A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) condenou a decisão do governo brasileiro de suspender as negociações comerciais com a União Européia. “Foi uma atitude decepcionante, que só vai trazer retrocesso. Interromper as negociações com a UE não traz nenhum ganho para o Mercosul”, criticou o vice-presidente para Assuntos Internacionais da CNA, Gilman Viana Rodrigues. “O Brasil deveria ter continuado a negociar, em vez de abandonar tudo”.
Segundo Rodrigues, a proposta européia ficou, de fato, muito aquém do esperado. “Mas os brasileiros também estão mudando sua proposta toda hora, incluindo proteções para a indústria nascente e a química. A nossa oferta em serviços e compras governamentais se deixou dominar pelo nacionalismo”.
No dia 15 de julho, em carta enviada ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, a CNA já mostrava seu descontentamento com o rumo das negociações. “O agronegócio entende que o governo brasileiro deveria avançar com maior firmeza e determinação nas várias frentes de negociação internacional”, diz da carta, assinada pela CNA e 31 entidades.
Segundo a carta, o acordo poderia elevar em 35% as exportações do setor para a região, valor equivalente a US$ 2,5 bilhões. “O acordo Mercosul-UE representa hoje a nossa melhor opção para obter resultados comerciais concretos no curto prazo. Não deveríamos perder a oportunidade de concluir as negociações ainda este ano”.
“Quando mandamos a carta, a situação já estava complicada. Agora, piorou”, disse Rodrigues, da CNA. Segundo ele, há uma “timidez” por parte do Itamaraty para conversar com os diversos setores e costurar ofertas mais ambiciosas.
Na opinião do presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), Marcos Jank, o acordo UE-Mercosul pode acabar perdendo o “timing” e talvez nem ocorra. “Se a gente perder o ‘timing’ de um mês, vai ser muito difícil avançar depois, porque haverá troca dos comissários europeus no fim do ano e o ingresso dos dez novos membros do Leste-Europeu. Esses novos membros são contrários à idéia de um acordo entre Europa e Mercosul, pela concorrência que isso significa”.
Fonte: O Estado de S.Paulo (por Patrícia Campos Mello e Celso Ming), adaptado por Equipe BeefPoint