Por Louis Pascal de Geer1
Como é bom ver as coisas bem feitas e isto quase sempre só acontece quando a gente realmente gosta do que faz e que também é a chave para agregar valor nos processos e nos produtos de maneira mais eficiente. Aliás, não existe coisa bem feita sem o tempero e pimenta do amor à camisa.
A Nestlé é um caso muito especial e um exemplo de agregar valor a partir da sua matéria-prima mais conhecida que é o leite de qualidade básica e mínima fornecido pelo um universo de produtores pequenos, médios e grandes, que é transformado em um grande número de produtos de qualidade excelente e com um valor agregado bastante significativo. E a qualidade de leite é premiada de várias maneiras.
Temos muito a aprender com esta brasileiríssima multinacional suíça que, ao contrário do que se passou no ramo dos frigoríficos, está operando tranqüilo no mercado brasileiro sem qualquer ameaça para a sua permanência aqui no País.
Buscou a tecnologia de produção de leite a pasto na Nova Zelândia, que é líder mundial neste assunto, e deu assim um apoio fundamental para os seus fornecedores.
Mas o que realmente faz a diferença é o vinculo da empresa com o seu consumidor final.
Matéria-prima altamente perecível e barata é transformada em produtos de alto valor agregado e com uma vida útil bastante longa, que dá segurança alimentar para o consumidor final praticamente desde o seu nascimento.
Uma preocupação constante está presente em facilitar ao máximo o preparo e manuseio dos produtos Nestlé e isto é uma atitude, um jeito de pensar e administrar que é visível em todos cantos e atividades da empresa e nos seus dirigentes como foi mostrada de maneira brilhante no leilão Zurita em Araras no dia 19/03/2005.
Fantástica com o glamour de celebridades, políticos, empresários e proprietários dos maiores frigoríficos, criadores e o gado Simental de origem sul-africano tanto na pista como no prato. Um show de competência e marketing que agregou valor para todos os participantes do evento.
Que contraste brutal com a nossa realidade na pecuária de corte e os frigoríficos!
Parece-me que os frigoríficos precisam se re-inventar e ir bem além do corned-beef, e outros produtos industrializados de baixo valor agregado e de qualidade e sabor às vezes questionável.
Tem um mercado enorme para o extrato de carne, caldo de músculo que é mal explorado; estes são vendidos para outros agregarem valor para os produtos que são básicos para as nossas crianças e idosos.
Aliás a tragédia é que, na realidade, os frigoríficos são compradores e vendedores de matéria-prima.
Está na hora de contratar universidades para olhar as possibilidades de aumentar o número de produtos através da tecnologia de alimentos. Desenvolver produtos com preparo e manuseio fácil para o consumidor final e com sabor e qualidade em todos os seus produtos.
Fazendo isto pode-se pagar melhor pela matéria-prima e otimizar os resultados dos frigoríficos.
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1Louis Pascal de Geer atualmente é consultor, trabalhou durante 28 anos para Agropecuária CFM Ltda, se aposentando como vice-presidente da empresa.
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O artigo “Agregar valor” defende exatamente o que venho reiterando em artigos como o publicado no Espaço Aberto deste BeefPoint como: AGRONEGÓCIO DA CARNE NA BAHIA: UMA VISÃO DE PRODUTOR e outros em Cartas do leitor, inclusive a mais recente sobre o atual editorial que diz respeito à negociação entre frigoríficos e produtores.
Somente com a evolução tecnológica dos frigoríficos passando de unidades desmontadoras de carcaça para indústrias transformadoras desta rica matéria prima que é o boi gordo, agregando valor e utilizando mais e melhor os subprodutos, poderemos conseguir o valor justo pela produção da arroba da carne, o que estamos urgentemente precisando, sem afugentar e onerar o consumidor.
O caminho é esse. Às vezes o óbvio é difícil de compreender ou, talvez, não interessa ser compreendido.
Vamos estimular o fluxo das idéias em prol da continuidade e viabilidade deste setor, pecuária de corte, gerador de emprego e renda nos rincões do interior e, por conseguinte fator importante para conter o êxodo rural motivador dos inchamentos urbanos dos grandes centros que resultam nas degradantes cenas que todos os dias enxergamos nas paradas dos semáforos, embaixo dos viadutos e no aumento das páginas policiais dos jornais.
Só o campo pode viabilizar a cidade.
Olá Roberto,
Obrigado pelo seu comentário, e é realmente lamentável o que você descreveu sobre os pequenos fornecedores de leite no Nordeste na época da URV, e tem muita gente quem errou feio naqueles tempos passados, porém eu procurei enaltecer as boas coisas que vejo hoje no Nestlé sob um comando brasileiríssimo.
Meu pedido é para que os frigoríficos se re-inventam e procuram agregar valor em todos os produtos e processos e obviamente incluindo aí os seus fornecedores e consumidores finais.
Louis Pascal de Geer
Olá Paulo,
Obrigado pelo seu comentário e vamos continuar a defender a mudança de desmontador de carne (gostei do termo) para o de transformador de matéria prima.
As universidades podem ajudar muito em isto, desde que haja interesse dos donos dos frigoríficos.
Eventualmente o Frigorífico experimental que o Embrapa vai montar em Campo Grande -MS pode dar uma enorme contribuição.
Louis Pascal de Geer
Prezado Sr. Louis,
Reescrevendo o último parágrafo de seu artigo, excelente e oportuno: “Está na hora de contratar universidades para olhar as possibilidades de aumentar o número de produtos através da tecnologia de alimentos. Desenvolver produtos com preparo e manuseio fácil para o consumidor final e com sabor e qualidade em todos os seus produtos”, gostaríamos de aproveitar seu raciocínio e fazer algumas considerações.
É fundamental que as universidades e o setor produtivo estabeleçam uma aproximação, já que o ensino superior está “preparando” profissionais para atuarem neste mercado. Está mais do que na hora de nós, pesquisadores, estudantes, membros do corpo formador de opiniões, pensamentos e tecnologias, trabalharmos mais próximos às indústrias e aos produtores. Há carência de profissionais com senso crítico, capazes de identificar falhas no sistema produtivo, planejar e realizar soluções.
A universidade tem um compromisso com a sociedade, por ser a principal responsável no desenvolvimento de pesquisas e tecnologias, para que o setor de produção possa atender às exigências do mercado com qualidade e competitividade. Entretanto, há uma distância entre a universidade e a indústria, estabelecida pela falta de comunicação entre essas instituições, o que atrasa o desenvolvimento tecnológico, econômico e social do país.
Por parte das universidades, as portas estão abertas para parcerias com o setor produtivo, de modo que os profissionais formados tenham maior experiência, conhecimento aplicado e as pesquisas tenham maior reflexo na melhoria da produção comercial.
Angélica Simone Cravo Pereira
Amaury Valinote
Universidade de São Paulo
Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA-USP)
Olá Angélica,
Muito obrigado pelo seu comentário e, sem duvida nenhum os laços entre as universidades e todos os segmentos da nossa sociedade deverão ser expandidos e fortalecidos.
Programas de estágio em frigorificos e supermercados poderião fornecer dados valiosos para os novos rumos da área de tecnologia de alimentos.
Tambem um link entre os serviços de inspeção federal (SIF) e as universidades seria aproveitosa para ambos.
No meu ver tem muito serviço a ser feito, e precisamos dar os primeiros passos.
Boa Sorte.
Louis Pascal de Geer