de 20%, então percentual de uréia na mistura é de 7,0% (20/280*100).

Esta conversão do N da uréia em equivalente protéico é feita devido à capacidade dos ruminantes de transformá-lo em proteína de altíssima qualidade. A transformação da uréia em proteína se dá através da ação de microorganismos ruminais. Ao entrar no ambiente ruminal a uréia e as fontes de proteína vegetal são quebradas em amônia, através da ação de enzimas produzidas pelos microorganismos. Estes microorganismos crescem e multiplicam, e para tal utilizam a amônia e carboidratos da dieta (energia) para síntese de proteína microbiana. Estes microoganismos, ou melhor, esta proteína microbiana passa para os intestinos onde vai ser absorvida e utilizada pelos animais.

A uréia apresenta elevada solubilização/hidrólise, ou seja, ela é rapidamente degradada e transformada em amônia no ambiente ruminal (tabela 1). Na tabela a seguir, são mostrados alguns dados sobre a degradação (hidrólise) da proteína no rúmen de bovinos, de alimentos selecionados entre forragens, subprodutos, grãos e fontes protéicas.

Tabela 1. Hidrólise da proteína no rúmen de bovinos de alguns alimentos selecionados

Devido à alta solubilização da uréia, um dos problemas relacionados a ela é uma rápida liberação de amônia no rúmen, havendo perdas de N, pois não há um sincronismo entre a fermentação dos carboidratos. Assim o nitrogênio em excesso no rúmen vai ser absorvido e levado ao fígado, para metabolização, e parcialmente reciclado via saliva para o rúmen do animal, podendo ser então utilizado pelos microorganismos. Entretanto este processo tem gasto de energia, diminuindo a disponibilidade de energia para o animal. Por ser um processo lento, a amônia pode se acumular no fígado, causando a intoxicação e muitas vezes a morte do animal.

Quadros de intoxicação por uréia são freqüentemente observados em situações onde, por algum motivo o animal consome quantidades elevadas de uréia, sem prévia adaptação. Isto ocorre principalmente quando é disponibilizado apenas sal e uréia para os animais. Outro fator que podemos considerar como causa de intoxicação, são erros na formulação de rações ou suplementos, ou seja, não é garantido uma quantidade mínima de carboidratos para que as bactérias usem a amônia liberada no meio ruminal de modo mais eficiente. De forma geral, o maior perigo do uso de uréia na alimentação dos bovinos, está na forma de utilizá-la, quer seja por erros de manejo, ou por pouco conhecimento em nutrição.

O equivalente de proteína degradável da uréia não deve ultrapassar 70% da PDR total da dieta, em geral usa-se em torno de 30 %. Na tabela 1 a substituição da PDR por uréia não afetou o consumo de forragem, porém valores acima de 50 % diminuíram a digestibilidade da matéria orgânica, resultando em menor consumo de matéria orgânica digestível. Isto torna a uréia uma ferramenta bastante valiosa para substituir parcialmente a proteína verdadeira no rúmen, porém as condições devem ser favoráveis para que os microorganismos possam usar de maneira efetiva. Ou seja, ao usar uréia deve-se garantir a energia para melhor eficiência microbiana em usar o N.

O uso de uréia como única fonte de proteína para suplementos é menos indicada, em função de alguns microorganismos do rúmen necessitarem de peptídeos e alguns aminoácidos para maximização da sua atividade. Sendo aconselhável o uso de fontes de proteína verdadeira no suplemento.

Tabela 2: Substituição de PDR1 por uréia em dieta de novilhos recebendo feno de baixa qualidade

O uso de suplementos onde o equivalente protéico em uréia é superior a 30 % da PB total tem demonstrado desempenho 25 a 80% inferiores ao desempenho esperado de alimentos formulados com proteína natural. Isto tem duas possíveis causas, a baixa energia na forragem, que diminui a eficiência de uso da uréia, o que torna necessário a inclusão de fontes energéticas prontamente disponíveis na dieta. E a segunda causa é que o menor desempenho estaria em relação a baixa palatabilidade da uréia diminuindo o consumo do suplemento, em relação aos que não contém uréia.

Quando o NNP substitui a proteína verdadeira no suplemento, deve-se garantir fonte de enxofre (S) para melhor síntese da proteína pelos microorganismos, principalmente de aminoácidos sulforados. A relação N:S mais adequada é entre 12:1 a 14:1. O sulfato de amônio (21 % N e 22 % S) pode entrar como fonte de S na relação de 85 % de uréia 15 % de sulfato de amônia. O uso de sal mineral misturado ao suplemento, em geral, já disponibiliza quantidades de enxofre adequadas.

O principal cuidado quanto ao uso da uréia deve ser a adaptação dos animais de forma gradativa, principalmente quando não se fornece fonte de energia conjunta (ex: sal + uréia). Em suplementos múltiplos, com adequado fornecimento de energia temos usado até 5 % de uréia na mistura.

Dicas para uso de uréia em dietas de bovinos:

1. limitar em 1 a 1,5 % na MS de uréia na dieta total doa animais (ruminantes),

2. limitar em até 5% de uréia no concentrado quando este for oferecido separadamente do volumoso,

3. limitar em 30-50 % de nitrogênio da uréia em relação ao N total da dieta,

4. fornecer juntamente com a uréia fontes de carboidratos de diferentes degradabilidades para melhor sincronização com a hidrólise da uréia, otimizando a síntese de proteína microbiana.

5. No caso de suplementos a pasto, fornecer sempre no período da tarde, pois o pico de liberação da amônia vai ocorrer junto com a degradação da fibra da forragem (carboidrato)

6. Mistura uniformemente a uréia com a ração;

A uréia pode e deve ser usada para reduzir custos na alimentação, porém todos os cuidados e técnicas de uso devem ser observados rigorosamente sob pena de severas perdas.

2 Comments

  1. Miguel Barbar disse:

    Só lembrar que o Zinco ajuda na utilização da Uréia (artigo do Radar Técnico de 09/03/2001 e 07/01/2004).

    Um abraço

  2. SAUL GAUDENCIO NETO disse:

    Marcelo,
    A ureia oferece algum risco extra para bezerros, além do já conhecido risco pelo excesso de consumo inerente a todas as categorias? Pergunto isso pois almejo usar mistura proteica energética para fêmeas de cria com intuito de melhorar a taxa de repetição de cria e apesar de termos creepfeending para os bezerros é inevitável o acesso deles ao cocho das fêmeas.

    Abraço