Ontem, depois que os industriais de carne do Rio Grande do Sul apresentaram números sobre as cargas de gado vivo enviadas para o Oriente Médio, o governador Germano Rigotto decidiu marcar uma reunião de urgência com o secretário do Desenvolvimento, Luís Roberto Ponte, e com dirigentes do Banrisul, do BRDE e da Caixa RS. O objetivo é encontrar formas de financiamento que permitam aos produtores reter o terneiro para engorda, ganhando até 200% no peso do animal.
Rigotto mostrou preocupação e prometeu agir ainda hoje. Para o secretário-executivo do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados do Rio Grande do Sul (Sicadergs), Zilmar Moussale, a situação é insustentável e está obrigando os pecuaristas a venderem os terneiros por até R$ 1,54 o quilo para fora do Brasil, enquanto o valor médio dos remates no estado é de R$ 1,72.
O dirigente lembra que um terneiro está sendo exportado na faixa de R$ 230. Se fosse engordado durante 15 meses, com ganhos de peso de 800 gramas mensais, chegaria a 480 quilos, 200% mais pesado, e resultaria em um faturamento de R$ 800 ao produtor.
“Como está sem pastagem e recursos para formação de forrageiras, o produtor vende para o mercado externo para fazer capital. Com isso, ameaça a situação da indústria”, aponta Moussale.
Na avaliação do presidente do Sicadergs, Mauro Lopez, além de agravarem a escassez de matéria-prima para abate, os embarques afetam o próprio estado, que isenta a operação de tributos. “A idéia não é cancelar as vendas, mas criar mecanismos para que o problema seja atenuado”, explicou.
O presidente da Associação Rural de Pelotas, Elmar Carlos Hadler afirma que não há motivos para a indústria se preocupar com a falta de matéria-prima. “Em um estado que produz 3,2 milhões de terneiros anualmente, 30 ou 40 mil se tornam uma gota no oceano”, comparou. Ele contou ainda que até o fim deste ano já estão programados mais dois embarques.
O secretário da Agricultura, Odacir Klein, disse reconhecer que a operação não gera valor agregado para o RS. “Não temos como proibir as exportações. Vamos, porém, estimular a permanência de terneiros no RS”, afirmou. Segundo ele, na próxima semana haverá reunião com a cadeia para discutir os mecanismos ideais.
“O produtor tem consciência de que esse tipo de negociação não agrega valor ao animal, mas enquanto recebíamos R$ 1,20 por quilo, os libaneses nos pagam até R$ 1,50 o quilo e neste momento o produtor descapitalizado não tem condições de segurar o animal. Assim que a situação do mercado for normalizada, provavelmente essas exportações cessarão”, afirmou Hadler.
A atual situação obrigou dois frigoríficos a suspenderem temporariamente os abates nas últimas semanas: o Extremo Sul, de Capão do Leão, e o JG, de Caçapava do Sul. Tudo por falta de boi gordo para abate. Se não houver uma solução, os industriais calculam que até 150 mil animais rumariam para o Exterior até o final do ano. “De cada animal que sai em pé daqui, R$ 160 deixa de circular na economia gaúcha. Isso sem contar o valor do bovino”, destaca Moussale.
De acordo com ele, a ociosidade do setor frigorífico passou de 35% para 45% desde o início da estiagem. “Já não há mais gado para ser abatido”.
Os embarques para o Oriente Médio começaram no final de março, quando 8,5 mil cabeças de gado vivo deixaram o Porto de Rio Grande. Segundo o Sicadergs, serão embarcados 13 mil animais para o Líbano, provavelmente ainda este mês. A entidade calcula que o negócio movimentará cerca de R$ 3,5 milhões.
Fonte: Zero Hora/RS, Correio do Povo/RS e DCI (por Martiane Welter, Márcio Rodrigues e José Guerra), adaptado por Equipe BeefPoint
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Sou agropecuarista e dirigente sindical no RS.
Pena que o Sicadergs não repassou ao governador Rigotto, que os preços do boi gordo no RS, durante os últimos 12 meses se equivaleram aos do Pará. Sendo que o RS está junto aos grandes centros consumidores e é zona livre de aftosa com vacinação; que desde o início do plano real (Julho 94) até agora o boi gordo-RS foi reajustado em 88% e o IGP.Di teve variação de 258%.(O produtor está com 1/3 do seu poder de compra).
Tenho o maior apreço pelos colegas pecuaristas do Pará, faço este comparativo, para demonstrar a arrogância da indústria da carne, que só consegue visualizar o seu negócio e não a cadeia produtiva.
Se o produtor está vendendo boi abaixo do custo de produção, se os quilos acrescidos ao boi na engorda custarão mais do que a remuneração final, isto a eles pouco importa.
Uma das poucas formas de forçar a indústria a remunerar melhor o produtor, é exportar animais vivos, e assim reduzir a oferta de forma definitiva e não amenizada por retenção. Pelo tamanho do berro, parece que o produtor está no caminho certo.
Outro comparativo, se a filosofia do Sicadergs fosse a correta, também deveria ser desestimulada a venda de soja em grão. Entretanto, o que percebemos é uma disputa saudável do mercado interno e externo pela soja, fazendo com que o preço desta tenha balizamento mundial.
A saída de animais vivos do país em minha opinião se constitui em uma modalidade nova de mercado e que deve ser incentivada e não retalhada pois, no atual cenário da pecuária brasileira somente o enxugamento das ofertas podem trazer de volta a estabilidade do mercado.
Caros amigos leitores, sinto-me indignado com a citação do Sr. Zilmar Moussale, diz ele “os produtores estão se obrigando a vender o terneiro a R$ 1,54 enquanto a média do estado é R$ 1,72”.
Verdade tem que ser dita, a média no estado não passa de R$ 1,50 o quilo vivo.
Outra coisa, grande parte das vendas de terneiros são realizadas por produtores que sobrevivem da venda como única renda na propriedade. Por isso são obrigados a vender, mas no preço de mercado que hoje é menor que o preço pago para exportação.
O preço para o quilo do terneiro praticado no mercado, é influenciado pelo preço do boi gordo e não aumentará enquanto houver o monopólio de uma indústria em especial, que hoje praticamente “manda” no estado.
A venda de terneiros para o exterior, influenciará a oferta de gado gordo nos próximos anos? Tomará que sim. Pois só assim os produtores vão ter uma melhor remuneração, e a partir daí irão começar a ganhar dinheiro, porque ano após ano no vermelho, não dá mais!
Cesar Palma
Produtor de Terneiros e Estudante Universitário
Aí está.
Não importa o resultado efetivo da operação em si, a despeito de parecer muito mais vantajosa para o produtor a exportação.
Só sei que o embarque dos animais está deixando os industriais apavorados. No fundo eles sabem que, ao longo do tempo, assim que este processo se consolidar, o resultado final será uma pressão, indiscutível, de alta nos preços.
Ganharão, assim, os produtores. Sorte deles que lá, no Rio Grande do Sul, eles estão contanto com a existência deste mercado de exportação para o Líbano.
Depois de tantos anos sendo explorados pelos industriais, isto em função dos preços no Rio Grande, nos últimos anos apresentarem preços, vergonhosamente, baixos, parece que agora a coisa já começa a apresentar uma possibilidade de mudança.
Ao meu ver, os produtores deveriam continuar exportando pesadamente seus animais.