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O urubu (Coragyps atratus) como potencial predador de bezerros

Por Luciandra Macedo de Toledo1 e Mateus J.R. Paranhos da Costa1

O urubu preto (Coragyps atratus) tem sido considerado como um potencial predador de bezerros e cordeiros, podendo também prejudicar as fêmeas (vacas e ovelhas) parturientes. Muitas vezes antes da expulsão completa do feto, com a vaca em decúbito lateral, os urubus se aproximam do feto e começam a bicar e puxar as membranas. Nestes momentos iniciais, os bezerros são alvos constantes das bicadas das aves, que provavelmente buscam pedaços das membranas que envolvem os bezerros. Há evidências de que o ataque de bezerros pelos urubus vem aumentado e que os danos, causados pela ação dessas aves nos recém-nascidos, se concentrem nas áreas dos olhos, narinas e na região ano-genital.

Ao assumirmos a hipótese de que o urubu preto é um predador de bezerros, assumimos também um conflito. Afinal, esta condição, de predador, o transforma em mais um problema na fazenda de cria, enquanto que na condição de necrófagos, essa ave é considerada uma espécie de grande valor para o ecossistema das pastagens, pois ao ingerir animais mortos desempenham importante função de limpeza. Por outro lado, desconhecemos estudos sobre perdas econômicas decorrentes da ação dessas aves.

Durante quatro anos de estudo, registramos um aumento da presença dessas aves no local do parto, a cada ano do estudo. Outro fator que mostrou maior ocorrência dos urubus foi o local do parto escolhido pela fêmea parturiente em relação ao rebanho. Há fortes evidências de que o comportamento de se afastar do rebanho é muito importante para a formação do apego entre mãe e filhotes, uma vez que a relação entre ambos corre menor risco de ser perturbada por outros membros do rebanho e que os bezerros também levantam mais rápido. Por outro lado, o isolamento do rebanho pode favorecer a ação desses predadores.

O comportamento materno em bovinos segue um certo padrão com a expressão de certas categorias comportamentais em uma determinada ordem. Após o parto, as vacas imediatamente começam a lamber e cheirar seus filhotes, além de protege-los na presença de outros animais (predadores e mesmo da própria espécie). Em nossos estudos, na presença de urubus foi registrado um maior tempo da vaca em vigilância, com conseqüente diminuição no tempo lambendo, cheirando ou tocando a cria. Isto prejudica a estimulação do filhote e a formação do apego materno-filial, que em bovinos acontece nas primeiras horas após o parto.

A reação das vacas à presença de urubus ocorreu em 89,4% das vezes e em 15,04% das reações as vacas mostraram comportamentos vigorosos e chegaram a pisotear seus bezerros, com alto risco de machucá-los.

Não é fácil diminuir a quantidade de urubus no local do parto, o uso de rojões para afugentá-los tem mostrado que essas aves se habituam ao barulho e mesmo que voem, retornam rapidamente ao local. Embora tenhamos encontrado um aumento da freqüência de urubus quando as vacas se afastavam do rebanho, o uso de pastos maternidade próximos das instalações de maior movimentação de humanos (currais, colonia, etc) também não minimiza o problema, já que nossos estudos foram realizados nestas condições. Esses resultados, ainda que preliminares, indicam que o urubu preto (Coragyps atratus) tem causado algum tipo de transtorno na relação materno-filial. Mais estudos são necessários para avaliar o impacto desta ave na produção de bovinos de corte.

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1Luciandra Macedo de Toledo e Mateus J.R. Paranhos da Costa, ETCO- Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal.

Este artigo é parte da tese de doutorado desenvolvida na pós-graduação em Zootecnia da FCAV – UNESP de Jaboticabal

9 Comments

  1. Leandro Afonso de Lima disse:

    É um assunto que merece mais atenção.

    Tenho prestado assistência técnica na Fazenda Água Verde / Serranópolis-GO, localizada em região de grande concentração de lavouras, e nos 100 primeiros nascimentos houve 3 mortes de recém-nascidos (1 direta e 2 indiretas pelo pisoteio da mãe), ocasionadas por urubus.

    Outro animal que preocupa é o Gavião (ou Carancho). Os vaqueiros já chegaram à contar até 30 urubus atormentado a vaca no momento do parto.

    Aí eu pergunto: O que Fazer? Matá-los? Espantá-los com foguetes?

  2. Walter José Verdi disse:

    Este acontecimento tem ocorrido com muita freqëência, e em especial em fazendas que são ilhadas por lavouras, como é o nosso caso aqui em Tangará da Serra-MT, e também na região de Serranópolis e Jataí-GO, onde relata o colega, vários casos de ataques de urubús e gaviões durante o trabalho de parto das vacas, e mesmo depois em crias debilitadas

    O professor Paranhos já havia comentado comigo este assunto, e creio que a falta de predadores naturais destas espécies, certamente levará à medidas retaliativas por parte de produtores, que não estarão dispostos a contabilizar mais este prejuízo em seus criatórios.

  3. Janete Zerwes disse:

    Luciana e Mateus,

    Sou pecuarista, e tenho uma fazenda em Cáceres – MT – 5 anos atrás, quando iniciei um trabalho de gerenciamento nesta fazenda, o chefe de campo e o gerente da fazenda, estavam às voltas com os bandos de urubus que cercavam a maternidade. Havia um índice muito elevado de mortes de recém nascidos.

    O chefe de campo me falou que “os urubus estavam comendo os bezerros”, achei estranho, por que segundo meu conhecimento sobre estes pássaros, eles se alimentam de animais mortos não de animais vivos.

