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Na fogueira da insensatez

Por José Luiz Tejon1

A Polícia Federal levanta a sujeira nacional e os inquisidores ligam seus ventiladores! Precisa organizar essa Santa Inquisição tropical.

No dia 1o de novembro de 1478, o papa Sisto IV assinou uma “bula”, fundando uma nova Inquisição na Espanha. Os Reis católicos espanhóis poderiam nomear três inquisidores (religiosos ou clérigos seculares com mais de quarenta anos, bacharéis ou mestres em teologia, licenciados ou doutores em direito canônico). Botaram um monte de gente que não interessava ao “status quo” nas fogueiras. De efeitos nefastos, a Santa Inquisição fez arder no fogo iluminados visionários da época e outros alucinados dementes. Preconceituosa, matava com seu braço secular povos de outras raças, fidalgos rebeldes ou bruxos de todas as estirpes.

Aqui no patropi acendemos todas as fogueiras de uma vez só (onde há fumaça há fogo). O problema é que o país ficou entusiasmado pela sede da limpeza ética e o principal emprego que todos almejam é o de virar modernos inquisidores. Em palavras atuais: “eu também quero a minha CPI”. Ficamos, toda a sociedade, observadores dos deprimentes espetáculos de inquéritos no poder legislativo. Gente bebendo do próprio veneno, cobra matando cobra (qual deles não pecou para poder atirar a primeira pedra?). Se for assim arrumem um Ministério das CPI´s, nomeiem meia dúzia de Santos Inquisidores em regime permanente, mas coloquem todo o resto para trabalhar. Trabalhar duro e intensamente por um país que não pode ser vítima da sua própria insensata autofagia.

Os contrastes e a falta de assimetria são brutais e ridículos. Os novos governantes, oriundos da luta contra a “repressão”, de repente assumem o poder. E, o que fazem? Agem como cachorro que sai latindo atrás do carro na estrada.

Uma hora o carro para. E agora, José? Outro dia fiz essa experiência voltando do sítio. Três cachorros saíram latindo atrás do carro. Decidi parar e ver o que fariam. Curioso: um deles deu meia volta imediatamente e foi embora. O outro ficou parado olhando. E, o terceiro, aproximou-se do pneu e fez “xixi”. Cachorro sem-vergonha. Infelizmente o mundo moderno não dá mais tempo para percorrer todo o processo histórico. Não dá para correr atrás do carro e depois fazer “xixi” na roda. É insuportável em 2005 ouvirmos discursos iguais aos da época dos nossos Diretórios Acadêmicos no período da ditadura.

Na fogueira da insensatez, um governo com tantos inimigos internos, não carece de oposição. Ela já vem embutida na antítese da sua tese. Tenho medo dessa síntese.

Essa parafernália toda gera o efeito borboleta. Para todo lado vai sobrar insensatez. A justiça liberta a Suzane, filha dos Richthofen, confessadamente participante da chacina dos seus pais, e manda para uma cadeia de segurança máxima Edinho, filho do Pelé. No reino das cervejas toda a diretoria do passageiro caso de amor do rei do pagode foi em cana. Coisa esquisita. “Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão!” Será? Se for assim a carreira de Agente de Segurança Penitenciário será uma das mais promissoras do país.

O PMDB rachado continua em cima do muro. Os partidos parecem formigueiro sem rainha. Secretárias, ex-esposas, motoristas, todos retornam ao palco das televisões e dos jornais. O agronegócio promove novo tratoraço. Os sem agronegócio espreitam. As únicas autoridades respeitadas são aquelas não conectadas com os partidos políticos… (sinal dos céus?).

No lado da criminalidade a coisa também não está mole não. Se o ladrão não souber escolher a facção, pode acordar com a cabeça na mão – do outro! Benditos sejam os sinais dos céus.

Vamos beijar a realidade para fugir da insensatez.

O Presidente Lula segue amado pela maioria dos brasileiros. Continua sendo a esperança de milhões e respeitado no exterior. Nossos indicadores econômicos ainda estão saudáveis. Temos lideranças competentes e brasileiros íntegros em diversas instituições. O que salva uma nação é a lucidez: MP do bem, imediatamente. Déficit nominal zero do Delfim, urgente. Em Tróia, quem era contra ficar com o cavalo dos gregos foi morto pelos outros. Não é novidade a tal insensatez. Aconteceu, acontece e acontecerá. Ore-mos:

Deus nos livre da vaidade dos homens brasileiros. Proteja as mulheres, Santa Dilma!

Brasil nosso, único país do mundo com nome de madeira. Não merecemos arder na fogueira.

Afasta de nós a insensatez. Sr. Deus, todo poderoso, não somos Robinho nem Ronaldinho.

Não temos para onde ir. O povo brasileiro vai ficar aqui.

Livrai-nos do mal… Amém.

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1José Luiz Tejon é Mestre em educação, arte e história da cultura pelo Mackenzie. Professor do MBA ESPM e da FGV. Autor do livro o Vôo do Cisne. Presidente da ABMR&A.

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