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CNA: Sisbov precisa ser alterado para não prejudicar a pecuária brasileira

Crescentes exigências em relação à rastreabilidade do rebanho, o que aumenta custos de produção; e paralela queda dos preços pagos pelo boi gordo criaram um cenário de crise para a pecuária de corte brasileira. Para discutir o tema, foi realizada hoje reunião de emergência com representantes de criadores de gado de todo o País na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Frente aos problemas atuais, o Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da CNA preparou documento com o posicionamento do setor produtor, e a principal preocupação refere-se à necessidade de rápida alteração do Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov), tornando a rastreabilidade do rebanho uma decisão facultativa a cada produtor, e não uma obrigação, como é hoje.

Conforme o presidente do Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da CNA, Antenor Nogueira, é necessário considerar as características de cada região e de tipo de criação no momento de exigir a rastreabilidade do rebanho. A exigência de rastreabilidade individual de cada animal tem prejudicado o pecuarista, por vários motivos. A rastreabilidade representa aumento do custo de produção, sem necessariamente haver melhor pagamento pelo produto final, que é o boi gordo. O sistema também gera dificuldades no manejo do gado, principalmente no momento de embarque dos animais. Tendo em vista esses problemas, a CNA sugere que além de ser de caráter voluntário a adoção da rastreabilidade, que seja implementado um sistema de certificação de propriedades, como ocorre em outros países. Ou seja, seria identificado todo um lote de animais criados em uma mesma fazenda, e não animal por animal.

Nogueira diz que a implantação de sistemas de rastreabilidade dos alimentos é tendência mundial e que trata-se de processo positivo, que pode valorizar a produção da pecuária brasileira, mas argumenta que a certificação dos rebanhos precisa ser realizada de forma factível com a realidade do País. Da forma em que está sendo executado atualmente, o Sisbov provoca perda de renda ao produtor, principalmente porque a pecuária está vivendo momento de redução dos preços pagos ao produtor, em plena entressafra, período no qual os valores pagos pelos frigoríficos tradicionalmente apresentam recuperação. Apesar de o setor estar em pleno período de entressafra, os preços da arroba do boi caíram 0,86% de janeiro a julho, enquanto que os custos operacionais totais (COT) da pecuária subiram 6,9% no mesmo período. Por outro lado, as receitas de exportação de carne bovina aumentaram 77,8% de janeiro a agosto de 2004, atingindo US$ 1,554 bilhão; frente US$ 875,4 milhões, em igual período do ano passado.

Durante a reunião realizada nesta sexta-feira foram discutidos também os impactos gerados pelo surgimento de foco de febre aftosa no Estado do Amazonas, fato que levou a Rússia a suspender a compra de carne bovina brasileira. A CNA defende que seja implantado um efetivo programa de erradicação da aftosa nas regiões Amazônica e do Nordeste brasileiro, dentro dos objetivos do Centro Panamericano de Febre Aftosa, que deseja erradicar a doença de toda a América do Sul. Segundo Nogueira, o mercado internacional não considera se local onde houve a doença, no Amazonas, fica distante de áreas que já estão livres de aftosa, sem há risco de contágio. “Querem o Brasil inteiro livre de aftosa”, diz o representante da CNA. Para Nogueira, também é necessário dar prosseguimento ao plano de erradicação da doença na região do Chaco, que envolve áreas da Bolívia, Paraguai e Argentina limítrofes ao Brasil.

Comunicado

O Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), considerando as inúmeras dificuldades e o ônus que o sistema de rastreabilidade animal em implantação no País impõe aos produtores rurais, bem como as diversas manifestações recebidas do segmento de produção, e tendo em vista decisão deliberada em reunião realizada no dia 24 de Setembro de 2004, vem a público reafirmar, em nome dos pecuaristas brasileiros, o posicionamento defendido junto aos fóruns de discussão dos quais participa no âmbito do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA):

1 – Os pecuaristas brasileiros reiteram o posicionamento para a eliminação de todos os prazos que tornam obrigatória a adesão ao Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina (SISBOV);

2 – Os pecuaristas entendem que o SISBOV deve ser de caráter voluntário para os criatórios de animais nascidos e criados no País;

3 – Os pecuaristas defendem a implementação de um sistema de certificação de propriedades, alternativo e de adesão voluntária, que leve em consideração as características e peculiaridades regionais da produção pecuária brasileira, tais como a dimensão e a diversidade dos criatórios e dos sistemas de manejo existentes;

4 – Os pecuaristas defendem a simplificação de procedimentos do SISBOV, de forma a adequá-lo às condições da produção pecuária brasileira, com garantias sanitárias aos mercados interno e externo, e torná-lo de custo acessível a todas as categorias de produtores rurais do País;

O Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da CNA reconhece que a implantação de sistemas de rastreabilidade nas cadeias produtivas de alimentos é uma tendência mundial e que vem se tornando importante requisito para acesso aos principais mercados, face aos inúmeros problemas sanitários que recentemente vem abalando a confiança dos consumidores em todo o mundo.

