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As barreiras do governo ao agronegócio

“A fantástica extensão do Brasil é imensamente favorecida pela natureza. Seu destino está ligado à riqueza do seu solo. Os campos estão à espera de serem cultivados e as matérias-primas de serem exploradas e transportadas para as fábricas. O País deve ser agrícola e industrial; deve não apenas emancipar-se do exterior, mas também exportar o excesso de suas necessidades de consumo; nenhum produto deve pesar na balança como débito com os países estrangeiros, porque tudo o Brasil pode produzir”.

A frase transcrita acima foi proferida pelo criador do maior império empresarial da América Latina, Francisco Matarazzo, no transcorrer da sua vida (1854 – 1937). Felizmente, Matarazzo não viveu o suficiente para testemunhar as dificuldades e os desafios que o agronegócio enfrenta hoje, e como nunca antes.

O Ministério da Agricultura está embrulhado em negociações com diversos países como Rússia, Estados Unidos, Israel e China, além da União Européia e enfrenta sérios problemas de ordem orçamentária e de recursos humanos para atender as “exigências” desses países e manter as exportações do setor nos atuais níveis de comércio.

A lentidão excessiva e recorrente com que são tomadas e administradas as decisões no âmbito do Ministério da Agricultura já é objeto de reclamação de diversos setores que compõem o agronegócio nacional e evidencia um fato ainda mais preocupante: o agronegócio não é prioridade no atual Governo.

Recentemente, o Secretário de Desenvolvimento Agrário, Portocarrero, admitiu problemas na gestão de pessoal naquele Ministério, mas contemporizou em seguida: “O pessoal não gostou porque a Secretaria de Defesa Agropecuária não estava presente, mas isso é só uma questão de pôr ordem nas coisas”.

Bom, verifico dois problemas nesse caso. O Senhor Secretário, além de tentar administrar as diversas frentes de batalha que, creio eu, já lhe consomem muito tempo – exatamente por “as coisas estarem fora da ordem” – terá, ainda, que contornar vaidades, conflitos e conferir outra forma de gestão aos trabalhos afetos à sua pasta, que respingam nas demais.

Na quinta-feira passada, foi publicada no jornal “The New York Times” vasta matéria sobre as potencialidades do Brasil no setor agrícola e com afirmações de que o Brasil, em breve, será o celeiro do mundo e maior provedor de alimentos para a população mundial. Desejo estar equivocado, mas, da forma como o Governo Lula vem tratando o agronegócio nacional, o respeitado jornal pode estar incorrendo em erro.

Reitero, o agronegócio deixou de ser prioridade para o partido que hoje governa este País e cedeu seu lugar para a agricultura familiar, que, ao longo destes dois anos e seis meses de Governo, foi mais beneficiada do que a agricultura de precisão, do conhecimento, que gera renda, empregos e saldo na balança comercial.

Prova disso é que, neste ano, o Produto Interno Bruto da agricultura deverá recuar 6,6%, ante o ano passado. A crise do setor agrícola terá impactos nos demais setores da economia. A retração de R$ 10 bilhões no PIB da agropecuária causa uma redução adicional de outros R$ 25,6 bilhões no PIB de outros segmentos econômicos, tais como de beneficiamento, transporte e comercialização. De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil a crise no campo se traduz numa queda de R$ 35,6 bilhões no PIB total do Brasil, em 2005.

Desejo alertar que, para desviar o foco de atenção dos problemas já enfrentados no Congresso Nacional, no seu próprio Governo e na agricultura com a ida do tratorasso a Brasília o Presidente da República anunciou, na sexta-feira passada, recursos da ordem de R$ 44,35 bilhões para o Plano Safra 2005/2006. Em nada adianta anunciar esse montante, ainda insuficiente para o tamanho do agronegócio nacional, se a maior parte é concedida ao produtor sob a forma de juros livre, ou seja, com a aplicação de juros do mercado financeiro. Além disso, por vezes a cifra anunciada não é liberada por razões das mais variadas, inclusive pelos tão conhecidos contingenciamentos impostos pela área econômica do Governo Federal.

O Ministério da Agricultura deve impor a si mesmo o sucesso das suas iniciativas. A fragilidade e dependência de ação de outros órgãos e Ministérios, geridos por “companheiros”, vem deixando lacunas que dificilmente serão sanadas com o atual tratamento dispensado aos temas de maior relevância para o setor.

0 Comments

  1. Bruno de Jesus Andrade disse:

    O termo burocracia tem como significado um modo de administração em que os assuntos são resolvidos por um conjunto de funcionários sujeitos a uma hierarquia e regulamentos rígidos, desempenhando tarefas administrativas e organizativas caracterizadas por extrema racionalização e impessoalidade.

    Mas é claro que o que vemos hoje é a pior face da burocracia, lenta, morosa, as vezes passando por mãos despreparadas dando uma aparência de total desorganização ao processo, o contrário que a teoria prescreve.

    Vencido esse passo, pertinente a todos os governos, temos que ter bem definidos os nossas próximas etapas.

    Acredito ser possível aliar o crescimento social com o aumento das exportações mantendo-se para isso uma rede altamente precisa para resolução de problemas. A agricultura familiar é de extrema importância, pois são cidadãos brasileiros precisando crescer para não serem engolidos.

    Aos grandes produtores deve também ser dada devida atenção, pois serão estes que manterão nossa balança comercial favorável.

    Entretanto, por falta de experiência de governo, eu acho, nossos ilustres moradores de Brasília, alguns, tem colocado os pés pelas mãos em sua últimas decisões, ou as vezes nem se importado ou feito qualquer manifestação.

    Nós como brasileiros e envolvidos com o meio rural, seja a agricultura familiar ou o grande latifundiário precisamos ficar de olhos abertos e lutar por aquilo que achamos justos, mas não de forma individual e sim como parceiros.