    Chamei o veterinário clínico, que constatou alto índice de ocorrência de diarréia de recém nascidos, tratamos, e, adotamos o costume de fazer vacinas preventivas nas matrizes, durante a fase final da gestação.

    Por incrível que pareça, desde então não tivemos mais bezerros “comidos” ao nascer.

    Ainda se observa o trabalho dos urubus, na “limpeza” dos resíduos de parto nas maternidades, mas numa situação de equilíbrio, não tenho observado nenhuma espécie de agitação das matrizes, nos cuidados pós parto de suas crias.

    Obs.: A maternidade principal da fazenda, fica ao lado da casa sede, o que nos facilita a observação quase constante de tudo que ocorre na maternidade.

    No final do dia, após as atividades de campo, tenho a oportunidade de ficar por longo tempo observando as vacas que estão em trabalho de parto; parindo; no pós parto e, também o comportamento de afastamento no momento do parto, como se mãe e cria realmente precisassem estar sós para se “conhecerem” melhor no pós parto.

    Considero o estudo sobre o comportamento animal, como de fundamental importância para os resultados financeiros da fazenda.

    Por tudo que venho avaliando ao longo destes quase 6 anos de acompanhamento meticuloso das atividades da fazenda, pude constatar, que grande parte dos prejuízos ocorridos a campo são decorrentes da ignorância que se tem sobre o comportamento animal, que em contra partida, o aumento da eficiência financeira da atividade da pecuária, depende em grande parte, do conhecimento sobre este comportamento.

    Já consegui mensurar quantitativamente: tanto os ganhos, quanto as perdas decorrentes unicamente de procedimentos de manejo. Estes dados têm me servido como parâmetro para assegurar a afirmativa, de que: o nosso lucro como pecuaristas, esta muito mais dependente do conhecimento, do que dos recursos para serem aplicados em mudanças estruturais na fazenda.

  4. rui campos pinto disse:

    Caros Luciandra e Mateus,

    A título de colaboração, um aspecto que deve ser abordado é o horário do parto.

    Se ele ocorre logo pela manhã, de madrugada ainda, me parece que existe uma possibilidade menor do ataque, se tal situação ocorre durante o dia.

    Me parece também que fêmeas nelore, como é meu caso, pois possuo vacas boiadeiras, nunca tive um caso, vacas mais mansas, como as raças européias ou raças não definidas, parecem que são mais sujeitas a tais ocorrências.

    Talvez um fato a ser considerado é também a temperatura do dia, pois pelo que eu saiba, (não sou veterinário ou zootecnista) os urubus são grandes utilizadores das camas de ar quente. Isso nos leva a crer que a percepção da situação se dê pelo cheiro e não pela visão.

    Parabéns pelo artigo e boa sorte.

    Rui Campos Pinto
    Pedreira/SP

  5. Decio Abacherly disse:

    O comentário sobre o urubu é interessante e verdadeiro.

    Qual seria afinal a solução para este problema, pois tive vários casos de perder bezerros por motivo dos urubus?

    A solução que eu encontrei é colocar uma pessoa a cavalo junto a maternidade espantando os urubus, mas isto não é viável e não é sempre que você tem alguém disponível para isso, então será que existe outra alternativa qual?

  6. Andre Pinto Correia Gomes disse:

    Os urubus realmente provocam prejuízos. Nos neonatais eles costumam até a puxar o resto do cordão do umbigo de bezerros ocasionando onfaloflebite. Já ocorreram mortes de bezerros e estes se apresentavam furados no anus inclusive bezerros mais velhos (já que o urubu se alimenta das fezes de bezerros novos) e as vezes um bezerro deitado com a mãe defeca (nesta posição), e o odor atrai o urubu.

    Os fogos de artificio são eficazes porém tem que ser usados com certa constância, quando da maior incidência destes animais. Moro perto de um povoado onde a população de urubus vem aumentando por facilidade de alimento, acho que deveria haver uma liberação dos orgãos competentes para diminuição da população destes animais em áreas mais “perseguidas” por estes predadores de bezerros. Enquanto é proibido aconselho visitas periódicas a maternidade (2 x ao dia) sempre munido de fogos de artificio e usar sempre que tiver movimentação em torno de uma matriz.

  7. wilson tarciso giembinsky disse:

    Tenho obervado que os urubus atacam os recém nascidos que demoram para levantar, principalmente os resultantes de cruzas com raças européias que são mais moles para levantar.
    Observei ainda que se a vaca pare ao anoitecer ou mesmo durante a noite diminui o ataque.
    Tenho visto ataque a bezerros vivos com até uma semana, e já perdi bezerros nesta situação, eram bezerros que deitados não resistiram ao ataque simultâneo do bando de até 30 urubús, foi necessário colocar um funcionário no pasto.

  8. Eduardo Penteado Cardoso disse:

    Prezado Wilson,

    A vaca Nelore, criada e selecionada a pasto, apresenta um instinto maternal excepcional. Isto se deve, na minha opinião, ao processo evolutivo na Índia, onde o gado era frequentemente ameaçada por predadores.

    Só sobreviviam os bezerros cujas mães eram atentas ao ataque desses predadores, não abandonando suas crias e espantando qualquer tipo de ameaça.

    Eu mesmo tive a chance de ver e fotografar durante 20 minutos, uma vaca recém parida que ficou alerta para a presença de 18 urubús, não permitindo que nenhum deles se aproximasse do rebento.

    É por essa razão que ocorreu no Brasil a fantástica evolução da raça Nelore desde a sua introdução em 1878.

    Cordial abraço.
    Eduardo.

  9. Cristiano Zago disse:

    Acabei de perder um bezerro por ataque de urubu. Isto nunca tinha acontecido, agora vamos ter de mudar a estrategia.