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Aumento da oferta derruba preços da carne exportada

Depois de acumular um salto de 213% no ano passado, alcançando a marca recorde de 45,3 mil toneladas embarcadas, quase 10% da produção goiana de carne bovina, a indústria da carne amargou, entre janeiro e maio deste ano, uma retração média de 11,6% nos volumes exportados. O faturamento, que superou US$ 82,3 milhões em todo o ano passado, registra queda ainda mais acelerada neste ano. Nos cinco meses analisados, segundo dados brutos da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações de carne bovina e derivados originados em Goiás baixaram para US$ 23,065 milhões, numa queda de 13,8% em relação aos US$ 26,759 milhões registrados entre janeiro e maio de 2001.

Segundo um consultor da área de exportação, ligado a um dos grandes frigoríficos que operam em Goiás, o mercado internacional registra, neste momento, um crescimento da oferta de carnes, motivado pela retomada das vendas externas da Argentina e do Uruguai, principalmente, e um esfriamento na demanda. “O mercado internacional não está comprador. As temperaturas elevadas no verão europeu desestimulam o consumo de carne, o que contribui para virtualmente paralisar o mercado”, analisa o executivo.

A retração da demanda externa e o relativo crescimento da oferta de carne bovina ajudaram a derrubar as cotações do produto. Em dólar, para alguns cortes, a queda atingiu perto de 27%. Caso do contra-filé, que chegou a ser negociado por US$ 2,9 mil a tonelada no começo deste ano e passou a ser cotado, agora, a US$ 2,1 mil. Os valores médios de venda da carne congelada e resfriada, sempre com base nos números da Secex, experimentaram redução de 7,7% e 20,7%, respectivamente, entre janeiro e maio deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado.

A Argentina tem conseguido colocar seu produto a preços mais baixos, quando medidos em dólar, favorecida pela melhor relação entre o peso e a moeda norte-americana. Os embarques daquele país, prossegue o consultor, têm se destinado aos países da União Européia, principalmente, com destaque para a Inglaterra e Alemanha, países abastecidos pelo Brasil no ano passado, quando focos de aftosa retiraram a indústria argentina do mercado.

A volta da Argentina

“A Argentina retornou ao mercado internacional no início deste ano e o Uruguai, desde o final do ano passado. Agora, temos que dividir o mercado com eles”, comenta o diretor geral do frigorífico Goiascarne, Rodrigo Pena de Siqueira. Na sua visão, a competição reaberta pelos argentinos tem contribuído para tornar o mercado internacional bastante instável, o que torna difícil antecipar qualquer tendência mesmo para o futuro próximo.

No geral, os embarques de carne bovina congelada foram mais atingidos pelas oscilações do mercado externo, com perdas de 45,3% em faturamento e de 40,7% em volume. Os frigoríficos exportaram 6,7 mil toneladas de carne congelada entre janeiro e maio de 2002, diante de 11,3 mil toneladas em igual período do ano passado. As vendas renderam um faturamento de US$ 11,089 milhões, quase metade dos US$ 20,266 milhões vendidos no ano passado. Os valores médios de venda baixaram de US$ 17.93 por tonelada para US$ 16.54.

A carne resfriada, ao contrário, até mesmo em função do baixo nível dos negócios realizados nos primeiros cinco meses de 2001, experimentou um salto de 137% em valor (para US$ 10,465 milhões), resultado de um aumento de 199% no volume destinado ao mercado externo (4,7 mil toneladas). O avanço em volume deveu-se ainda a uma redução, em dólar, dos valores médios negociados, que baixaram de US$ 2.816 para US$ 2.233 por tonelada.

Todos os demais subprodutos da carne registraram quedas, com destaque para uma redução de praticamente 75% nas vendas de rabo bovino congelado. A participação da carne bovina nas exportações totais do Estado reduziu-se de 12,1% entre janeiro e maio de 2001 para 10,9% em igual período deste ano.

Goiáscarne consegue driblar retração

O frigorífico Goiáscarne, que sustentou em 2001 uma participação em torno de 28% nas exportações goianas de carne bovina, conseguiu preservar os mercados conquistados, mantendo os volumes embarcados praticamente nos mesmos níveis do ano passado. Segundo o diretor geral do frigorífico, Rodrigo Pena de Siqueira, a meta é manter o mesmo faturamento realizado no ano passado, ainda que às custas de algum sacrifício na margem.

Entre janeiro e abril, o frigorífico trabalhou com margens operacionais ligeiramente negativas, em função de uma queda média entre 15% e 20% nos preços de venda ao mercado externo. A disparada do dólar, a partir de maio, recolocou a empresa no azul. Numa estimativa aproximada, Siqueira calcula que, depois de trocar de sinal, a margem operacional passou para 4% positivos. Até o final do ano as exportações deverão alcançar um pouco além de R$ 50 milhões, aproximando-se de US$ 20 milhões.

Combinação de fatores

Os resultados estariam acima dos números realizados em 2000, antes do boom exportador motivado pela síndrome da “vaca louca” na Europa e pelos focos de aftosa que afastaram a Argentina do mercado internacional. Naquele ano as exportações renderam R$ 32 milhões, ou cerca de US$ 17 milhões. Em 2001 o faturamento externo saltou 72% em reais, para R$ 55 milhões, e 35% em dólares, chegando a perto de US$ 22 milhões a US$ 23 milhões. Nos mesmos 12 meses as exportações tiveram um peso de 44% no faturamento total do frigorífico, participação hoje na faixa de 39%.

Siqueira lembra que em torno de 95% dos embarques estão concentrados em peças rump and loins. A queda média em alguns contratos atingiu 12,2%, com a cotação baixando de US$ 4,1 mil para US$ 3,6 mil neste ano.

O frigorífico desfruta de uma situação particular no mercado internacional, com clientes cativos no Oriente Médio, Extremo Oriente, além de manter as vendas para a Suíça e o Chile. “Nossos contratos nos permitem manter os volumes de venda”, acrescenta o diretor.

Fonte: Gazeta Mercantil, adaptado por Equipe BeefPoint

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