Nesta terça-feira (24), quando é comemorado o Dia do Churrasco, vale a pena contar pela primeira vez em um veículo brasileiro, como funciona o maior campeonato de churrasco do mundo, no Tennesse, nos Estados Unidos, onde a qualidade das carnes, a excelência dos preparos e o profissionalismo dos churrasqueiros são exaltados ao máximo.
Nem os dois graus negativos, a chuva e o vento frio são capazes de desanimar as cem equipes de mestres churrasqueiros de 24 países instalados em traillers e motor homes na pequenina cidade de Lynchburg, no Tennessee.
(Divulgação/Reprodução)
Todos determinados a levar para casa o prêmio de US$ 10 mil e o título de Melhor Churrasqueiro da maior competição de churrasco americano do Mundo, a Jack Daniel’s World Championship Invitational Barbecue, que acontece há 30 anos, sempre no último final de semana de outubro.
Existem inúmeros campeonatos menores espalhados pelos cinco continentes, mas o The Jack, apelido dado ao evento, é certamente um dos mais disputados pela seriedade e profissionalismo.
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Durante três dias e três noites, no imenso gramado da destilaria da Jack Daniel’s, sem nenhum conforto e ao ar livre, americanos, canadenses, irlandeses, ingleses, alemães, franceses, italianos, suíços, australianos e muitos outros homens e mulheres fazem moradia, defumam toneladas de carnes e trocam experiências apesar das diferenças de língua e cultura.
Vale a pena explicar: o churrasco americano ou smoked BBQ é uma técnica de preparo de carne por meio de defumação durante muitas horas dentro de um equipamento chamado pit, smoker ou defumador.
A fumaça quente de lenhas frutíferas dá um sabor especial e é capaz de tornar macia até os mais duros cortes bovinos, como o peito, chamado de brisket, uma das iguarias desse método de cocção.
Como o The Jack acontece na época de Halloween, a tradicional decoração invade todos os espaços – até mesmo na tenda da equipe do Japão, que competiu pela primeira vez em 2017. As abóboras, o feno e muito churrasco dão o tom e o aroma da festa.
Como começa
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Na tarde anterior ao grande dia, a organização da Kansas City Barbeque Society, KCBS (maior entidade de churrasco do mundo), chama os juízes para uma conversa.
Ao lado de Daniel Lee, o primeiro juiz brasileiro da KCBS e um dos maiores especialistas em carne, acompanhei todo o encontro. É tudo muito sério e cada pontuação é muito criteriosa.
Por volta das 21h, é dada a largada e as equipes começam a preparar o que irão servir no dia seguinte. Neste momento, o silêncio toma conta do espaço e os pits (defumadores) começam a soltar muita fumaça, um sinal de que a festa deu lugar à disputa.
Todos passam a madrugada acordados, cozinhando, temperando, experimentando, cortando e montando os pratos que irão servir a partir das 11h30 do dia seguinte.
Cada equipe compete em sete categorias: Costelinhas de porco, Carne de porco, Brisket (peito bovino), Frango, Sobremesa, Cook’s Choice (comida típica) e Jack Daniel’s Sauce (molho).
Na hora, tudo é avaliado: o sabor, a apresentação e a harmonização dos acompanhamentos. É uma briga de gigantes.
O grande dia
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A hora da entrega é emocionante. Na arquibancada da tenda principal, onde os juízes e organizadores ficam a postos para receber e avaliar cada prato, o público se aglomera e vibra a cada entrega.
As equipes chegam carregando bandejas, fazendo barulho com apitos e gritos de guerra e o público aplaude em pé a fim de dar uma espiadinha no que será servido.
Quando a última bandeja é entregue, os competidores se abraçam, choram e comemoram. Afinal, muitos deixaram suas famílias do outro lado do mundo, faltaram ao trabalho ou economizaram dinheiro o ano todo para viver aquela experiência.
Ainda sobre o público, um detalhe chama a atenção: Lynchburg é dry country, ou seja, é proibido vender bebida alcoolica por lá. Por isso, é raro ver os turistas que acompanham a premiação bebendo porque é preciso levar e armazenar o próprio estoque.
E há muito respeito com a regra – eu não bebi e só vi duas pessoas bebendo vinho e cerveja socialmente numa área isolada.
Tem muita família que leva os bebês – e até os pets – fantasiados.
Em suas mesas, os juízes fazem movimentos quase coreografados: experimentam, puxam, mordem de canto de boca, cheiram, olham, voltar a morder e, por fim, escrevem suas notas em um papel.
Os movimentos se repetem toda vez que um prato novo chega à mesa, por horas. E nada é desperdiçado. O que sobra e não foi experimentado, vai para a plateia – ou para curiosos como eu, no cercadinho da organização.
Provei o melhor frango da minha vida: a carne macia e suculenta com uma pele que desmanchava na boca e um molho adocicado que garante o brilho na peça.
O grande vencedor
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No final da noite, após 24h de muito trabalho, sai o resultado. E foi muito emocionante ver o churrasqueiro Walt Moulton subir ao palco ao lado da mulher com a filhinha do casal no colo para ficar com o grande prêmio.
Desbancando profissionais renomados do mundo do churrasco, a família, que forma a equipe Rocky Top Barbecue, participava do The Jack pela segunda vez.
Os sabores do smoked BBQ, ou churrasco americano, já conquistaram milhares de adeptos no Brasil, mas ainda tem muita gente que torce o nariz para a combinação de doce com salgado ou o gostinho de defumado que fica na carne.
Por isso, a participação de uma equipe brasileira só está sendo planejada agora pela entidade Pitmasters Brasil, criada por Daniel Lee. Três competições nacionais já foram realizadas em 2017 com 30 churrasqueiros de todo o País.
Os próximos passos da entidade são, em 2018, formar mais juízes brasileiros e criar uma equipe forte para representar o Brasil na 30ª edição do The Jack.
Fonte: Reportagem de Paty Moraes Nobre, para a revista VIP.