Os preços do boi gordo subiram menos que a inflação ao longo de 2004, segundo levantamento elaborado pela Scot Consultoria, de Bebedouro (SP). Nas duas principais praças de comercialização de gado de São Paulo, os preços subiram 2% neste ano, mas ao serem deflacionados pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas as cotações apresentam queda de 8% em Barretos e de 7% em Araçatuba.
O zootecnista Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria, diz que somente na Bahia a valorização da arroba foi superior à inflação, graças à forte escassez de animais terminados observada neste final de ano. “Na Bahia não choveu bem ainda, portanto não tem boi de pasto. E se não tem boi, são poucos os produtores que estão se beneficiando da arroba a R$ 64”. Este preço é o maior do país.
Ele afirmou que as maiores quedas ocorreram no Rio Grande do Sul, Paraná, Pará e Rondônia. “Além do aumento significativo da oferta de animais terminados, destaca-se, no Paraná e em Rondônia, o problema da concentração dos abates em poucos frigoríficos. No caso específico do Paraná, o Margen, que monopolizava as exportações, saiu de cena, direcionando a maior parte do gado do estado para frigoríficos de pequeno porte”.
A análise dos preços no atacado mostra que as altas também ficaram abaixo da inflação. Tito Rosa observa que apesar da recuperação da economia, com crescimento do PIB em torno de 5% e redução do desemprego, as vendas de carne não reagiram a contento.
Dados do Centro de Pesquisa Avançada em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP) mostram que, em 2004, a queda do preço foi próxima a 10% e os custos aumentaram 9%. Segundo o pesquisador Sérgio De Zen, do Cepea, houve excesso de produção e o mercado não conseguiu absorver o volume.
O pecuarista Mário Candia, que tem fazendas em Poconé e Alta Floresta (MT), diz que em seu estado foram abatidos dois milhões de matrizes para ceder área para a agricultura, o que acabou afetando o mercado. “Tivemos um achatamento no preço da arroba”, diz.
Segundo representantes do setor, para 2005, o abate de matrizes deve diminuir e o consumo interno se recuperar. Por isso, analistas acreditam que os frigoríficos poderão remunerar melhor os pecuaristas. “Haverá recuperação dos preços com base no equilíbrio da oferta e da demanda”, afirma De Zen.
O presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira também acredita em um ano promissor, pois alguns insumos, como os grãos, estarão com preços em queda.
Nogueira também espera que em 2005 o País consiga abrir mercados como os Estados Unidos para a carne in natura, China, Coréia e Japão. “Mas também teremos os Estados Unidos como concorrentes, que voltam ao mercado depois do mal da vaca louca”, acrescenta Paulo Molinari, consultor da Safras & Mercado.
O diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antônio Camardelli, acredita que 2005 será o ano da busca de valor agregado. “Vamos aumentar os mercados e nos manter na liderança mundial”, diz.
O diretor comercial do frigorifico Independência, André Skirmunt, espera a intensificação dos esforços de novos acordos sanitários em 2005, além da definição do mercado russo.
Exportação
Os preços pagos pela carne bovina também recuaram na exportação quando se analisa o comportamento no acumulado do ano. Tito Rosa faz a ressalva sobre o bom comportamento no primeiro semestre deste ano, quando os preços da carne bovina exportada reagiram, “já que o mercado internacional estava enxuto, com o real em desvalorização. De janeiro a junho, as altas foram de 21% para a carne in natura, 12% para a carne industrializada e 22% para o total ponderado, bem acima da inflação de 6% observada no período”.
Ele comenta que a situação mudou no segundo semestre, quando os preços internacionais da carne bovina, em dólar, praticamente se estabilizaram. “Com a valorização do real, a margem dos exportadores diminuiu. Assim, tão logo tiveram oportunidade, derrubaram as cotações da arroba. Procedimento padrão”.
Tito Rosa diz que apesar de ter caído ao longo do ano, a cotação média da carne exportada neste ano, em reais, ficou 14% acima da média de 2003, tomando como base os valores nominais. Ele afirma que o preço médio do boi gordo paulista reagiu somente 5% de 2003 para 2004. “Com inflação de mais de 10% no período, houve valorização real da carne exportada e desvalorização do boi e da carne no atacado”.
Fonte: Estadão/Agronegócios (por Venilson Ferreira) e Gazeta Mercantil (por Neila Baldi), adaptado por Equipe BeefPoint