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Qualidade de carcaça e dieta para acabamento de bovinos de corte

Introdução

A qualidade da carne é um fator importante para se determinar o preço de uma carcaça. Em países como os Estados Unidos e grande parte da Europa, o produto carne é pago de acordo a suas características sensoriais e organolépticas. Maciez é um dos atributos mais importante para a boa aceitação do consumidor. Esforços para se aumentar a produtividade e performance dos animais através da genética ou da nutrição somente se completam quando fatores como a composição e a palatabilidade da carne são considerados. Neste caso o manejo nutricional é considerado uma das importantes ferramentas para se alcançar desejadas características.

Com a crescente exportação de carne bovina para os países comerciais, o Brasil num futuro próximo e certo, terá como obrigação o fornecimento de um produto selecionado e com desejados atributos nutricionais. Desta forma, a utilização de nutrientes essenciais na dieta, como amino-ácidos, carboidratos, vitaminas, minerais, etc, são fatores chaves na busca de um produto qualificado e economicamente viável.

Energia

As exigências necessárias para a manutenção corporal e ganho de peso animal são definidas como a quantidade de energia ingerida em uma dieta (NRC 1984). A quantidade de energia requerida será dependente do estado fisiológico do animal (crescimento, lactação, prenhez, ganho de peso). É sabido que uma dieta alta em energia melhora a eficiência e o desempenho animal em sua fase de acabamento; mas pouco se sabe sobre a influência desta na composição e características da carcaça, e sua interação entre diferentes raças. Dietas ricas em energia, provenientes de seu teor de gordura (saturada) podem ocasionar uma mudança na consistência de gordura da carcaça (Gerrard et al., 2003).

A quantidade de gordura saturada em uma dieta pode ocasionar alterações nos valores referentes aos ácidos graxos presentes no músculo longissimus dorsi (contra-filé); estas alterações podem ocasionar implicações dietéticas, e até mesmo alterações no período de conservação de prateleira do produto (shelf life). Schoonmaker et al., (2004), alimentando novilhos na fase de terminação, com uma dieta a base de grãos (Nem, Mcal/kg = 2.11) causou uma considerável formação de gordura sub-cutânea. É válido salientar que a utilização de energia pelo animal e o uso desta na produção de carne é dada até um determinado ponto de seu desenvolvimento fisiológico, a partir deste ponto toda esta energia será utilizada na produção de gordura; o que passa a ser economicamente inviável para a produção.

Bovinos terminados com dietas altas em energia por prologando período de tempo apresentam a tendência de possuir uma carne mais macia do que animais alimentados com dietas com baixa energia; mas do ponto de vista econômico-empresarial, animais alimentados com uma dieta baixa em energia, tendem a prolongar a sua maturidade fisiológica, assim desta forma prolongando a sua idade cronológica e um maior dispêndio de tempo e alimento para se chegar à fase de abate.

Proteína

Uma dieta nutricional necessária para maximizar a produção de carne em animais em crescimento, se baseia na qualidade e quantidade de sua proteína. Qualidade é definida pelo seu valor biológico; esta é calculada de acordo a porcentagem de proteína consumida e a quantidade desta retida pelo organismo “proteína degradável” (Gerrard et al., 2003).

Dietas com suficiente energia, mas com insuficiente proteína, vem a causar um acúmulo de gordura em excesso na carcaça. Tipicamente, as fontes de proteína para animais na fase de acabamento se apresentam na forma de nitrogenio-não-proteico (uréia). Esta fonte de proteína pode participar em até 3 % da dieta total, sendo esta utilizada em uma dieta alta em energia; e também estar acompanhada de uma fonte de proteína verdadeira (ex: soja e caroço de algodão).

