Síntese Agropecuária BM&F – 28/02/05
28 de fevereiro de 2005
Ciência, mercados e políticas agrícolas
2 de março de 2005

Previsões do USDA para o mercado de carnes até 2014

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) elaborou um relatório com projeções para o setor agrícola até o ano de 2014. Essas projeções são baseadas em suposições específicas referentes a condições macroeconômicas, política, clima e desenvolvimentos internacionais.

As projeções apresentadas são um cenário representativo do setor agrícola na próxima década. As projeções foram elaboradas de outubro a dezembro de 2004.

Setor de produção animal

As projeções para o setor de produção animal para o período analisado refletem a forte demanda doméstica por carnes vermelhas. As exportações de carne bovina deverão aumentar com relação aos baixos níveis de 2004, que refletiram as preocupações referentes à Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), ou doença da ‘vaca louca’. As projeções assumem uma reconstrução gradual das exportações de carne bovina dos EUA ao Japão, refletindo o acordo fechado entre os dois países em outubro de 2004 que permitirá a retomada do comércio de carne bovina entre as duas nações (ver quadro abaixo). Apesar das exportações totais de carnes poderem se beneficiar com o forte crescimento econômico, as exportações de carne bovina dos EUA não deverão retornar aos níveis alcançados antes da descoberta de EEB no país em dezembro de 2003.

Retornos moderados na produção de carnes vermelhas levarão a somente ganhos pequenos na produção de carne bovina e suína na segunda metade das projeções. Os grandes ganhos na produção de carne de aves farão com que esta carne represente a maior proporção do total de consumo de carnes dos EUA, enquanto haverá declínio no consumo per capita de carne bovina e o consumo per capita de carne suína se manterá estável.


Suposições comerciais de referência para carne bovina e bovinos

Devido às incertezas referentes ao período de duração das barreiras no comércio de ruminantes e produtos derivados após a descoberta de casos de EEB nos EUA e no Canadá, as projeções para carnes são baseadas em uma série de suposições chave relacionadas ao assunto.

Exportações de carne bovina do Canadá

As exportações canadenses de carne bovina têm se recuperado dos baixos níveis atingidos em 2003 após a descoberta de um caso de EEB no país em maio desse ano, mas não se recuperou totalmente aos níveis de 2002.

Exportações de carne bovina dos EUA

O relatório assumiu a retomada das exportações de carne bovina dos EUA ao Japão no início de 2006, facilitada pelo acordo fechado entre os dois países em outubro de 2004. As importações de carne bovina dos EUA pelo Japão deverão crescer lentamente, à medida que a indústria norte-americana adote os requerimentos determinados no acordo.

O relatório também assume uma recuperação gradual das exportações de carne bovina dos EUA à Coréia do Sul.

Exportações canadenses de bovinos aos EUA

O relatório supôs que a retomada das importações pelos EUA de bovinos canadenses com menos de 30 meses de idade seria feita no começo de 2006. Entretanto, depois que as projeções já tinham sido preparadas, foi publicada a lei de risco mínimo que especifica as regulamentações do USDA sobre importações de carnes e ruminantes de regiões com efetivas medidas de prevenção e detecção de EEB. A lei se tornará efetiva em sete de março de 2005 e o Canadá será o primeiro país a ser reconhecido como região de risco mínimo.

Quando a lei de risco mínimo se tornar efetiva, as importações de novilhos e novilhas de menos de 30 meses de idade do Canadá para abate imediato e importações de bovinos de engorda que entrarão nos estabelecimentos de engorda dos EUA deverão levar a maiores níveis de abate de bovinos e produção de carne bovina nos EUA em 2005 e 2006, com alguma redução nos preços dos bovinos e da carne bovina. Os maiores fornecimentos de carne bovina também deverão pressionar os preços de outros animais e outras carnes.


A produção de carne bovina dos EUA está aumentando com relação aos severos declínios em 2003 e 2004. Apesar das perdas dos mercados de exportação devido ao caso de EEB registrado no país no final de 2003, a forte demanda doméstica por carne bovina resultou em retornos benéficos aos produtores que, juntamente com os favoráveis fornecimentos de forragens e grãos, começaram o processo de retenção de vacas e novilhas para expansão futura. Os rebanhos bovinos deverão aumentar para cerca de 95 milhões de cabeças em 2005 e 2006. Os maiores pesos ao abate aumentam a expansão gradual do rebanho durante o restante do período das projeções.