No entanto, entende que o mercado deve ser o principal balizador no processo de criação de sistemas de certificação que assegurem atributos de qualidade da produção, tanto para o mercado consumidor interno, como para os mercados de exportação. Cabe ao poder público zelar pela segurança da produção e dos consumidores, bem como fomentar o desenvolvimento das cadeias agroindustriais, com o mínimo de interferência e ônus ao sistema produtivo. Cabe também, às autoridades públicas, cumprir com seu papel quanto à manutenção de serviços adequados de vigilância e defesa sanitária.

Por fim, o Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da CNA, com as entidades abaixo subscritas, informa que está aberto a estudar e discutir propostas de soluções para os problemas do setor pecuário, mas reafirma sua disposição de defender os legítimos interesses dos produtores rurais brasileiros.

Assinam o comunicado:

– Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

– Federação da Agricultura do Estado do Acre

– Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Alagoas

– Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia

– Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás

– Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Maranhão

– Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso

– Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso do Sul

– Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais

– Federação da Agricultura do Estado do Paraná

– Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul

– Federação da Agricultura do Estado de São Paulo

– Federação da Agricultura do Estado de Tocantins

– Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ)

– Sociedade Rural Brasileira (SRB)

– Associação Brasileira do Novilho Precoce (ABNP)

– Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC)

– Associação dos Criadores do Estado de Mato Grosso do Sul (ACRISSUL)

– Comissão Nacional da Pecuária de Leite da CNA

– Fundo Emergencial de Febre Aftosa (FEFA-MT)

– Fundo Privado de Defesa Agropecuária (FUNDEAGRO-TO)

– Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Estado do Acre (FUNDEPEC-AC)

Fonte: CNA, adaptado por Equipe BeefPoint

0 Comments

  1. Edgard Pietraroia Filho disse:

    Surpreende-me, apesar de nunca ser tarde, que a CNA e filiadas se posicionem tão incisivamente neste momento com relação a mudanças, uma vez que ela sempre esteve envolvida no processo do SISBOV e teve inúmeras oportunidades de se posicionar com relação a atitudes e mudanças que sempre se fizeram necessárias, me surpreende também porque o órgão oficial de representação dos pecuaristas não tomou uma posição fiscalizadora do processo de rastreabilidade e certificação durante todo este tempo, denunciando irregularidades cometidas por certificadoras inescrupulosas que visaram sempre apenas lucro, em detrimento de uma implantação do processo de rastreabilidade de forma sustentada, por meio de técnicos qualificados para tal serviço, me surpreende o maior representante da classe produtora fechar uma parceria financeira com uma determinada certificadora no mesmo dia em que foram credenciadas as primeiras certificadoras pelo SISBOV, quando deveria fechar uma parceria com todas as certificadoras e estabelecer normas de conduta que privilegiassem os pecuaristas, cito como exemplo a proibição de trabalho com os frigoríficos que custeiam o processo até hoje, dando identificadores, “rastreabilidade e certificação”, tornando o pecuarista refém na hora da venda e sem a possibilidade de vender o seu produto com valor agregado por estar rastreado e certificado na fazenda com acompanhamento técnico.

    Não sou contra mudanças, nas acho que elas devem ser implantadas de forma inteligente e racional e não neste frenesi de chegar a ponto de se marcar reuniões de emergência como se a casa estivesse pegando fogo.

    O SISBOV existe há dois anos e meio, foram feitas muitas mudanças e deverão ser feitas muito mais, mas que sejam ouvidos técnicos de campo de extrema competência que inclusive fazem parte da comissão permanente, e que não usem deste momento como plataforma eleitoral e nem mesmo política com interesses de projeção pessoal.

    Estou de pleno acordo com a adesão voluntária, de certificarmos as propriedades, mas descordo completamente da não identificação individual, e sei que técnicos da comissão permanente compartilham da mesma opinião, é impossível rastrear um animal sem identificá-lo, isto é obvio do ponto de vista gerencial e sanitário. Pois que entrem no processo, de forma voluntária, os pecuaristas que estiverem convencidos dos benefícios que a rastreabilidade e certificação traz, esta feita com suporte técnico e como determina as regras nacionais e internacionais.

    O SISBOV não foi feito de maneira irresponsável como muitos acham, ele não teve foi o apoio e atenção merecida durante todo este tempo, técnicos competentes se desdobram para manter o sistema operacional e evolutivo e é nossa obrigação apóia-los em beneficio da pecuária nacional.