Em dietas para animais em finalização pode-se usar até 1/3 da proteína total da dieta proveniente de uréia. Brow et al., (1991), alimentando vacas de descarte com caroço de algodão, melaço e feno umidecido com uréia obteve significantes resultados (P<.01) em atributos como marmoreio, gordura de acabamento e peso final, do que animais alimentados somente com feno umidecido com uréia. Volumosos

Dietas com teores de volumosos contendo de 20 – 30 % podem também melhorar a qualidade da carcaça, através de um processo de desaceleração da idade fisiológica do animal, (Bartle et al., 1994). O aumento da qualidade da carne, pode estar relacionado com a idade fisiológica do animal. Atributos como maciez e sabor apresentam direta relação com a idade fisiológica do animal. Bartle e Preston (1991 e 1992) citam que a redução do nível de volumoso em dietas para animais em confinamento no período de acabamento melhorou a eficiência de ganho de peso diário, podendo assim melhorar a qualidade da carne.

Atualmente países como os Estados Unidos, realizam campanhas publicitárias na intenção de se reduzir o consumo de gorduras saturadas na dieta do dia a dia de sua população, com a intenção de se diminuir os níveis de Colesterol (NRC, 1989). A gordura de bovinos é considerada uma fonte de gordura saturada. A maioria das gorduras saturadas encontradas na carne de bovinos, estão localizadas entre as fibras musculares (intra-muscular), ou seja, animas que apresenta maiores teores de marmóreo são animais que terão uma maior capacidade de reter estes ácidos graxos saturados.

Estes fatores vêm a se relacionar muito com aqueles animais que apresentam suas dietas baseadas na quantidade de volumosos, como é o caso dos animais criados a pasto, onde apresentam pouca gordura de marmoreio devido a sua alta dieta em pastagens; é valido salientar que fatores genéticos também influenciam a capacidade de marmoreio do animal. Outros fatores químicos (concentração de CLA) são mais favoráveis nestes animais. O CLA (ácido linoleico conjugado) é um composto encontrado na gordura de animais ruminantes na qual tem demonstrado ser benéfico para a saúde humana. McMillin et al., (1990) reportam em um de seus estudos que animais terminados em dietas somente a base de volumosos (pastos) apresentam diferenças na qualidade de sua carne de acordo a diferentes estações do ano.

Vitaminas e Minerais

Três dos principais fatores sensoriais considerados pelo atual consumidor de carne bovina na classificação de um produto de qualidade são: aparência, textura e sabor. Dentre estes, aparência é o requisito primordial na qual primeiramente influencia a decisão e escolha do produto pelo consumidor. Neste cenário a utilização da Vitamina E em dietas para animais em acabamento tem sido considerada um importante atributo para a obtenção deste quesito qualidade.

A vitamina E tem sido reconhecida como um essencial nutriente para o crescimento e saúde de várias espécies animais. Em bovinos de corte este nutriente pode ser diretamente obtido a partir de dietas a base de pastagens ou em suplementos dietéticos. O uso da vitamina E, 90 dias antes do abate tem ocasionado consideráveis efeitos na qualidade da carne em termos de aparência e conservação desta (shelf life). Arnold et al., (1993b) alimentando novilhos holandeses, aberdeen angus, hereford e charolês, com dietas a base de Vitamina E, na quantidade de 0, 360 e 1.290 UI (unidades internacionais) por 252 dias, encontrou uma crecente concentração de alfa-tocopherol (anti-oxidante biológico) no músculo longissimus dorsi (contra-filé) e no músculo Gluteus médio (coxão mole e coxão duro).

Outra vitamina a se destacar é a Vitamina D3 que usada como fonte de suplementação dietética provoca o aumento da concentração de cálcio na corrente sanguínea, influenciando assim no processo de maciez da carne pós-abate. Esta ativação de cálcio provocada pela administração de Vitamina D3 diretamente relaciona-se a ativação do sistema calpaína (responsável pela maciez da carne). Karges et al., (2001) alimentando animais cruzados Aberdeen Angus x Hereford, 6 dias antes do abate com Vitamina D3 na quantidade de 6×106 UI encontrou significante efeito na maciez do músculo longissimus dorsi (contra-filé).