A tendência em direção a maiores sistemas de produção continuará durante o período analisado. Os ganhos em eficiência permitem que a produção se expanda, enquanto os preços reais geralmente declinam.

A forte demanda por carne bovina consistente e de alta qualidade continua no mercado doméstico de hotéis e restaurantes e está aumentando cada vez mais no mercado de varejo. Além disso, a reconstrução dos mercados de exportação de carne bovina é primariamente para cortes de alta qualidade. Crescentes movimentos em direção à identificação animal e transparência no comércio internacional fortalecerão as garantias de qualidade.


Os preços dos animais estão projetados para ficar em média um pouco menores do que os altos níveis atingidos em 2004, particularmente na segunda metade do período de projeção, quando o consumo per capita estabilizar em níveis recordes.


Os consumidores norte-americanos compram mais carnes, mas gastam uma menor proporção disponível da renda nessas compras, dando continuidade à tendência de longo prazo. Durante os próximos 10 anos, os gastos com carnes declinarão cerca de 2%, para 1,4% do rendimento.


Altos níveis de consumo per capita total de carnes estão projetados para a próxima década, refletindo em grande parte os contínuos aumentos no consumo de carne de frango. Em uma base de peso no varejo, o aumento no consumo per capita é para 106,141 quilos com relação aos 101,151 quilos em 2004. O consumo per capita de carne bovina permanecerá em níveis relativamente altos no período analisado, em parte porque as exportações, apesar do crescimento, não retornarão aos níveis de 2003.


As exportações de carne dos EUA durante o período analisado aumentarão com relação aos baixos níveis de 2004, que refletem as perdas de mercados devido a doenças animais, especialmente para carne bovina e de frango. O melhor crescimento econômico global e a maior demanda por carnes contribuem com os ganhos nas exportações. A recuperação gradual nas exportações de carne bovina a mercados como Japão e Coréia do Sul também é crítica. A projeção assume que o Brasil e a Argentina não serão reconhecidos como países livres de febre aftosa por importadores chaves, como o Japão.

As exportações norte-americanas de carne bovina refletem primariamente a demanda por carne bovina de alta qualidade, com a maioria das exportações sendo destinada a mercados das nações do Pacífico. Com a perda desses mercados após o caso de EEB nos EUA, no final de dezembro de 2003, as exportações de carne bovina dos EUA foram bastante menores em 2004. Entretanto, as exportações de carne bovina dos EUA deverão aumentar lentamente no período, à medida que o acordo entre Japão e EUA assinado em outubro de 2004 facilite a retomada do comércio de carne bovina entre os dois países. Também deverá ocorrer uma recuperação nas exportações de carne bovina dos EUA à Coréia do Sul.

As importações norte-americanas de carne bovina processada da Austrália e da Nova Zelândia deverão declinar no período à medida que mais carne bovina processada de menor qualidade esteja disponível de fontes domésticas com a reconstrução do rebanho bovino. Os EUA serão um importador líquido de carne bovina em termos de volume durante o período projetado, à medida que a recuperação das exportações de carne bovina de alta qualidade não atingirá os níveis anteriores.


O grande declínio nas exportações de carne bovina em 2004 reduziu a participação total das exportações sobre o volume total produzido de carnes de cerca de 11% em 2003 para menos de 8%, baseado em uma medida que pesa as exportações de carne bovina, suína e de frango pelos níveis de preços na fazenda. Enquanto as exportações de carnes dos EUA crescerão em importância no período projetado, o mercado doméstico permanecerá como a fonte dominante de demanda e as exportações somente se recuperarão para 10% do valor da produção.

Consumo per capita de carnes, peso no varejo (em quilos)


Gastos dos consumidores com carnes (em US$)


Fonte: Serviço de Pesquisa Econômica (Economic Research Service – ERS) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), adaptado por Equipe BeefPoint

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