Após a divulgação das estatísticas oficiais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em 21 de outubro de 2004, os Estados Unidos e o Japão chegaram a um acordo em 23 de outubro de 2004 para a retomada do comércio de carne bovina. Embora exista a possibilidade de as exportações norte-americanas ao Japão serem retomadas no começo de 2005, as estimativas não refletem o impacto deste acordo. Os procedimentos de regulamentação necessários não foram completados em nenhum dos dois países e o nível de comércio esperado é dependente do tempo e dos resultados deste trabalho. O USDA atualizará suas estimativas assim que mais informações se tornarem disponíveis. A seguinte discussão reflete a situação antes do acordo com o Japão.
Em 2005, as exportações totais de carne bovina dos principais fornecedores deverão aumentar para quase 6,6 milhões de toneladas após o declínio projetado para 2004 devido às barreiras impostas por causa da Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB). O crescimento nas exportações virá da América do Sul, à medida que os mercados de exportação se abrem em resposta a esforços de erradicação de doenças e ao aumento da competitividade dos preços devido às favoráveis taxas de câmbio.
As exportações para a União Européia (UE), um mercado tradicional para a carne bovina sul-americana, aumentarão uma vez que os produtores europeus limitarão sua produção para se ajustar à reforma da Política Agrícola Comum (PAC). Além disso, mercados menores terão que importar de fornecedores não tradicionais ou importar menos uma vez que a Austrália e a Nova Zelândia deslocaram uma grande proporção de suas exportações para o Japão e a Coréia. As exportações dos EUA deverão aumentar em 70 mil toneladas em 2005, refletindo a contínua recuperação das exportações para aqueles países que reabriram seus mercados à carne bovina dos EUA. Entretanto, enquanto as restrições e barreiras à carne bovina dos EUA no Japão e na Coréia permanecerem, as exportações dos EUA serão de menos de um quarto dos níveis de 2003 e os EUA cairão do terceiro ao nono maior exportador de carne bovina do mundo.
As exportações totais de carne bovina dos principais exportadores estão projetadas em 6,2 milhões de toneladas para 2004, ou seja, 5% a mais do que o estimado em março de 2004, mas menor do que em 2003, devido à EEB. Para os principais exportadores da América do Sul, a estimativa revisada para 2004 mostrou alta após o relaxamento de algumas barreiras de importação devido à febre aftosa. A previsão revisada de exportações de carne bovina dos EUA também mostrou alta devido à reabertura dos mercados do México e do Canadá, bem como de mercados secundários.
As importações (dos principais países) em 2005 deverão ser de 4,8 milhões de toneladas, ou 4% maiores do que em 2004. O consumo agregado nos principais mercados permanecerá relativamente estável de 2004 a 2005 devido aos maiores preços e às menores ofertas. A produção cairá marginalmente na UE devido à reforma da PAC e na Austrália e Nova Zelândia à medida que os produtores formarão seus rebanhos após altas taxas de abate devido a períodos de seca e aos altos preços da carne bovina. Nos EUA, a produção deverá permanecer relativamente estável devido aos menores estoques e as importações deverão aumentar 2%. Os EUA permanecerão sendo o maior importador de carne bovina em 2004 e em 2005. As importações totais de carne bovina nos principais mercados deverão ser de 4,6 milhões de toneladas em 2004, 3% a mais do que o estimado em março de 2004. O Japão está importando mais da Austrália e da Nova Zelândia para compensar a redução das importações de carne bovina norte-americana. A UE deverá importar mais da América do Sul.
Principais exportadores
EUA
As exportações de carne bovina dos EUA serão limitadas em 2005 devido às barreiras atualmente impostas por importantes importadores. O México se tornou o maior importador de carne bovina dos EUA e a tendência deverá continuar, assumindo-se que as barreiras de importação de outros países permanecerão em 2005.
As exportações de carne bovina dos EUA deverão ser de 272 mil toneladas em 2005, representando um aumento de 35% com relação a 2004, mas permanecendo a níveis significantemente menores do que os históricos.
Em 2004, as exportações para os mercados reabertos não deverão atingir os níveis de antes da EEB, particularmente para o Canadá, onde o estoque de bovinos e a oferta de carne bovina estão em níveis recordes. A produção dos EUA ficará estável à medida que os produtores aproveitarão as melhores condições climáticas e os melhores preços dos grãos para reconstruir seus rebanhos.
