Ontem, data em que a campanha deveria estar concluída no Paraná, a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab) anunciou a prorrogação da vacinação do rebanho bovino e bubalino contra a febre aftosa até o dia 31 de maio.
A decisão foi tomada porque faltou vacina em algumas localidades do Estado, em função de problemas na distribuição das doses e no descarte de parte do material que não foi aprovado pelo controle de qualidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
O Departamento de Fiscalização da secretaria estima que até o momento 70% do rebanho suscetível à doença tenha sido vacinado. “Até o dia 31 será possível concluir a vacinação, chegando a 100% de cobertura”, acredita o coordenador da Defesa Sanitária Animal da Seab, médico veterinário Felisberto Queiroz Baptista.
De acordo com dados do Sindicato Nacional das Indústrias de Defensivos Veterinários, entraram até o momento no Paraná 9,4 milhões de doses da vacina, número muito próximo à totalidade do rebanho a ser vacinado, que é de 9,5 milhões. “O restante deve ser suprido com novas remessas que o Ministério da Agricultura está liberando esta semana”, diz Baptista.
Segundo ele, o índice de reprovação de vacinas pelo controle de qualidade do Ministério da Agricultura chegou a 18%, sendo que o percentual tolerável é de 5%. “Essas vacinas não aprovadas são descartadas e têm que ser repostas pelos laboratórios, o que provoca um certo atraso no abastecimento”, explica.
O veterinário afirma que nos próximos 10 dias os pecuaristas terão todas as condições de concluir a vacinação do rebanho e adverte que o prazo não será prorrogado novamente. “A partir de 1º de junho começaremos a fiscalização, promovendo a vacinação compulsória nos animais não vacinados e aplicando multas aos pecuaristas que deixaram de vacinar o gado”, avisa. A multa é de R$ 56,31 por cabeça não vacinada. Na reincidência, o valor dobra.
No Sul, o problema afetou apenas o Paraná, que integra o circuito pecuário Centro-Oeste (junto com São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, Tocantins e parte de Minas Gerais). Santa Catarina e Rio Grande do Sul integram o circuito Sul (formado ainda pela Argentina e o Uruguai). Santa Catarina não vacina seu rebanho porque é área livre da doença e o Rio Grande do Sul realizou sua campanha em março e a retomará em julho, para imunizar os bezerros que nasceram desde então.
Lotes descartados
Segundo o vice-presidente do Sindicato Nacional das Indústrias de Produtos para a Saúde Animal (Sindan), Sebastião Costa Guedes, a maior parte dos lotes descartados foi produzida no início do ano. “Nas últimas quatro semanas, já chegamos aos níveis de recusa considerados normais”, afirmou.
A causa, diz ele, foi a contaminação decorrente de “ajustes biológicos” na instalação de novas linhas de produção, necessárias devido ao aumento da demanda. Neste ano, o País vai produzir pelo menos 360 milhões de doses, 14% a mais que as 318 milhões de 2001.
“As indústrias pararam no ano passado para se expandir. Só no Rio Grande do Sul foram 29 milhões de doses não previstas. A vacinação se expandiu também no Norte e no Nordeste. O Rio Grande do Sul voltou a vacinar em 2001. Até então, o estado (que integra o circuito Sul, junto com Santa Catarina), era considerado área livre da doença.
Aftosa – risco desconhecido no Maranhão
Em sete anos de criação do programa nacional de erradicação da febre aftosa, o Maranhão não saiu da condição de risco desconhecido. Como conseqüência, o estado tem o mais baixo preço da arroba praticado no País e vem diminuindo a venda de carne, segundo a Associação dos Criadores do Maranhão (Ascem).
A arroba do boi é vendida a R$ 38, enquanto no Sul, que já erradicou a aftosa, o preço atinge R$ 47. Em 1999 eram abatidos cerca de 60 mil animais por mês. O volume caiu para 40 mil ao mês.
“O setor atravessa situação difícil com a falta de rentabilidade”, diz o presidente da Ascem, Cláudio Azevedo. Para sobreviver, “muitos produtores reduziram investimentos em pastagens, na reposição de rebanho, etc”.
Com um rebanho estimado em cinco milhões de animais, o Maranhão não registra foco de febre aftosa desde 1993. Mesmo assim ainda é classificado como zona de risco desconhecido e é impedido de comercializar carne bovina para os estados do Centro-Oeste, Sul e Sudeste.
A comercialização é mantida apenas com estados nordestinos que estão na mesma situação, mas com estágio do programa de erradicação mais avançado. Atualmente o Maranhão só vende carne e animal vivo para o Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
“O Maranhão é o último estado produtor a erradicar a aftosa”, diz Azevedo, ressaltando o fato de possuir um grande rebanho, quando comparado ao Piauí, que possui em torno de 1,8 milhão de cabeças e está prestes a sair da condição de risco desconhecido. A esperança é que a situação possa melhorar a partir de uma ação mais eficaz da recém-criada Agência Estadual de Defesa Agropecuária.
Fonte: Paraná On Line e Gazeta Mercantil (por Valmir Denardin e Franci Monteles), adaptado por Equipe BeefPoint