Empresas investem em propaganda e lançamentos
3 de junho de 2005
RO: Frigoalta negocia dívida com produtores
7 de junho de 2005

Novela América, o planeta “country”

Por José Luiz Tejon Megido1

Arre, xo, chega tche! Tudo bem. Gosto de música “country” americana. Nada contra. Mas a cidade de boiadeiros da novela América da Rede Globo é uma galáxia de Nashville. Todo mundo está o tempo todo cantando e dançando “country music”. Que raio de lugar é esse? Pelo amor de Deus, volta Sérgio Reis, Almir Sater, Rolando Boldrin, Borghetinho, mineiros, goianos, nordestinos, pessoal da viola do caterete. Até Chitão e o Xororó!

Quem só anda aqui pelos lados da “cidade grande”, olha essa novela, vai achar que o interior brasileiro é a maior festa “country” do planeta. Estive na capital da música country do mundo, nos Estados Unidos: Nashville, pelo menos uma meia dúzia de vezes. Nunca vi as pessoas dançando country pelas ruas, e shows somente os bem pagos para turistas nos salões ou na “countrylândia” local. Uma espécie de Disneylândia da música country.

Impossível não imaginar que não exista uma operação da indústria fonográfica country para inundar o Brasil com o seu modelo.

Se essa coisa pegar, não passaremos mais por Itumbiara, Rio Verde, Rondonópolis, Vilhena, Ribeirão Preto, Uberaba ou Passo Fundo sem aprender a cantar, dançar e agir, no mais perfeito “american country way”.

Curiosamente esta poderosa invasão cultural, num dos mais espetaculares tempos dedicados de “merchandising” já vistos, ocorre exatamente quando o Brasil passa a ser reconhecido e percebido, como pais de primeiro mundo no agronegócio (ou agribusiness para quem gosta mais de country). A carne brasileira domina o planeta. E domina exatamente por ter sido mantida tropicalizada, ao longo de toda sua história. Do boi Nelore, cruzamentos de raças, do gado europeu nos pampas gaúchos, e preservada a sua espetacular ração natural. Boi brasileiro come capim. Come fotosíntese. Não tem vaca louca.

Realmente deixamos a época “Jeca Tatu” bem distante, utiliza-se tecnologia e a música do interior também incorpora esta evolução.

Alguém poderá sempre dizer, até que ponto essa chamada música “sertaneja” que faz sucesso no Brasil é representativa das raízes? É híbrida eu diria. Como a tropicália misturando o trópico com o rock. Tem arte e melodias lindas e tem porcarias comerciais. Mas é fruto desse contraste nacional.

Sem dúvida Almir Sater, Renato Teixeira, Sá, Guarabira são distintos de centenas de duplas sertanejas que andam por aí. Mas não importa. Não falamos de “xenofobia” ou preconceitos. O country também é uma bela expressão musical.

Porém, o que intriga e me deixa perplexo é o resultado de tamanha exposição de um modelo só. À quem interessa isso? Não posso crer que a autora de América acredite que exista uma cidade brasileira assim. Ou que deva existir.

Abre a cena em Boiadeiros e , todo mundo no maior “country”, dançando à moda da “quadrilha americana”, o tempo todo. Até lindas “boiadeiras” de maiô!?

Ou os gaúchos bravos da fronteira e os movimentos de raízes nos salvam, ou acho melhor começarmos a produzir e exportar música country também. Aí sim, nossos irmãos do hemisfério norte ficarão mais furiosos tendo de competir não só na soja, no boi, no algodão, milho, laranja cana, porco, frango… Mas também numa das indústrias que mais vendem nos Estados Unidos. Música “country”.

Isso é agronegócio também, mas só interessa se for para exportação.

________________________________
1José Luiz Tejon Megido, Presidente da ABMRA – Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio

Artigo originalmente publicado no Jornal da Tarde, reproduzido com autorização do autor.

Os comentários estão encerrados.