Os EUA estão entre os principais fornecedores de carne bovina de alta qualidade do mundo, mas, enquanto as barreiras à carne bovina norte-americana continuarem, a Austrália terá a oportunidade de melhorar sua posição de competitividade no fornecimento de carne bovina a importantes mercados, como Japão e Coréia.
Brasil
Com previsão de exportações de 1,6 milhão de toneladas de carne bovina em 2005, o Brasil deverá permanecer como maior fornecedor mundial de carne bovina, apesar da recente descoberta de um foco de febre aftosa na região pré-Amazônica no norte do país.
A maioria da produção de carne bovina para exportação se origina de fora desta região, ou seja, das regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil, que se beneficia de melhor acesso a infra-estrutura, abundância na oferta de alimentos para animais e por terras baratas não sobrecarregadas por regulamentações ambientais.
As exportações brasileiras de carne bovina continuarão aumentando devido à expansão e à melhoria na produtividade, taxas de câmbio favoráveis e agressivos esforços de marketing.
Em 2005, a produção de carne bovina deverá aumentar em 5% devido a um melhor crescimento econômico gerando uma maior demanda doméstica, contínua expansão das exportações de carne bovina e a um rebanho recorde de bovinos de corte.
A previsão de exportações de carne bovina para 2004 é de quase 1,5 milhão de toneladas, refletindo os aumentos esperados nas exportações à UE, Egito e Rússia, devido aos maiores preços nestes mercados e às favoráveis taxas de câmbio.
Austrália
As exportações australianas de carne bovina deverão permanecer em 1,3 milhão de toneladas em 2005. Um decréscimo marginal na produção de carne bovina é antecipado à medida que se equilibre a reconstrução do rebanho com os atuais altos preços da carne bovina.
As condições de pastagens melhoraram neste ano após aquela que foi considerada a pior seca do século. Entretanto, os preços estão relativamente altos no Japão, na Coréia e nos EUA, que estão deslocando as exportações australianas dos mercados menores. Até agosto de 2004, as exportações de carne bovina neste ano da Austrália ao Japão aumentaram 42% e as exportações à Coréia, 32%. Os produtores esperam continuar tirando vantagens dos maiores preços devido à menor competição em outros mercados, o que levará a um aumento nas exportações a esses mercados e à redução no consumo doméstico na Austrália.
Índia
As exportações de carne bovina e de búfalo da Índia deverão ser de 625 mil toneladas em 2005, representando um aumento de 16% com relação a 2004, devido à maior produção, à melhor qualidade e à maior demanda nos mercados de exportação. Os esforços de marketing da Índia estão aumentando as exportações tanto em mercados tradicionais como em novos mercados e a produção de carne bovina está aumentando para suprir esta demanda através de investimentos na capacidade de processamento de carnes. A qualidade da carne está aumentando devido ao melhor manejo de saúde animal, à maior eficiência na produção animal e aos investimentos nos estabelecimentos de engorda.
Nova Zelândia
As exportações de carne bovina da Nova Zelândia em 2005 deverão atingir o volume de 605 mil toneladas, ou seja, relativamente estável com relação a 2004. Assumindo um retorno às condições normais de pastagens, é esperada uma maior retenção de vacas e novilhas em 2005 para reduzir o abate de fêmeas. Além disso, é esperada uma redução de quase 1% na produção de carne bovina em 2005.
A estimativa de exportação de carne bovina da Nova Zelândia em 2004 aumentou com relação a março de 2004, refletindo maiores exportações ao Japão e à Coréia, à medida que os exportadores aproveitaram a barreira imposta por esses países à carne bovina dos EUA. Isso é evidenciado pelo fato de as exportações ao Japão terem aumentado 92% e para a Coréia, 99%, de janeiro a agosto de 2004 com relação ao mesmo período de 2003.
Argentina
As exportações argentinas de carne bovina em 2005 deverão atingir o maior volume dos últimos 25 anos, devido à forte demanda mundial, à abertura de novos mercados devido à melhoria do status sanitário, e às favoráveis taxas de câmbio.
A liquidação de bovinos, resultada da severa seca em 2003, levou ao aumento na produção de carne bovina em 2004, o que aumentou a oferta disponível no país. A capacidade de produção de carne bovina tem aumentado nos últimos anos e provavelmente continuará aumentando graças aos recentes investimentos feitos pelos processadores de carnes e frigoríficos.
Enquanto o governo argentino continua negociando agressivamente a abertura de mercados agora que a situação da febre aftosa melhorou após vacinações de larga escala, aumentarão as oportunidades de exportação de carne bovina para a Argentina.
