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Frigorífico Swift é exemplo na Argentina

No verão de 2001, enquanto a pior crise econômica da história da Argentina atingia o ponto de ebulição, Paul H. O’Neill, na época secretário do Tesouro dos Estados Unidos, causou furor em Buenos Aires ao sugerir que o país poderia ter evitado o colapso caso tivesse se preocupado em aprender a exportar.

Apesar de a Argentina ainda estar longe de se tornar uma potência comercial, uma empresa que foi contra a tendência por décadas, vendendo com sucesso para o exterior, é a Swift Armour SA Argentina, a principal empresa de produtos de carne bovina do país.

Diferente da maioria de suas rivais domésticas, a Swift gera mais de 70% de sua receita via exportação e a Argentina fechada em si mesma, necessita desesperadamente dos dólares obtidos pelas exportações para estabilizar sua grande dívida.

Dirigida por Carlos Oliva Funes, executivo com mais de três décadas de experiência no ramo de carne, a Swift está gerando empregos e dando um exemplo para outras empresas argentinas que estão buscando aumentar as vendas explorando os mercados externos.

A empresa acrescentou quase mil pessoas à sua folha de pagamento desde 1999, aumentando sua força de trabalho para 2.570 empregados. Durante o período, muitas de suas concorrentes demitiram funcionários. E a pedido do governo, a Swift está agora compartilhando parte de sua experiência com empresas menores, que querem exportar chá, mel, azeite de oliva e outros produtos.

Fundada em 1907, a Swift há muito tempo é um grande nome na indústria de carnes na Argentina, já tendo empregado até 23 mil pessoas depois que o governo assumiu brevemente a empresa no início dos anos 70.

A Swift voltou a ser uma empresa privada em 1977, quando um grupo local de investimento liderado por Oliva Funes a comprou e buscou ajustá-la para que se tornasse mais lucrativa.

Sobrevivendo às turbulências

Três anos depois, uma Swift menor, porém mais eficiente, mudou de mãos novamente, quando os argentinos a venderam para a Campbell Soup Co. de Camden, Nova Jersey, apesar de Oliva Funes ter permanecido como diretor.

Por grande parte das duas décadas seguintes, a Swift prosperou como uma das maiores fornecedoras da Campbell de carne bovina congelada e enlatada, utilizada para produção de sopas.

Em 1997, a Campbell transferiu o controle da Swift para uma subsidiária, a Vlasic Foods International, que se transformou em uma empresa independente um ano depois. Mas a Vlasic logo decidiu abandonar seus negócios de commodities e se concentrar em suas operações nos Estados Unidos, colocando a Swift à venda em 1999.

Buscando tirar proveito da chance para recomprar a empresa, Oliva Funes começou a procurar por investidores. Em pouco tempo ele trouxe a bordo dois fundos privados de Wall Street, o J.P. Morgan Latin America Capital Partners e o Greenwich Street Capital Partners, que dividiram uma participação de 49% na Swift. Com a ajuda de investidores argentinos, Oliva Funes levantou US$ 55 milhões e adquiriu a participação de 51% na empresa.

A Swift teve um início turbulento sob o novo controle. A empresa foi atingida duramente pela queda do preço da carne bovina após os surtos de mal da vaca louca na Europa e febre aftosa na Argentina.

A decisão do Brasil de desvalorizar sua moeda no início de 1999 também prejudicou os ganhos da Swift, tornando a carne bovina brasileira mais competitiva nos mercados mundiais.

O peso argentino ainda estava atrelado ao dólar americano naquela época. Em 2003, as vendas da Swift caíram para US$ 137 milhões por ano, em comparação a US$ 160 milhões em 1999.

Para suportar a tempestade, a Swift fechou contratos de longo prazo com grandes compradores como a Campbell e a Kraft Foods, e buscou ativamente novos clientes ao redor do globo. Hoje a empresa exporta produtos de carne para 70 países e está a caminho de declarar mais de US$ 200 milhões em vendas neste ano.
“Nós éramos um fornecedor confiável para a Campbell Soup”, disse Oliva Funes. “Agora nós somos um fornecedor confiável para diversas empresas de todo o mundo.”

A agressividade da Swift também a ajudou a suportar a crise da Argentina melhor do que a maioria. Quando a economia Argentina entrou em colapso no final de 2001 e a maioria dos investidores sacou seu dinheiro do país, a Swift entrou em febre de compras.

Em 2002, a empresa gastou US$ 4 milhões para comprar a Cabana Las Lilas, uma das marcas mais conhecidas de carnes nobres da Argentina. Poucos meses depois, ela adquiriu uma fábrica de embalagem de carne falida perto da fronteira com o Uruguai, chamada Vizental, por US$ 8 milhões, que aumentou sua capacidade de produção em 35%.

“No meio da crise, em vez de recuarmos, nós aumentamos nossa aposta buscando comprar mais ativos”, disse Alfredo M. Irigoin, um sócio do escritório de Buenos Aires da JPMorgan Partners, a divisão de investimento privado da J.P. Morgan Chase & Co.”Mas se a Swift não fosse tamanha exportadora, esqueça, isto nunca teria dado certo.”

Outras empresas argentinas estão começando a seguir o exemplo da Swift, tirando proveito da fraqueza do peso para exportar. O governo espera que as receitas de exportação cresçam 14% neste ano, para um recorde de US$ 33,5 bilhões, apesar disto ser conseqüência em grande parte da alta dos preços de commodities como soja e petróleo. O Brasil, em comparação, está a caminho de obter mais de US$ 90 bilhões em exportação neste ano.

Desafios à exportação

Mas a maioria das empresas argentinas, especialmente as pequenas, ainda enfrenta obstáculos formidáveis para se tornarem exportadoras. O crédito continua escasso e caro, tornando difícil venderem seus produtos para compradores potenciais.

Com poucas exceções, investidores estrangeiros têm relutado em preencher tal vácuo, preferindo esperar e ver se a recuperação econômica da Argentina é sustentável. Além disso, o governo, carente de dinheiro, impõe impostos de até 45% sobre as exportações para ajudar a pagar a imensa dívida do setor público, atualmente equivalente a cerca de 127% do PIB (Produto Interno Bruto).

“Há várias empresas fazendo um bom trabalho de exportação, mas foram necessários anos de persistência”, disse Enrique S. Mantilla, presidente da Câmara de Exportadores da Argentina. “Há talento aqui, mas não é fácil empregar tal talento em um país com tanta volatilidade.”

Fonte: The New York Times, adaptado por Equipe BeefPoint

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