Reprodução programada de touros jovens: retrospectiva
12 de julho de 2005
Brasil exporta mais carne e fatura menos com soja
14 de julho de 2005

Paraguai: entrada de gado vivo no Brasil é liberada

A SFA (Superintendência Federal de Agricultura) de Mato Grosso do Sul recebeu ontem do DSA (Departamento de Sanidade Animal), em Brasília, mensagem comunicando a liberação da entrada de animais em pé do Paraguai e carne com osso. A medida é resultante do pleito do país vizinho, que ameaçava recorrer à OMC se o veto, imposto em 2002, persististe.

O superintendente federal de Agricultura, José Antônio Felício, explicou que o fim do veto tem restrições. A abertura ocorre para animais de reprodução e para participação em exposições, ainda assim observando quarentena de 30 dias no Paraguai e outros 30 dias no Brasil. Também foi admitida a importação de carne com osso, excluindo o estado de Santa Catarina como destino.

Felício disse que a equipe técnica estima um período de adequação de 15 a 20 dias até que a medida seja colocada em prática. Além disso, a SFA dependerá da informação do governo paraguaio sobre o local em que os animais ficarão em quarentena no país vizinho. “Como tem uma série de requisitos, prevemos que a medida deve ser operacionalizada no início de agosto”, afirmou o superintendente. A entrada dos animais se daria por Ponta Porã e Mundo Novo.

Em Mato Grosso do Sul a maior resistência está entre os criadores, que temem um baque na arroba, já defasada, devido aos preços no Paraguai serem tradicionalmente mais baixos os brasileiros. Felício acredita que a chiadeira deva ocorrer, mas observou que são tratados internacionais de mercado, do Mercosul e OMC, portanto, não haverá medidas locais que suplantem a determinação de liberação da entrada dos animais e da carne com osso.

A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) deve pedir ao Mapa que reveja a decisão de liberar a entrada de animais paraguaios. A informação é do presidente da Famasul (Federação da Agricultura de Mato Grosso do Sul), Leôncio de Souza Brito.

Segundo ele, o produtor deve ser bastante prejudicado com a medida, considerando que os custos de produção no país vizinho são cerca de 50% mais baixos. Sem contar com a carga tributária, que é recordista no território brasileiro. “Vai prejudicar muito produtor rural de Mato Grosso do Sul, que tem investido há 50 ou 60 anos em genética, em um momento crítico para o setor. Infelizmente o Mapa faz com a pecuária de Mato Grosso do Sul o que fez com o arroz no Rio Grande do Sul”, comparou.

Para ele a competição com os criadores do lado paraguaio, muitos deles de nacionalidade brasileira, é desleal. “E essa carne com osso vai trafegar em estradas onde o produtor paga tributos (referindo-se ao Fundersul), vai tirar mão-de-obra do campo porque o produtor está com grave perda de renda”, destacou, lembrando que o Estado responde por cerca de 50% de toda a carne que sai do Brasil. “Se o governo quer fazer gentileza com os países vizinhos, que dê compensação para nos colocar em igualdade de condições”, defendeu Brito.

Para o presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Laucídio Coelho Neto, a liberação da entrada de gado paraguaio vai esticar a crise da agropecuária. Segundo ele, Mato Grosso do Sul já enfrenta problemas com o excesso de oferta de gado e os pecuaristas estavam tentando adiar a medida para evitar prejuízos.

Ele afirmou que os produtores não são contra a entrada do gado paraguaio, mas reclamam sobre o momento da decisão. “Estamos no suspiro da safra, a decisão vai alongar por um tempo o preço baixo do gado”, reclamou, dizendo que os pecuaristas terão que absorver o gado vizinho.

Fonte: Campo Grande News (por Fernanda Mathias e Aline Rocha), adaptado por Equipe BeefPoint

0 Comments

  1. Jose Flavio Figueira disse:

    Muito boas as considerações sobre a inconveniência dessa importação.

    Consideramos lamentável essa decisão de importação de gado do Paraguai. Além dos problemas que vão criar no mercado por conta do menor custo de produção e menor preço lá, e derrubar ainda mais ou manter abaixo do justo o preço aqui, corremos um sério e desnecessário risco de receber junto à aftosa – não controlada lá, e que pode assustar paises a quem exportamos, e colocar em risco nossas exportações, provocando o apocalipse por aqui.

    Enquanto outros países subsidiam sua produção rural, ou ao menos criam dificuldades das mais variadas, especialmente sanitárias, para inibir ou conter as importações, parece que aqui no Brasil nossos mandatários não têm uma visão estratégica para preservar os interesses dos brasileiros.

    Será que querem fazer graça com os vizinhos, não se importando com as consequências aqui dentro?

    Assim se têm observado com certas comodities, provavelmente para conter os preços dos básicos, e passar a ilusão de que a inflação está sob controle.

    Vejam quanto o aço tem subido (veja arame liso).

    Toda ação produz uma reação.

    Abrir a porteira ao gado paraguaio é altamente prejudicial agora e depois. E o que o Brasil ganha com isso?

    José Flávio Figueira
    Votuporanga/SP