A estimativa de exportações deste ano aumentou com relação à previsão feita em março devido ao aumento nas exportações aos EUA, UE, Rússia e Venezuela.
Canadá
Em 2005, a produção de carne bovina aumentará enquanto o consumo não seguirá a mesma tendência; desta forma, as exportações deverão aumentar 6%, para 570 mil toneladas, comparado com 2004, mas será 7% menor do que as exportações de antes da EEB, em 2002.
Os EUA permanecerão como mais importante mercado de exportação de carne bovina do Canadá, mas o governo canadense está agressivamente tentando reabrir outros mercados para reduzir a dependência dos EUA.
Os produtores canadenses estão enfrentando significantes desafios devido à barreira às exportações de bovinos aos EUA. Os estoques de bovinos continuam crescendo e a expectativa é de que excedam 16 milhões de cabeças até o final de 3005, com a capacidade de abates permanecendo limitada. Os processadores canadenses estão operando próximo de sua capacidade total e os aumentos esperados na capacidade de abate para 2005 não permitirão processar todos os bovinos que normalmente seriam exportados aos EUA. Os produtores canadenses estão propondo formas de lidar com o excesso de bovinos, com o suporte do governo do país, como um aumento na capacidade de abates e substituição das importações por produção doméstica.
A estimativa revisada de exportações de carne bovina neste ano é 4% menor do que a feita em março devido ao fato de as exportações estarem sendo menores do que o esperado.
Principais importadores
EUA
A estimativa revisada de importação de carne bovina neste ano é 5% maior do que a feita em março deste ano. Em 2005, as importações de carne bovina dos EUA deverão atingir quase 1,7 milhão de toneladas, apesar de o consumo permanecer estável, aumentando menos de 1% em 2005.
O crescimento nas importações reflete, em parte, o reduzido abate de bovinos. Cortes magros oriundos de animais criados a pasto são misturados com cortes mais gordos de animais criados a grãos para a fabricação de hambúrguer.
A oferta de carne bovina doméstica processada deverá ser menor à medida que os estoques de vacas vão declinando. Além disso, a barreira às importações de bovinos canadenses tem contribuído para um número menor de vacas disponíveis aos processadores dos EUA.
Devido a uma menor produção nos EUA de cortes magros e à estável demanda, estes cortes poderão ser importados da Austrália, da Nova Zelândia e do Uruguai. As importações norte-americanas do Uruguai aumentaram devido aos maiores preços no mercado dos EUA e à retomada do status de livre de febre aftosa.
Rússia
As importações de carne bovina da Rússia permanecerão estáveis em 2005. As importações russas do maior fornecedor, Ucrânia, deverão declinar devido à menor produção neste país. O declínio nas importações da Ucrânia deverá ser equilibrado pelos aumentos nas importações sob o sistema de cotas à medida que a implementação de cotas sujeitas a tarifas aumente.
A produção russa de carne bovina deverá declinar 4%, limitando a oferta e o aumento de preços. Recentemente, o setor de animais domésticos deste país apresentou uma redução no número de grandes propriedades rurais, parcialmente devido aos altos custos dos alimentos animais e às condições ruins de alimentação dos mesmos, o que deverá reduzir a produção de bezerros em 2004. Devido aos altos preços e à escassa oferta, o consumo deverá declinar quase 3%.
União Européia
Em 2005, as importações de carne bovina dos 25 países membros da UE deverão ser de 535 mil toneladas, 2% acima do ano anterior. O comércio de carne bovina da UE deverá apresentar um déficit, com importações líquidas de 165 mil toneladas em 2005, e estas deverão continuar aumentando como resultado do declínio na produção e transferência a uma política de desacoplamento da produção dos pagamentos de suporte.
Os produtores rurais nos novos Estados Membros deverão enfrentar desafios para se adequar aos novos padrões ambientais, de qualidade alimentar e bem-estar animal da UE porque estes países não terão ainda feito totalmente a transição ao sistema PAC.
A UE não proibiu a carne bovina dos EUA devido à EEB, mas as restrições relacionadas ao uso de hormônios continuam a limitar a quantidade de carne bovina que os EUA podem exportar à UE.
Japão
Em 2005, as importações de carne bovina deverão ser de 611 mil toneladas, 1% a mais do que as esperadas em 2004, mas 25% menores do que em 2003. As importações japonesas de carne bovina permanecerão reduzidas enquanto a barreira à carne bovina dos EUA permanecer. A produção doméstica e as importações da Austrália e da Nova Zelândia aumentaram com relação aos níveis anteriores. Entretanto, esses aumentos não são suficientes para suprir a demanda japonesa, resultando em uma situação de oferta escassa.
