No Rio Grande do Sul, em reunião da Câmara Setorial da Carne Bovina, na tarde de ontem, pecuaristas e frigoríficos começaram a se entender a respeito da exportação de boi em pé para o Líbano. Por sugestão do secretário da Agricultura e Abastecimento, Odacir Klein, os dois segmentos marcaram encontro para quarta-feira, quando tentarão encontrar alternativas à manutenção do gado no estado.
“O produtor rural não pode se descapitalizar e a indústria necessita de matéria-prima, por isso tem de haver consenso”, aconselhou o secretário.
Na semana passada, o governador Germano Rigotto e Klein debateram com representantes dos frigoríficos mecanismos que possibilitem agregar valor ao produto no estado. A preocupação do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do RS (Sicadergs) é que a venda do rebanho vivo se torne rotina.
Os pecuaristas reivindicam a manutenção das vendas internacionais, com o argumento de que o negócio não chega a influir no mercado local. Antes da aftosa, o estado enviava 500 mil cabeças por ano para Santa Catarina e nem 20% desse número vai para o Oriente Médio, calculou o presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Federação da Agricultura do RS (Farsul), Fernando Adauto.
Os impactos econômicos e sociais da exportação de terneiros para o Líbano sobre a cadeia produtiva do RS, risco de desabastecimento de carne no mercado, prejuízo aos frigoríficos e desemprego nas indústrias do estado, oportunidade de recuperação aos pequenos produtores gaúchos e bom negócio para o setor. Estas são algumas das questões que serão debatidas durante reunião extraordinária da Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo (Capc) da Assembléia Legislativa, hoje às 9h, na Câmara de Vereadores de Pelotas.
No mês de março, pecuaristas da Metade Sul exportaram ao Líbano dez mil novilhos pelo porto de Rio Grande, transação que movimentou US$ 4 milhões. Na próxima semana, ocorre novo embarque para aquele país de mais dez mil animais, que se encontram confinados no parque de exposições da Associação Rural de Pelotas (ARP).
A reunião será uma oportunidade para que a exportação de terneiros vivos seja observada criteriosamente, segundo o presidente da Capc, deputado Elvino Bohn Gass (PT). “É preciso observar alguns aspectos antes de termos conclusão sobre o assunto”, observou.
Representantes de indústrias de carne temem a falta de animais para abate, de subprodutos como o couro e sebo para outras indústrias, redução da arrecadação de impostos e de empregos, como conseqüência da prática de venda dos animais vivos ao mercado externo.
Representantes da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e de alguns sindicatos rurais alegam que o preço pago pelos libaneses, em torno de R$ 1,56 por quilo vivo mais reembolso das despesas de frete, é muito superior ao oferecido pelo mercado gaúcho, que oferece, em média R$ 1,40 pela mesma quantidade de carne.
Gass alertou para a necessidade de checagem dos números referentes à quantidade de animais disponíveis para abate no RS. “Pela CPI das Carnes, da qual fui vice-presidente, conhecemos o tamanho da informalidade na cadeia de carnes gaúcha. Por isso, os valores reais do abate no estado devem ser aferidos observando também a clandestinidade”.
Fonte: Diário Popular/RS, adaptado por Equipe BeefPoint