    É fácil saber porque os preços estão caindo em plena entressafra, e os lucros com a exportação aumentando, é só perguntar as “certificadoras” que prestam serviços vinculados a frigoríficos e a seus “parceiros”, que eles responderão.

    Quem tem que certificar os produtos são as “certificadoras” e não empresas batedoras de carimbo, quem tem que identificar e implantar e acompanhar o processo de rastreabilidade são os técnicos, e nos temos um exercito pronto para trabalhar, e não o produtor que se vê totalmente perdido neste tiroteio.

    Vamos acabar com a hipocrisia e vamos simplificar as mudanças, vamos fiscalizar, vamos denunciar fraudes que acontecem aos quatro cantos, vamos implantar o processo de forma gradativa e sustentada, vamos dar alternativas comerciais ao nosso produtor apoiando iniciativas como o “Projeto Carne” de uma cooperativa do Paraná, é assim que teremos uma pecuária forte, produtiva e bem representada.

    Peço desculpas se fui grosseiro nas minhas críticas, não me refiro a nenhuma pessoa, mas sim a atitudes, e estou com estes fatos engasgados há dois anos e meio e acho que passou em muito da hora de me pronunciar.

  2. Humberto de Freitas Tavares disse:

    Nossos cumprimentos a CNA (Confederação Nacional da Agricultura), pela mudança de rumo que agora a traz novamente para o lugar de onde nunca deveria ter saído: para junto dos pecuaristas, da SRB (Sociedade Rural Brasileira) e de destacados membros da Comissão de Agricultura do Congresso Nacional.

    Esta mudança havia ficado implícita nas recentes declarações de Antonio Ernesto de Salvo à DBO Rural. Louvamos a união de esforços com a SRB, e o pulso firme na correção do descaminho — descrito na carta do Edgard Pietraroia Filho — a que a CNA havia sido conduzida.

    Fazemos votos de que a voz de Antonio Ernesto seja ouvida nas reuniões da Diretoria da ABCZ, que para nossa satisfação também assinou o manifesto de que trata a notícia.

    A surpreendente adesão da Associação Brasileira do Novilho Precoce mostra ainda que é crítica a situação daqueles que tiveram o desplante de dizer que iriam enfiar-nos o SISBOV “goela abaixo”, com o falacioso argumento de que o sistema era para fazer “rastreabilidade”. Que vergonha…

  3. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Agora sim, aparece o bom senso e a defesa dos legítimos interesses da pecuária e dos pecuaristas.

    Demorou, mas chegou uma reivindicação de 22 entidades para que o SISBOV seja simplificado, adaptado às peculiaridades regionais e locais, e de caráter voluntário.

    O assunto foi até certo ponto mistificado e analisado sob prismas que não eram os dos criadores. Agora caímos no real e só temos que louvar a atitude das entidades subscritoras, desejando que outras congêneres venham a aderir e que o brado de alerta venha a ser completado pelo trabalho de convencer os pareceristas que conduzem a opinião e as decisões das autoridades.

    Ainda haverá muito que fazer em Brasília no que se chama de “trabalho de formiguinha”, a que certamente se dedicarão outros interessados em manter o “status quo”.

    Que tenham sucesso as entidades que tomaram a iniciativa tão louvável, oportuna e realista! Mas…que não se limitem ao grito de alerta inicial!

    Saudações.

  4. Estêvão Domingos de Oliveira disse:

    É impressionante o descaso com o qual nós, os produtores rurais, somos tratados nesse país. O governo não toma a menor iniciativa para nos auxiliar.

    O lobby das empresas rastreadoras, assim como o das empresas produtoras de brincos deve ser bem representativo lá no Ministério da Agricultura, pois só isso explica o fato de terem inventado um sistema de rastreabilidade igual a esse para a nossa pecuária.

    Existem outros sistemas muito mais práticos e muito menos onerosos para os produtores, mas não sei se é burrice ou propina que fez com que o pessoal ineficiente do MAPA. adotasse esse esquema.

    Agora, o que não se explica mesmo, é o fato de as exportações de carne bovina aumentarem em quantidade e preço a cada ano (beneficiando as empresas exportadoras e não os produtores) e a arroba paga ao produtor estar em um dos níveis mais baixos da história.

    Os insumos sobem a cada ano, como é que pode? Eu acho que esse pessoal do governo brasileiro quer é acabar com a gente, pois só aqui no Brasil é que os produtores não recebem quase nenhum auxílio governamental e ainda são sugados por uma carga tributária absurda, e ainda têm que rastrear o rebanho com uma tecnologia ineficiente e onerosa como essa.

    Esperamos que mais produtores pensem como a gente e que o Roberto Rodrigues pare de ser joguete de uns ex-comunistas e guerrilheiros que estão no poder, porque senão acho que não vai dar para agüentar muito tempo nessa situação não.