A carne bovina da Austrália, oriunda de bovinos criados a pasto, não substitui totalmente a carne bovina dos EUA, oriunda de animais criados a grãos, e a produção australiana de carne de animais criados a grãos não pode atingir níveis comparáveis aos dos EUA devido à escassa oferta de grãos e à limitada capacidade nos estabelecimentos de engorda.
Em 2004, a previsão revisada das importações de carne bovina é maior do que a feita em março, porque as importações da Austrália e da Nova Zelândia aumentaram muito na primeira metade do ano.
México
Em 2005, o México deverá importar 320 mil toneladas de carne bovina, um aumento de 19% com relação a 2004. A produção de carne bovina deverá declinar em 2005, devido à menor disponibilidade para abates, considerando que o México passou por uma seca durante os últimos dois anos no norte, que estimulou a venda de bovinos e reduziu o estoque.
A produção também é afetada pelo número recorde de bovinos enviados aos EUA para engorda. As exportações de bovinos de engorda do norte do México aos EUA estão altas devido aos preços extremamente altos dos bovinos de engorda nos EUA.
A situação da seca no México tem melhorado, mas as reservas e os preços dos alimentos não retornaram aos níveis normais. Assumindo que as condições de pastagens melhorarão, os bovinos disponíveis para abate deverão declinar em 2005 à medida que os produtores deverão reter os animais para reconstrução do rebanho.
A menor produção em 2005 melhorará as oportunidades de exportação para produtos selecionados de carne bovina dos EUA populares no México. A estimativa de importações em 2004 revisada é maior do que a previsão de março, refletindo a reabertura da fronteira do México para a carne bovina dos EUA e do Canadá.
Coréia
Em 2005, as importações coreanas de carne bovina deverão aumentar 38% com relação a 2004 para 275 mil toneladas, mas permanecerão significantemente menores do que os níveis de antes da barreira imposta à carne bovina dos EUA.
Em 2004, o consumo de carne bovina caiu devido às preocupações com a EEB; entretanto, a demanda parece estar ainda maior do que a oferta disponível. A demanda, os altos custos para produzir carne bovina domesticamente e a reduzida oferta mundial de carne bovina têm levado a maiores preços deste produto na Coréia.
Os importadores coreanos precisaram oferecer um preço mais alto do que os japoneses pela carne bovina disponível. Diante dos preços mais altos, os consumidores reduziram seu consumo de carne bovina e procuraram por substitutos alternativos, como carne suína ou peixes. Existem sinais de que a confiança dos consumidores na carne bovina está aumentando e o consumo deverá aumentar 11% em 2005.
Exportações de carne bovina aumentaram 6,5% em 2005; participação prevista dos EUA no mercado é de 4%
Sumário de carne bovina e de vitelo em países selecionados
1000 toneladas (Peso Equivalente Carcaça)
Notas: 1/ As séries de dados foram revisadas para representar os 25 Estados Membros da UE.
2/ Inclui búfalo.
3/ Para 2003, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, El Salvador, Honduras, Nicarágua e Venezuela foram retirados da base de dados. Não inclui todos os países do mundo, causando diferença entre o total importado e exportado.
* Preliminares, ** Previsão
Fonte: Relatório do Serviço Agrícola Externo (Foreign Agriculture Service – FAS) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)
0 Comments
Esse relatório confirma um momento de preços em alta no mercado mundial de carne bovina e também prevê o Brasil como maior fornecedor nesse mercado, se não me engano pelo terceiro ano seguido, o que deveria repercutir em melhores preços ao produtor brasileiro, mas por algum mistério nacional, ocorreu justamente o oposto nos dois últimos anos.
Como isso se explica? Sem melhora de preços ao produtor, logo perderemos esse status, visto que o abate de fêmeas bem acima do normal, vem sendo a única saída dos produtores para conseguir fechar suas contas, e assim matamos “a galinha dos ovos de ouro da nossa pecuária” que consequentemente fará com que nossa liderança mundial seja bem passageira.
Veja que o relatório ressalta diversas vezes o momento de preços elevados da carne, e nossos concorrentes diminuindo abates de fêmeas para aproveitar o momento, e poder ofertar mais a médio prazo, aqui ao contrário, os preços elevados só foram vistos pela indústria e burocratas de governo e as fêmeas estão servindo mais como alívio financeiro do que como matriz.