Poucos estudos relacionam os efeitos da suplementação mineral e suas implicações na qualidade da carne. Num estudo realizado por Malcolm-Callis et al., (2000) suplementando novilhos em fase de acabamento com sulfato de zinco na quantidade de 20, 100 e 100 mg/kg na matéria seca da dieta, encontrou-se pouca diferença na qualidade da carcaça. Segundo o autor deste estudo, a espessura de gordura sub-cutanêa foi mais proeminente (espessura) em animais suplementados com zinco amino ácido do que aqueles alimentados com sulfato de zinco.

Aditivos

Ionóforos são comumente utilizados com a intenção de promover uma melhor performance e eficiência alimentar em bovinos de corte. Em ruminantes, os ionóforos causam uma alteração no processo de digestão e absorção dos nutrientes, causando desta forma uma melhora na sua conversão alimentar. Poucas alterações em relação a qualidade da carcaça se obtem com o uso de ionóforos.

Zinn et al., (1999) usando um (Beta-agonista) ionóforo na alimentação de animais cruzados teve marcante desempenho na performance dos animais nos quesitos: crescimento, ganho de peso e eficiência alimentar, além de um aumento percentual de 45% nos cortes primários da carcaça. Estas considerações são economicamente relevantes do ponto de vista produtivo (criador) quando este é pago pela qualidade do produto ofertado; quanto para a indústria que se beneficia com um produto de melhor qualidade.

Conclusões

Uma satisfatória otimização de ganho de peso e performance produtiva (qualidade da carcaça, rentabilidade do negócio) de animais na fase de acabamento está diretamente dependente da formulação de uma adequada dieta, e na qualidade, quantidade e proporção de seus nutrientes essenciais.

Fatores nutricionais devem ser considerados como uma importante ferramenta para a obtenção de um produto de qualidade e com padrões que conquistem a confiança e aceitação do consumidor.

A integração vertical de fornecedores (matéria-prima), profissionais (Zootecnistas, Agrônomos, Veterinários e Economistas), produtores (pecuarista) e indústria (frigoríficos e atacadistas) se faz necessário dentro do processo de desenvolvimento e integridade da cadeia produtiva da carne bovina brasileira.

Referências bibliográficas

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Bartle, S. J., R. L. Preston, and M. F. Miller. 1994. Dietary energy source and density: effects of roughage source, roughage equivalent, tallow level, and steer type on feedlot performance and carcass characteristics. J. Anim. Sci. 72:1943-1953.

Brown, W. F., and D. D. Johnson. 1991. Effects of energy and protein supplementation of ammoniated tropical grass hay on the growth and carcass characteristics of cull cows. J. Anim. Sci. 69:348-357.

Gerrard, D. E., L. G. Alan. 2003. Principles of animal growth & development. Kendall/hunt publishing Co, Purdue University, PU.

Karges, K., J. C. Brooks, D. R. Gill, J. E. Breazile, F. N. Owens, and J. B. Morgan. 2001. Effects of supplemental vitamin D3 on feed intake, carcass characteristics, tenderness, and muscle properties of beef steers. J. Anim. Sci. 79: 2844-2850.

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McMillin, K. W., T. D. Bidner, G. M. Hill, D. F. Coombs, C. P. Bagley, J. W. Knox, A. F. Loyacano, W. M. Oliver, D. C. Huffman, and W. E. Wyatt. 1990. Appl. Agric. Res. 5:321.

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Schoonmaker, J. P., M. J. Cecava, F. L. Fluharty, H. N. Zerby, and S. C. Loerch. 2004. Effect of source and amount of energy and rate of growth in the growing phase on performance and carcass characteristics of early-and normal-weaned steers. J. Anim. Sci. 82:273-282.

O autor pode ser contactado através do email ar140@msstate.edu

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